Por Fabiana S. Perobelli e Roberto A. Simonsen
Este ano chega ao final. Nesse momento, é importante realizar análise sobre 2003 e quais as expectativas dos agentes para 2004. O leitor poderá notar que as expectativas que se projetam são bem distintas daquelas para 2003.
No final de 2002, o ambiente no Brasil era de incertezas – a taxa de câmbio chegou a R$4,00 por US$1,00. Naquela época, a preocupação dos investidores e agentes era se o recém-eleito presidente Lula manteria a política de combate à inflação que vinha sendo implementada. Com as cotações do dólar naqueles patamares, o Brasil ampliou sua participação no mercado internacional de carnes, o que viabilizou elevação dos preços do boi gordo (ver gráfico da evolução dos preços físicos do boi gordo).
Com esse cenário, as expectativas que se projetavam para 2003 eram de preços de R$54,00/arroba para maio (safra) e R$65,00/arroba para outubro (entressafra), ou seja, diferença de 20% entre a safra e a entressafra.
É importante ter em mente que as expectativas para determinada época no futuro estão baseadas no cenário atual, ou seja, no preço a vista. Assim, se entende o porquê, no final de 2002, de as projeções terem estado naqueles patamares.
Não corroborando as expectativas, este ano apresenta os seguintes preços: R$52,02/arroba, em maio, e R$59,26/arroba, em outubro, com o pico da entressafra ocorrendo em novembro a R$60,34/arroba. Já o percentual de diferença entre maio e outubro acabou sendo 14% – abaixo dos 20% projetados.
Apesar de 2003 se encerrar com recorde de exportações de carne bovina, valor estimado de 1,3 bilhão de toneladas, 25% a mais que em 2002, as exportações representam 17% da produção de carne, ou seja, 83% do consumo de carne estão no mercado interno. Assim, os preços do boi só sustentariam aquelas expectativas, além do desempenho exportador, se houvesse melhora da demanda interna.
Para 2004, as expectativas estão próximas ao que ocorre atualmente com o mercado físico. O Indicador Esalq/BM&F, no dia 17, estava em R$60,06/arroba, e as projeções para maio, em R$57,41/arroba, e para outubro, em R$66,55/arroba, diferencial de 16%.
É importante ter claro que as expectativas mudam diariamente e incorporam as novas informações, por isso, os preços se alteram até se encontrar com o mercado físico na data do vencimento.
Dessa análise, pode-se tirar uma lição: realmente não temos condições de saber antecipadamente o que irá acontecer com os preços do boi gordo. E este é o papel do mercado futuro, proteger os agentes da incerteza futura.
Durante este ano, esse mercado propiciou boas oportunidades tanto para pecuaristas, quanto para frigoríficos. O vencimento maio/03 iniciou o ano cotado a R$53,70/arroba e encerrou a R$51,96/arroba. Caso um pecuarista, no dia 2 de janeiro de 2003, fizesse suas contas e percebesse que era interessante travar sua margem de lucro nesses preços, poderia vender contratos futuros de boi gordo, ficando protegido de qualquer alteração nos preços.
Se o mercado estiver pra cima, ele ganhará no mercado físico, mas sofrerá os ajustes do mercado futuro, já que sua posição é vendida. Se o mercado for para baixo, ele também estará protegido, pois terá prejuízo no mercado físico com a venda de seu rebanho, mas receberá os ajustes diários do mercado futuro até que encerre sua posição.
Para o vencimento outubro/03 – pico da entressafra -, sua cotação, no início do ano, era de R$64,10/arroba, alcançando R$63,70/arroba no dia 8 de setembro, e encerrando, no último dia de outubro, a R$59,78/arroba. Essas oscilações demonstram as oportunidades que o mercado futuro propicia para pecuaristas venderem seu boi em melhores condições e para frigoríficos adquirirem-no em melhores preços. Basta estar com os custos na ponta do lápis e atento para oportunidades. Para outras informações, procure uma corretora associada em www.bmf.com.br.