Além de investigações relacionadas ao processo fermentativo de silagens de cana-de-açúcar, a comunidade científica demanda explanações referentes ao momento da exposição da silagem ao oxigênio no painel do silo, após a abertura, bem como no cocho durante o fornecimento das rações aos animais. Dessa forma, novamente visam-se tentativas de melhoria no valor nutritivo de silagens, na busca da inibição de microrganismos, agora aeróbios, em um processo caracterizado pela deterioração aeróbia da massa ensilada.
Além de investigações relacionadas ao processo fermentativo de silagens de cana-de-açúcar, a comunidade científica demanda explanações referentes ao momento da exposição da silagem ao oxigênio no painel do silo, após a abertura, bem como no cocho durante o fornecimento das rações aos animais. Dessa forma, novamente visam-se tentativas de melhoria no valor nutritivo de silagens, na busca da inibição de microrganismos, agora aeróbios, em um processo caracterizado pela deterioração aeróbia da massa ensilada.
Segundo Kung et al. (2003), o perfil de fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a abertura dos silos, sendo que em alguns casos pode aumentá-las. Silagens caracterizadas por alta concentração e a predominância de ácido lático, bem como presença de açúcares remanescentes, são mais afetadas pela deterioração aeróbia (Weinberg e Muck, 1996). Driehuis et al. (1999) ressaltaram que o processo de deterioração aeróbia se inicia pelo desenvolvimento de leveduras ácido tolerantes.
Os fungos, as leveduras e algumas espécies de bactérias promovem a assimilação aeróbia de ácido lático da silagem, o qual é degradado em dióxido de carbono e água, resultando em excessiva perda de calor e perdas de nutrientes (Pahlow et al., 2003). Além disso, McDonald et al. (1991) descreveram que a degradação desse ácido se torna benéfica para a elevação do pH da silagem, permitindo o crescimento de microrganismos oportunísticos como bactérias e mofos. Além de representar perdas de nutrientes, a silagem deteriorada pode provocar redução no consumo e decréscimo de desempenho animal (Whitlock et aI., 2000).
Dessa forma, diversos trabalhos passaram a explorar o efeito de aditivos na estabilidade aeróbia de silagens de cana-de-açúcar. Pedroso (2003) verificou aumento na estabilidade aeróbia da silagem de cana tratada com Lactobacillus buchneri e benzoato de sódio e observou que silagens tratadas com doses baixas de hidróxido de sódio apresentaram estabilidade 85% maior que das silagens controle, se mantendo estáveis durante o período de cinco dias de exposição aeróbia.
Balieiro Neto et al. (2005) trabalhando com silagens de cana-de-açúcar tratadas com doses crescentes de óxido de cálcio, verificaram manutenção da temperatura e do pH, bem como, aumento da estabilidade aeróbia e da recuperação de matéria seca durante o período de exposição aeróbia das silagens. Ainda, Balieiro Neto et al. (2007) concluíram que o tratamento de silagens de cana-de-açúcar com óxido de cálcio proporcionou durante a estabilidade aeróbia alimento com maior estabilidade da composição química e maior valor nutritivo.
Após a abertura dos silos ou a exposição de alimento úmido aos efeitos do oxigênio presente no ambiente, se estabelece um quadro de alterações microbiológicas e químicas, no qual bactérias aeróbias, fungos filamentosos e leveduras oxidam componentes solúveis e produtos da fermentação da silagem, substâncias geralmente encontradas em concentrações elevadas na cana-de-açúcar in natura e em sua silagem, respectivamente. Assim, de acordo com Santos (2007) é verificado que a atividade microbiana resulta em aumento nos valores de pH, aquecimento da massa de forragem, alterações no valor nutritivo e perdas de matéria seca durante o período pós-abertura.
Durante o período de exposição aeróbia da massa de forragem, o monitoramento da temperatura permite, de forma indireta, avaliar a intensidade do desenvolvimento de microrganismos espoliadores. Na Figura 1 são apresentados os valores de temperatura, calculados pela diferença entre a temperatura da massa de forragem com a temperatura ambiente e, o momento em que esses volumosos ultrapassaram 2 °C acima da temperatura ambiente, caracterizado como momento de quebra de estabilidade aeróbia, da cana-de-açúcar in natura e silagens de cana tratadas com 1% de cal virgem e 1% de calcário (Amaral, 2007).
Com a mensuração da temperatura em menor espaço de tempo (intervalos de uma hora), pode-se observar que para todos os tratamentos houve picos de temperatura, pelo menos em dois momentos (Figura 1). Possivelmente, esta ocorrência pode ser associada ao desenvolvimento de diferentes grupos de microrganismos deterioradores, pois segundo Yamashita et al. (1975) citado por McDonald et al. (1991), a deterioração da massa de forragem está associada a picos termais, sendo que, com dois a três dias de exposição aeróbia, pode ocorrer o primeiro pico, sendo este atribuído às leveduras, enquanto que de três a quatro dias mais tarde ocorre o segundo pico termal, sendo este atribuído aos fungos filamentosos.
Entre os volumosos, pode-se observar que a cana-de-açúcar in natura teve sua quebra de estabilidade antecipada frente às silagens, ao passo que a silagem tratada com 1% de cal virgem teve sua quebra de estabilidade mais tardia. A quebra de estabilidade antecipada da cana-de-açúcar in natura era esperada, visto a superioridade de carboidratos solúveis presente na forragem frente às silagens, o que provavelmente possibilitou maior intensidade e em menor tempo, a atividade de leveduras e fungos filamentosos.
O motivo para a silagem tratada com 1% de cal virgem ter apresentado maior estabilidade aeróbia, pode estar relacionado ao seu padrão fermentativo, visto a maior presença nestas de ácidos orgânicos fracos (p. ex. ácido acético e butírico), o que possibilitou o controle da deterioração aeróbia.
As perdas de matéria seca durante os cinco primeiros dias de exposição aeróbia da cana-de-açúcar in natura e das silagens são apresentados na Figura 2. Verificou-se que durante este período, a silagem tratada com 1% de cal virgem apresentou menores perdas de matéria seca. Possivelmente, os efeitos do período fermentativo nesta silagem, como alta concentração de ácidos orgânicos e a efetividade do aditivo em manter o pH constante ao longo do tempo de exposição aeróbia, atuaram de forma à inibir o desenvolvimento de microrganismos aeróbios, traduzindo em menores perdas de matéria seca.
Apesar de a silagem de cana-de-açúcar ter apresentado menores perdas em relação à cana-de-açúcar in natura, sempre é bom lembrar que durante o processo de conservação esta forrageira apresenta perdas elevadas, e que a utilização de um aditivo na ensilagem, seja ele químico ou microbiano, é recomendado.