Com grande frequência, nos deparamos com situações desfavoráveis na produção de silagem de milho, devido à antecipação do momento ideal para a colheita, quando a planta ainda não apresenta teor de matéria seca desejado (inferior a 30%) e o grão não acumulou quantidade suficiente (próxima da máxima) de amido. Esses dois fatores (matéria seca e amido) são essenciais para o sucesso de uma silagem de alta qualidade.
O ponto ideal de colheita da planta de milho para a produção de silagem parece ser um assunto já muito discutido entre produtores e técnicos, de modo que não são necessárias novas abordagens sobre o tema, pois existe um consenso geral entre todos sobre os critérios que devem ser tomados sobre a maturidade fisiológica da planta (enchimento dos grãos).
Entretanto, com grande frequência, nos deparamos com situações desfavoráveis na produção de silagem de milho, devido à antecipação do momento ideal para a colheita, quando a planta ainda não apresenta teor de matéria seca desejado (inferior a 30%) e o grão não acumulou quantidade suficiente (próxima da máxima) de amido, conforme discutimos nessa seção no artigo “Causa-lhes espanto falar de ponto de colheita na produção de silagem de milho?”
Esses dois fatores (matéria seca e amido) são essenciais para o sucesso de uma silagem de alta qualidade. A matéria seca define o grupo de microrganismos que poderão se desenvolver durante o processo fermentativo, e quando ela é baixa, bactérias indesejáveis dominam o processo, elevando as perdas durante a estocagem. O amido é o principal carboidrato presente nesta espécie, portanto o que define a concentração energética do alimento.
Se colher a planta precocemente é um fato desvantajoso, atrasar a colheita também não é o ideal no nosso país, pois os nossos híbridos possuem o grão do tipo duro. Híbridos dessa classe apresentam o endosperma vítreo, o que reduz o aproveitamento do amido no ambiente ruminal quanto maior for a maturidade do grão.
Contudo, nas demais regiões produtoras de milho no mundo, os híbridos apresentam o grão dentado (macio), ou seja, o endosperma é mole e poroso apresentando menor densidade e, consequentemente menor vitreosidade. Estes híbridos chegaram no Brasil há alguns anos e, de forma tímida, vêm ocupando espaço no mercado de sementes de milho para a produção de silagem.
Em híbridos de grão dentado, a matriz protéica limita menos o acesso das enzimas microbianas na digestão do amido, o que eleva a degradabilidade deste carboidrato em ruminantes. Além desta grande vantagem, ao colhermos tardiamente este tipo de híbrido a digestibilidade do amido não é prejudicada como ocorre com os híbridos de grão duro, conforme mostra o interessante trabalho de Pereira et al. (2004). Os autores colheram hídridos de grão duro e macio em três estágios de maturidade: início do enchimento dos grãos (leitoso), metade da linha do leite (farináceo) e grãos complemente maduros (maturidade fisiológica).
Observa-se na figura 1 que a utilização de híbridos dentados, comparativamente a híbridos duros, resulta em menor queda relativa na digestão ruminal do amido em situações de colheita tardia dos grãos. Isto significa que se por algum motivo, de ordem operacional dentro da propriedade agrícola, a colheita atrasar (fato comum), a qualidade da silagem não seria prejudicada devido ao uso de plantas com o grão macio.
Figura 1 – Degradação ruminal do amido em híbridos de grão duro ou macio em três estágios de maturidade. Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2004).
Por exemplo: quando os grãos atingem o estágio leitoso, em média, a planta sofre aumento de 0,5% por dia no seu teor de matéria seca, determinando um intervalo de 10 dias, como período adequado para a janela de corte, isto é, ela passaria de 30 para 35% de MS (período ideal). Como na região sudeste, em 40% do período descrito como ideal para a colheita, ocorre chuva, desse modo somente seis dias seriam úteis para o corte, o que é considerado pouco. Caso a fazenda esteja utilizando híbridos dentados não haveria problema em retardar em alguns dias esta colheita (aumento da janela de corte), haja vista que não ocorre decréscimo no aproveitamento do amido.
Em outro estudo, realizado por Corrêa et al. (2003), percebe-se que o desempenho de vacas leiteiras alimentadas com milho dentado ensilado em estádio de maturidade fisiológica (tardiamente) foi similar ao de vacas alimentadas com milho duro ensilado no estádio “metade da linha do leite” (ideal).
Nós, “os silageiros”, precisamos compreender que os carboidratos possuem importância quantitativa na dieta de ruminantes (~70%), o que confere alto impacto sobre a economicidade do sistema. O aumento na concentração de amido e na sua degradação em silagem de milho reduz significativamente o custo da mesma e, diminui a aquisição de nutrientes energéticos na forma de concentrado para o balanceamento da dieta.
Como os animais estão se tornando cada vez mais produtivos, devido ao melhoramento genético e práticas de manejo adequadas, a necessidade de se elevar a concentração energética da ração passa ser essencial dentro do sistema de produção e para isso necessitamos de amido na ração.
Para finalizarmos, gostaríamos de ressaltar que uma das deficiências em silagem de milho no Brasil parece ser a baixa digestibilidade do amido no rúmen, resultado da dureza excessiva dos grãos. Um caminho para melhorar a qualidade das silagens desta espécie no nosso país seria o plantio de híbridos dentados que estão disponíveis comercialmente. A força do mercado fará com que a indústria sementeira passe a considerar o pecuarista em seus programas de melhoramento.
Ainda, ressaltamos que este artigo vem novamente discutir os aspectos do ponto ideal para colheita com o intuito de esclarecer técnicos e produtores que a escolha do híbrido e a maturidade fisiológica da planta são pontos chaves no sucesso da produção de silagem de milho e que se esses fatores forem respeitados a produção de amido poderá ser maximizada, assim como o desempenho animal.
Bibliografia Consultada
CORRÊA, C.E.S., PEREIRA, M.N., OLIVEIRA, S.G., RAMOS, M.H. Performance of holstein cows fed sugarcane or corn silages of different grain textures. Scientia Agricola, v. 60, p. 621-629, 2003.
PEREIRA, M.N., VON PINHO, R.G., BRUNO, R.G.S., CALESTINE, G.A. Ruminal degradability of hard or soft texture corn grain at three maturity stages. Scientia Agricola, v. 61, p. 358-363, 2004.
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Gostaria de saber, ao fazer a silagem, pode misturar cana, milho, napie, sorgo, ou seja misturar tudo junto e fazer a silagem de superficie?
Obrigado
Prezado Leonardo Penzo,
Não recomendamos misturar diversos volumosos para confecção de silagem, principalmente quando se trata de silagem de milho. As outras forrageiras citadas por você apresentam valor nutrtivo inferior ao milho. Dessa forma, recomendamos que faça silos diferentes, para os volumosos.
Atenciosamente
Rafael e Thiago
Boa noite
Colhendo o milho para silagem com 50% linha do leite, para uso em confinamento de bovinos devo utilizar preferencialmente híbridos duros ou dentados?
Obrigado