Depois de quase quatro meses de mercado firme, em plena safra, a cotação da arroba do boi gordo caiu. Imediatamente começou a circular toda uma série de análises predizendo o pior para o mercado pecuário. É a sinistrose crônica que aflige os analistas brasileiros.
Exportação
A valorização do real frente ao dólar, se por um lado diminui a margem de lucro dos frigoríficos exportadores, melhora o poder aquisitivo internamente. Isso é bom, uma vez que o mercado interno responde pelo consumo de 87,5% da produção brasileira de carne bovina, cuja produção está estimada em 7,150 mil toneladas em equivalente carcaça.
Pode ser que o lucro dos exportadores tenha diminuído, mas não extinto. A situação, apesar da valorização do real, ainda é favorável aos exportadores.
A exportação de carne bovina tem apresentado volume e faturamento crescente desde 1997. Um desempenho positivo que já dura sete anos.
No ano passado assistimos a duas tentativas frustradas de derrubar o preço do boi gordo e, as duas não duraram mais do que quinze dias, por absoluta falta de sustentação real.
Agora assistimos a movimento semelhante. Os preços vão cair, como caíram, mas ao que tudo indica já atingiram o patamar de resistência.
A partir daí, é só uma questão de tempo para a reação. É claro que isso vai depender da vontade do produtor comercializar ou não, a sua produção.
Vejam só. Nesta mesma época do ano, em 1999 a arroba do boi gordo valia US$17,00, em 2000 e 2001 valia US$19,00. Em 2002, valia US$17,30 e, atualmente flutua ao redor de US$17,50.
Cotação da arroba do boi gordo
Portanto, não existe motivo para pânico. A queda a que assistimos está ligada ao jogo de informações desencontradas. Normal no mercado e nesta época do ano, próxima ao final das chuvas.
Nos últimos cinco dias a arroba do boi gordo caiu 5,4% por conta de especulações quanto ao clima, desova de animais, política cambial, geadas, e tudo o mais que pode ser usado como justificativa para deprimir preços.
Expectativa
Em que pese a guerra EUA x Iraque como motivadora de compra de carne bovina no mercado internacional e que em função do fim do conflito possa haver um ajuste nos volumes embarcados.
A expectativa para este ano, assim como para todo o agronegócio brasileiro é de aumento do volume exportado. Acredita-se que em 2003 o Brasil exporte 1.149 mil toneladas em equivalente carcaça de carne bovina, outro recorde.
O bom desempenho das lavouras de soja, milho e cana de açúcar têm estimulado a ocupação de pastagens com essas culturas, diminuindo a disponibilidade a área destinada à pecuária de corte. Menos pasto, menos boi.
O preço dos insumos estão caindo, por conta das colheita e do mercado internacional, favorecendo os produtores tecnificados. Esse mesmo movimento deve influir nos preços dos sais proteinados e rações, cujos custos estão diretamente ligados ao preço dos farelos e dos grãos.
E nem falamos no Fome Zero, que de alguma forma deverá incrementar o consumo de alimentos.
Basta o produtor fazer o mesmo que fez ano passado e dosar a oferta de mercadoria ao longo do ano que os preços serão compensadores. Para quem vende e para quem compra.
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Em linhas gerais, concordo plenamente com a serena análise do autor.
Principalmente com a dicotomia brasileira que costuma alternar euforia e depressão sem motivos reais.
Atenciosamente,
Eu gostaria de lembrar que um grande amplificador destes direcionamentos antagônicos do mercado é a própria imprensa especializada.
Este mercado de venda de informação , que cresceu uma enormidade nestes últimos anos, disputa palmo a palmo o consumidor de informação em busca de espaço cada vez maior e são os grandes amplificadores destas sinostroses e euforias dos mercados.
Sempre e bom ver que tem gente que sabe que nem tanto o céu nem tanto a terra.
Um abraço.