Por Fabiana Salgueiro Perobelli
O mercado de boi gordo iniciou o ano de 2004 envolvido em expectativas quanto ao comércio internacional de carne bovina, motivadas pelo anúncio de um caso de vaca louca nos Estados Unidos, feito em 24 de dezembro de 2003. A interpretação desse comportamento no mercado futuro de boi gordo da BM&F (vide área destacada no gráfico) foi de alta no instante do anúncio, até que os agentes pudessem analisar as informações com mais clareza.
Como os maiores compradores dos Estados Unidos são Japão e Coréia do Sul, a princípio, a Austrália seria a beneficiária, por estar mais próxima desses países e já ter exportado para estes. O Brasil ainda sofre restrições no mercado internacional pelo fato de ter tido casos de febre aftosa. Dessa forma, os preços se realinharam após a análise das informações e a constatação também de que o caso havia sido isolado, sugerindo que o efeito da vaca louca nos EUA não seria, de forma alguma, idêntico ao ocorrido na Inglaterra, em que houve a eliminação de parte representativa do rebanho.
Assim, as oscilações nos preços futuros refletem as mudanças de expectativas dos agentes, as quais são revisadas a cada informação sobre os aspectos que formam o preço do boi gordo. O Brasil apresentou aumento de 35% nas exportações de carne bovina em 2003 com relação a 2002 e trilha caminho de consolidação como maior exportador mundial. As exportações representam em torno de 15% da produção interna de carne bovina, o que faz que o preço do boi tenha também forte influência da demanda interna.
Do ponto de vista do frigorífico, é preciso atentar para os preços sinalizados pelo mercado futuro e se antecipar, fixando o preço de suas exportações. Destaca-se que o frigorífico, quando fecha exportação, sabe o quanto vai receber em dólares pela carne exportada. No entanto, a exportação só irá ocorrer daqui a dois ou três meses. Ou seja, se for embarcar a carne em março, irá comprar o boi em fevereiro – nesse período, os preços do boi podem subir, e, para não correr esse risco, o frigorífico poderá antecipadamente fixar o preço do boi através da compra de contratos futuros. Além disso, o frigorífico corre outro risco: o da taxa de câmbio se valorizar. Apesar de vender a carne em dólares, ele receberá em reais pela exportação. Tomando como exemplo o preço médio da carne exportada em dezembro (US$1.320/tonelada), considerando taxa de câmbio de R$2,83, o frigorífico auferia receita de R$3.735/tonelada (1.320 x 2,83). Se a taxa de câmbio fosse para R$2,60 na época do embarque, a receita cairia para R$3.432/tonelada (1.320 x 2,60). Para não correr esse risco, o frigorífico poderia vender contratos futuros de dólar, e garantir antecipadamente sua receita.
Com relação ao mercado de reposição, ressalta-se que o pecuarista tem nos contratos futuros de boi gordo e bezerro instrumento importante para realizar a reposição do rebanho. O pecuarista que fizer a reposição em março, por exemplo, terá de vender seus bois para depois comprar os bezerros. A operação da relação de troca normalmente é “descasada”, ou seja, o pecuarista irá vender os bois em fevereiro, e, com o dinheiro, comprar os bezerros em março, quando a comercialização do bezerro estiver intensificada. O risco que ele corre é o de, no momento da venda dos bois, o preço ter caído e, quando da compra dos bezerros, o preço ter se elevado. Assim, o pecuarista poderia fazer essa operação no mercado futuro e obter antecipadamente a relação de troca. No dia 21, o contrato futuro de boi gordo para fevereiro de 2004 estava a R$59,00/ arroba, considerando que um boi tem em média 16,5 arrobas, então o boi estava cotado a R$973,50/cabeça (59*16,5). O contrato futuro de bezerro para março de 2004 estava a R$390,00/cabeça. Tomando o preço do boi e dividindo-o pelo do bezerro (973,50/ 390), tem-se 2,50 cabeças para relação de troca. Assim, o pecuarista poderia ter antecipadamente garantido relação de troca de 2,50 cabeças de uma parte de seu rebanho. No futuro, assim como no físico, a operação ficará “descasada”. Em fevereiro, o pecuarista encerrará sua posição no contrato de boi gordo e ficará comprado no contrato de bezerro até março, com isso, estará protegido com relação a uma alta nos preços do bezerro. No gráfico da relação de troca, esta operação “descasada”, na qual o pecuarista vende o boi para fevereiro de 2003 e compra o bezerro em março de 2004, já esteve em 2,56 cabeças.
Para outras informações sobre como operar os contratos futuros de boi gordo e bezerro e como garantir antecipadamente a relação de troca, procure uma corretora associada à BM&F em www.bmf.com.br