Por Fabiana S. Perobelli1
Os preços do boi no mercado físico mantiveram comportamento de queda iniciado na primeira quinzena de janeiro. Dentre os fatores que contribuíram para esse movimento, estavam a entrada da safra, com o natural aumento da oferta de bois no mercado, e a estiagem nos estados do Sul e no Mato Grosso do Sul, forçando a venda de animais para evitar a perda de peso, o que contribuiu para o aumento da oferta.
Pelo lado da demanda, o início de 2005 seguiu caracterizado pelo baixo consumo de carne no varejo, ocasionado pela redução do poder aquisitivo da população.
Com as escalas dos frigoríficos alongadas, observou-se, no mercado interno, outro fator que contribuiu para a pressão sobre os preços no atacado. No dia 24 de março, o Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F a vista estava em R$56,55/arroba e a prazo, a R$57,70/arroba. No atacado, o traseiro era cotado a R$2,70/kg e o dianteiro, a R$3,80/kg.
Na direção contrária à do mercado interno, as exportações de carne tiveram bom desempenho. Dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostraram que, em fevereiro, as exportações de carne in natura, em valores (US$140,3 milhões) e em volume (62,6 mil toneladas), foram, respectivamente, 22,6% e15,5% maiores do que no mesmo período em 2004.
O mercado futuro de boi gordo seguiu o comportamento do mercado físico e teve trajetória de ligeiro declínio neste início de 2004. Em 24 de março, os preços futuros do boi estavam a: R$56,57/ arroba para mar/05, R$57,00/arroba para abr/05, R$57,60/arroba para mai/05, R$59,60/arroba para jun/05, R$61,66/arroba para jul/05, R$63,25/arroba para ago/05, R$64,60/arroba para set/05, R$65,95/arroba para out/05, R$66,92/arroba para nov/05, e R$66,92/arroba para dez/05. Deve-se destacar a liquidez do contrato de boi gordo – no dia 24 de março, havia 12.491 contratos em aberto, ou o equivalente a 249,8 mil cabeças. Esse número é importante, pois, quanto maior o número de contratos em aberto, mais líquido é o mercado futuro. A liquidez é fundamental para que pecuaristas, frigoríficos, processadores de carne, especuladores possam entrar e sair do mercado futuro, quando quiserem, fixar seus preços de venda e compra, bem como montar e desfazer suas operações a qualquer instante.
A Tabela a seguir utiliza os preços futuros de ajuste do boi (março a R$56,57/arroba e abril a R$57,00/arroba), no dia 24 de março, para ilustrar as diferenças percentuais entre vencimentos próximos. A variação percentual entre esses dois períodos era de 0,76% ao mês ou 10,01% ao ano. O fato de a diferença estar pequena entre os dois vencimentos reflete a continuidade do período de safra, que se estende normalmente até maio, assim, o mercado tende a apresentar preços estáveis até o final de maio.
Note que, de junho a dezembro, as variações entre os vencimentos se tornaram maiores, reflexo do período de entressafra, que tem se estendido, nos últimos anos, até dezembro. O que chama a atenção são os percentuais de taxa ao ano de junho a outubro. A diferença percentual entre maio e junho, por exemplo, estava em 47,84% ao ano; entre junho e julho, em 50,34% ao ano; e entre setembro e outubro, em 29,77% ao ano, ou seja, todas essas diferenças superiores à taxa básica de juros de mercado, a Selic, fixada em 19,25% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março. Caso um investidor quisesse operar essa diferença, esperando que o mercado futuro de boi buscasse a paridade com a taxa de juro interna ao longo do ano, poderia fazer operação denominada spread, ou seja, comprar um vencimento e vender o próximo. A expectativa dessa operação é a de que o vencimento curto suba mais rápido que o longo, ou que o longo caia mais rápido do que o curto.
O objetivo é que haja redução do spread, ou seja, a diferença percentual entre os vencimentos possa se reduzir e buscar a paridade com a taxa básica de juros.