A utilização de silagens de cana-de-açúcar é uma opção para alimentação de ruminantes. Porém, além dos aspectos nutricionais intrínsecos a cana-de-açúcar, durante o processo de conservação, há produção de substâncias que podem interferir no consumo dos animais. De acordo com Charmley (2001), de maneira geral o consumo de silagens é menor do que o da forragem original que não sofreu processo de fermentação.
A utilização de silagens de cana-de-açúcar é uma opção para alimentação de ruminantes. Porém, além dos aspectos nutricionais intrínsecos a cana-de-açúcar, durante o processo de conservação, há produção de substâncias que podem interferir no consumo dos animais. De acordo com Charmley (2001), de maneira geral o consumo de silagens é menor do que o da forragem original que não sofreu processo de fermentação.
Segundo Van Soest (1994) o baixo consumo de silagens pode estar associado à alta concentração de ácidos orgânicos nas silagens, a diminuição na concentração de carboidratos solúveis, prejudicando o crescimento dos microrganismos ruminais, e à presença de substâncias tóxicas. Por outro lado, Schmidt (2006) comentou que os produtos gerados durante a fermentação de silagens de cana-de-açúcar, como o ácido acético e o etanol, apresentam importância metabólica para o animal, como fontes de energia prontamente disponíveis.
Ainda são poucos os trabalhos encontrados na literatura que avaliaram o desempenho de animais alimentados com cana-de-açúcar in natura ou ensilada. Silagens de cana-de-açúcar sem aditivos controladores da população de leveduras podem ser possuidoras de altas concentrações de etanol decorrente da fermentação alcoólica, causando rejeição do alimento pelo animal, assim como perda do valor nutritivo (Nussio e Schmidt, 2005).
De acordo com Alcântara et al. (1989) silagens de cana-de-açúcar tratadas com aditivos apresentaram teor de etanol 6,6 vezes menor em relação às silagens não tratadas, sendo que cordeiros alimentados com as silagens não tratadas, apresentaram redução de 34% no consumo de matéria seca em relação a silagem tratada.
Mendes (2006) utilizou cordeiros da raça Santa Inês alimentados com rações contendo cana-de-açúcar in natura ou ensilada, e não verificou diferença no consumo de matéria seca e ganho de peso dos animais. Da mesma forma, o mesmo autor verificou que para cabras em lactação, a silagem de cana-de-açúcar proporcionou produção leiteira similar em relação aos animais alimentados com cana-de-açúcar in natura, porém apresentou maiores teores de gordura e sólidos totais no leite.
Amaral et al. (2007) trabalharam com silagens de cana-de-açúcar tratadas com cal virgem ou calcário calcítico no momento da ensilagem, e compararam o uso das silagens de cana em relação a cana-de-açúcar in natura sobre o comportamento ingestivo de ovelhas em lactação. Os dados de consumo de matéria seca, de FDN e atividades de ingestão, ruminação, mastigação e ócio referentes ao comportamento ingestivo dos animais estão apresentados na Tabela 1. Os autores não verificaram diferença no consumo de MS, FDN e no comportamento ingestivo.
Tabela 1. Comportamento ingestivo de ovelhas Santa Inês em lactação alimentadas com rações contendo cana-de-açúcar in natura e ensilada.
2EPM: erro padrão da média;
3P: probabilidade de haver efeito significativo entre tratamentos;
3MS: matéria seca;
3FDN: fibra insolúvel em detergente neutro.
Mendes (2006) e Gentil (2006), ambos avaliaram cabras alimentadas com rações contendo cana-de-açúcar in natura e silagens de cana-de-açúcar, e não observaram rejeição das rações que continham os volumosos conservados. Por outro lado, Schmidt et al. (2004), ao avaliarem o comportamento ingestivo de bovinos alimentados com silagens de cana-de-açúcar tratada com aditivo microbiano heterolático, observaram maior demanda de tempo para a silagem controle na atividade de ingestão. Os autores atribuíram este fato à presença de compostos voláteis, como o etanol, e do menor valor nutritivo dessa silagem.
Sobre o uso de silagem de cana-de-açúcar para ruminantes, deve-se ter em mente que para sua produção, o ideal é lançar mão do uso de aditivo para o controle da fermentação indesejável. Geralmente, o consumo de silagem frente a forragem que não sofreu processo de fermentação é ligeiramente menor, em função da acidez que a silagem poderá apresentar. Entretanto, observa-se que com a adaptação dos animais o nível de consumo se equilibra frente à forrageira fresca.
Também é necessário lembrar, que a ensilagem é uma estratégia logística dentro da propriedade. Caso haja necessidade de ensilar, o produtor não necessita temer em relação ao consumo dos animais, pois alguns trabalhos demonstram que apesar da redução do consumo, alguns ácidos orgânicos produzidos na ensilagem tornam-se benéficos aos animais, como por exemplo, auxiliam para o aumento no teor de gordura no leite.