Por Fabiana Salgueiro Perobelli, BMF
Em julho, o mercado de boi gordo andou de lado, sem apresentar novidades. A movimentação no mercado físico esteve atrelada à desova de lotes, em função do pouco pasto disponível. Esse comportamento gerou declínio e estabilidade dos preços até o dia 13, como pode ser notado no Gráfico 1, que traz a evolução do comportamento do Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F. Após essa data, foi verificada correção dos preços, explicada pela ocorrência de chuvas em algumas praças pecuárias, fato que melhorou as condições de pastagem e fez que o pecuarista segurasse os animais no pasto por mais um período. Em 23 de julho, o Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F fechou em R$60,44/arroba.
Há incerteza no mercado para os próximos meses. A maioria dos analistas trabalha com aumento no número de bois confinados neste ano. As estimativas estão em crescimento da ordem de 15%, que daria um número entre 2,30 e 2,35 milhões de cabeças. Alguns analistas acreditam que o preço do boi gordo poderá apresentar alguma sustentação em agosto, pois os animais de cocho ainda não estariam prontos para suprir a diminuição da oferta dos bois em pasto, e a oferta de animais estaria postergada para o último trimestre de 2004. Por outro lado, alguns observadores acreditam que no final de agosto já haverá desova de animais confinados. Deve-se lembrar que a continuidade das chuvas e do frio pode levar a uma concentração de ofertas e, por conseqüência, à queda dos preços, além do abate de fêmeas, o que já vem ocorrendo em níveis superiores aos históricos.
Na reposição, em São Paulo, no dia 23 de julho, o preço do bezerro de oito meses, a prazo, estava em R$395,00/cabeça e o do boi magro de 360kg, a prazo, em R$700,00/cabeça. O Indicador do Bezerro Esalq/BM&F Mato Grosso do Sul esteve cotado, nessa mesma data, em R$377,90/cabeça a vista. No atacado, os preços da carne se encontraram sustentados. O traseiro foi negociado a R$4,00/quilo e o dianteiro, a R$2,70/ quilo.
Na BM&F, os vencimentos futuros do boi gordo seguiram o comportamento do físico. No Gráfico 2, pode-se observar o comportamento dos vencimentos do último trimestre de 2004. Note que os pecuaristas tiveram, em maio e junho, excelentes oportunidades para fixar preços de venda para a entressafra a valores que remunerassem a atividade, inclusive com preços superiores a R$70,00/arroba.
Como foi possível observar na análise sobre as perspectivas para o mercado de boi gordo, não há consenso no mercado físico sobre o direcionamento dos preços. Essa falta de consenso é comum em qualquer ramo da atividade econômica e pelo fato de os agentes não terem certeza de qual será o direcionamento dos preços do boi, do milho, do câmbio, da taxa de juro, dentre outros, é que eles fazem seguro.
Esse seguro é chamado de hedge, que objetiva garantir antecipadamente aos vendedores preço de venda que remunere sua atividade e aos compradores preço de compra que minimize seu custo de produção. Do lado dos pecuaristas, essa antecipação do preço de venda é mais do que urgente, pois estes já perceberam que, na maior parte das vezes, os aumentos dos custos de produção não são repassados para o preço de venda do boi. Nesse sentido, amplifica-se o risco do produtor, pois não consegue ter refletido os aumentos de custo no preço de venda do boi, como os do aluguel da terra e dos insumos. Dessa forma, fica sujeito a margens reduzidas de lucratividade ou até mesmo negativas.
O preço do boi tem tido como principais fatores determinativos os aspectos relacionados à demanda por carne, interna e externa. É claro que a demanda interna tem peso maior, pelo fato de as exportações representarem em torno de 15% da produção. Esse seguro é feito na BM&F por meio de corretora associada.
A lista das corretoras pode ser obtida no site www.bmf.com.br.
Gráfico 1 – Evolução do indicador do boi gordo ESALQ/BM&F