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Silagem pré-secada – Parte 2 / 2

Processo de Produção (continuação)

A técnica do emurchecimento ou pré-secagem possibilita a ensilagem de plantas forrageiras com baixo teor de matéria seca, num processo razoavelmente simples onde fermentações indesejáveis são controladas através da diminuição da atividade de água ou elevação da pressão osmótica (McDonald citado por MONTEIRO, 1999). Tradicionalmente, o milho e o sorgo eram as únicas plantas a serem ensiladas devido ao seu adequado teor de açúcares solúveis e disponibilidade de equipamentos para colheita. Porém, hoje, também têm sido utilizadas para silagem pré-secada: azevém, triticale, aveia, centeio, cevada, alfafa, gramíneas do gênero Cynodon, tais como: “coast-cross” e “tiftons” e dos gêneros Panicum (“colonião”) e Pennisetum (“Capim elefante”).

Uma vez determinado o momento para colheita, o corte das plantas não deve ser feito muito rente ao solo, preferencialmente a 15 cm do solo, evitando-se impurezas (folhas e hastes mortas, solo) no material ensilado. Regulagem e manutenção das segadoras, além da obtenção de uma velocidade adequada são fatores importantes para a qualidade final do produto. Algumas propriedades utilizam segadoras condicionadoras autopropelidas (Figura 2) ou não (Figura 1), que permitem uma secagem muito mais uniforme e rápida ao esmagar as hastes durante o corte, conforme informações apresentadas na Figura 1.

Figura 1 – Segadora condicionadora trabalhando ou em detalhes,
além gráfico ilustrando a maior velocidade de desidratação da forragem colhida.
Fonte: Catálogo Jumil / Kuhn

Figura 2 – Segadora condicionadora cortando Tifton 85
(Fazenda Aterrado – Guaíra – SP)

Durante o processo de secagem, normalmente restrito a 4 até 6 horas, utiliza-se ancinhos para movimentação da massa e uma secagem mais rápida e uniforme (Figura 3). Como o processo é mais rápido e o recolhimento realizado ainda com uma umidade elevada (55 a 45%), as perdas físicas são minimizadas. O tempo de secagem é variável e totalmente dependente das condições climáticas da região, principalmente radiação solar, velocidade do vento, umidade relativa do ar e temperatura. Quanto mais rápido o processo de secagem, menores serão as perdas também por respiração da planta, proteólise e degradação por microrganismos aeróbios (bactérias, fungos e leveduras). O teor de matéria seca deve ser determinado através de um forno próprio para esta análise, ou através de equipamentos de microondas.

Figura 3 – Ancinho (Fonte: Catálogo Nogueira)

Após a secagem, o enleiramento é outra etapa importante do processo. O material é recolhido em leiras, levando-se em conta que, a partir da uniformidade destas, as máquinas recolhedoras poderão trabalhar com muito mais eficiência (Figura 4). A recolhedora utilizada pode não só recolher a forragem, como repicá-la em tamanho de partículas próximo de 8 cm e enfardá-la em fardos retangulares de 1,40x 1,20x 1,40 m, pesando aproximadamente 750 a 800 kg. Essa repicagem favorece o uso deste produto em propriedades que utilizem o sistema de dieta total.

Figura 4 – Equipamento para recolhimento, repicagem e enfardamento de forragem.
(Fazenda Aterrado – Guaíra – SP)

Após o material ser enfardado, da mesma forma que fazemos para produzirmos fardos de feno redondos ou cilíndricos (Figura 5), precisamos envolvê-lo com um filme plástico para que a condição interna do fardo seja de anaerobiose (ausência de oxigênio) e, portanto, haja uma fermentação similar à encontrada nos silos quando produzimos silagens convencionais de capins, milho, sorgo ou girassol. No entanto, em silagens convencionais o teor de matéria seca ideal está entre 30 a 35%, abaixo dos valores normalmente encontrados em materiais pré-secados, próximo de 50%. Tanto o filme plástico quanto as amarras são materiais recicláveis, porém de alto custo. A picagem do material, o enchimento rápido, a compactação apropriada e a vedação são práticas de manejo que asseguram a rápida remoção do oxigênio do silo. No caso do pré-secado, ao invés dos silos, utilizam-se fardos.

Não tem sido utilizado nenhum aditivo no processo e a qualidade final tem sido satisfatória. Segundo VILELA (1998), o emurchecimento tem-se mostrado um dos métodos mais eficientes tecnica e economicamente, na elevação do teor de matéria seca, ficando sua prática limitada à disponibilidade de máquinas e às condições climáticas favoráveis. Apesar de ser considerado excelente alimento para o rebanho, a silagem pré-secada pode resultar em elevado custo quando o pecuarista decide adquirir todos os equipamentos necessários para a sua produção, tais como: segadora (condicionadora), ancinho espalhador e enleirador e recolhedora (repicadora e enfardadora), mais os tratores para tracionarem estes implementos quando não autopropelidos. É por esse motivo que na região de Castro, 80% da silagem pré-secada produzida tem sido feita a partir da terceirização dos equipamentos.

Figura 5 – Equipamento para embalar os fardos com o filme plástico.
(Fonte: Catálogo Agroforn))

Comentário do autor: Temos comentado sobre profissionalismo na produção de alimentos volumosos, e algumas fazendas podem ser consideradas empresas agrícolas especializadas na produção de feno e pré-secado. Devido à grande fração do custo de produção da silagem pré-secada estar ligada aos equipamentos necessários, a terceirização do processo como um todo ou apenas dos serviços de corte e embalagem ou ensilagem convencional podem ser a única saída para manutenção da qualidade do produto final e de custos compatíveis com a produção de leite, carne ou uso em eqüinocultura. Torna-se adequado relembrar as considerações feitas em artigo sobre aditivos (Aditivos microbiológicos: considerações sobre seu uso em silagens – Parte ½), onde frisávamos alguns pontos críticos da pecuária em geral, tais como: falta de administração, de aplicação de tecnologia, de cooperativismo / associativismo, de recuperação e preservação ambiental, de uma política agrícola e da qualidade final dos produtos. A viabilidade da técnica acima mencionada depende bastante da solução de muitos dos itens acima citados.

Fontes:

MONTEIRO, A. L. G. Silagem Pré-secada. In: Simpósio sobre Nutrição de Bovinos, 7 (1999) Piracicaba). Anais: Alimentação Suplementar / Editado por Aristeu Mendes Peixoto… [et al.] – Piracicab: FEALQ. 1999. p. 97-122.

VILELA, D. Aditivos para silagem de plantas de clima tropical. In: Reunião Anual DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu. Anais dos simpósios… Botucatu: SBZ, 1998. p. 73-111.

TOLEDO, P. Feno Água Comprida. Comunicação Pessoal, 2002.

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