Por José Francisco Feital Silva1
Singularidades (particular, individual, diferente, distinto…)
“Existe uma ecologia das idéias danosas, assim como existe uma ecologia das ervas daninhas”, Gregory Bateson2
Com intuito de dar continuidade o que é análise institucional, explicar o ´olhar que estranha´, estou abordando 2 temas da ´moda´ (responsabilidade social/preservação ambiental), logo, logo serão desgastados pela mídia, porque hoje, qualquer um (indivíduo ou empresa), para ser considerado ´politicamente correto´ -“deve incluir em seu ´site´, ou em suas propagandas institucionais tal posicionamento”.
A Terra vive um período de intensas transformações técnico-científicas, com contraponto de fenômenos de desequilíbrios ecológicos, que, se não forem contornados, no limite, ameaçam a implantação da vida em sua superfície.
Paralelamente a tais pertubações, os modos de vida humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma progressiva deteriorização. As redes de parentesco tendem a se reduzir ao mínimo, a vida doméstica vem sendo gangrenada pelo consumo da mídia, a vida conjugal e familiar se encontra frequentemente “ossificada” por uma espécie de padronização dos comportamentos, as relações de vizinhança estão geralmente reduzidas a sua mais pobre expressão… Como se falar em associativismo em qualquer versão, diante de tais evidências???.
É a relação da subjetividade com sua exterioridade – seja ela social, animal, vegetal, cósmica – que se encontra assim comprometida numa espécie de movimento geral de implosão e infantilização regressiva.
Félix Guatari, filósofo, pensador francês, multiface e polêmico que passeia(ou) nos movimentos sociais, criou a análise institucional.
Guatari acredita que só uma articulação ético-política, que ele chama de ecosofia – que é a articulação entre os três registros ecológicos (o do meio-ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana), que poderemos esclarecer tais questões.
Guatari acredita: – “Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais”.
Falar-se de responsabilidade social, não passa de engodo aos desavisados, ingênuos e crédulos, que ignoram a forma e finalidade do trabalho social, que ´formatado´ não passa de um controle unívoco forjado dentro de uma ´economia de lucro´ e por relações de poder que só levaram (levam) a grandes impasses. Não sou contra o lucro, não comungo com os sentimentos de culpa por ganhar dinheiro, mas sejamos pragmáticos: ainda impera a “mais valia” do antigo marxismo… – não existe ninguém bonzinho!
Por outro lado, é concebível (por alguns), que a progressão das técnicas agro-alimentares acabem por permitir a modificação dos dados teóricos da fome no mundo?
Mas, insisto com ´olhar que estranha´: sem novas formas de relações, sem fortalecer o grupo com as suas ´delicadas diferenças´, duvido que a ´progressão técnica´ resolva o problema.
Em minhas andanças em contato com os ´operadores´ do sistema agrário (veterinários, zootecnistas, agronômos, técnicos e ´players´ do mercado), constatei a verdadeira ansiedade ao tentarem resolver ´problemas´ onde suas técnicas não dão conta, (aí , entra o território da multidisciplinaridade). Com certeza sofrem com isso! Eu chamo da Síndrome do Pato – (que anda, voa, nada e canta – sem contudo, fazer bem os seus movimentos).
Nesses momentos de crise em que se ´abrem janelas´ para o pensamento, um novo olhar se faz necessário: aproveitar a brecha e permitir processos de ´heterogênese´ (processos de gerações espontâneas), trabalhando-se na reconstrução das relações humanas em todos os níveis do ´socius´. Nesta mesma perspectiva, dever-se-á considerar os sintomas e incidentes fora das normas (“ser pôr a ser”) como índice de um trabalho potencial de ´subjetivação´ (apreender isto, é: – o olhar que estranha).
Não sou tão ingênuo ou utópico para pretender que exista uma metodologia analítica segura que erradicasse em profundidade todos os problemas, mas acredito que a reconstrução passa menos por reformas de cúpula, leis, decretos ou programas burocráticos, do que pela promoção de práticas inovadoras, pela disseminação de experiências alternativas, centradas no respeito à singularidade e no trabalho permanente de produção de subjetividade, que vai adquirindo autonomia e ao mesmo tempo se articulando ao social seja na constituição de grupos-sujeitos3 auto-referentes se abrindo amplamente ao socius e ao cosmo.
Ao escrever este artigo não tive medo, de falar para uma audiência de um ´site´ do Agri-business, pois, enganam-se aqueles que pensam que no nosso setor primário não tenhamos grandes pensadores com suficiente preparo para refletir, implementar e achar novos vieses para os negócios no campo.
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1José Francisco Feital Silva, Economista, CORECON/RJ, Psicólogo, Psicanalista, Pós Graduado em Psicanálise, Mestre em Psicologia Social pela UERJ, MBA pela FGV/RJ em E-Business. Criador de Ovinos em Petrópolis, RJ.
2Vers l´ecologie de l´esprit, Tomo II, Paris, Le Seuil, 1980.
3Para se entender o sentido do termo uso um exemplo de Guatari, Les trois écologies, Editions Galilée, 1989. “A capacidade de sair de si mesmo para constituir cadeias discursivas… Por exemplo, um aluno pianista com relação ao seu mestre com uma transferência de estilo, suscetível de bifurcar numa via singular”.