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Síntese Agropecuária BM&F – 31/03/2005

Por Fabiana S. Perobelli1

Os preços do boi no mercado físico mantiveram comportamento de queda iniciado na primeira quinzena de janeiro. Dentre os fatores que contribuíram para esse movimento, estavam a entrada da safra, com o natural aumento da oferta de bois no mercado, e a estiagem nos estados do Sul e no Mato Grosso do Sul, forçando a venda de animais para evitar a perda de peso, o que contribuiu para o aumento da oferta.

Pelo lado da demanda, o início de 2005 seguiu caracterizado pelo baixo consumo de carne no varejo, ocasionado pela redução do poder aquisitivo da população.

Com as escalas dos frigoríficos alongadas, observou-se, no mercado interno, outro fator que contribuiu para a pressão sobre os preços no atacado. No dia 24 de março, o Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F a vista estava em R$56,55/arroba e a prazo, a R$57,70/arroba. No atacado, o traseiro era cotado a R$2,70/kg e o dianteiro, a R$3,80/kg.

Na direção contrária à do mercado interno, as exportações de carne tiveram bom desempenho. Dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostraram que, em fevereiro, as exportações de carne in natura, em valores (US$140,3 milhões) e em volume (62,6 mil toneladas), foram, respectivamente, 22,6% e15,5% maiores do que no mesmo período em 2004.

O mercado futuro de boi gordo seguiu o comportamento do mercado físico e teve trajetória de ligeiro declínio neste início de 2004. Em 24 de março, os preços futuros do boi estavam a: R$56,57/ arroba para mar/05, R$57,00/arroba para abr/05, R$57,60/arroba para mai/05, R$59,60/arroba para jun/05, R$61,66/arroba para jul/05, R$63,25/arroba para ago/05, R$64,60/arroba para set/05, R$65,95/arroba para out/05, R$66,92/arroba para nov/05, e R$66,92/arroba para dez/05. Deve-se destacar a liquidez do contrato de boi gordo – no dia 24 de março, havia 12.491 contratos em aberto, ou o equivalente a 249,8 mil cabeças. Esse número é importante, pois, quanto maior o número de contratos em aberto, mais líquido é o mercado futuro. A liquidez é fundamental para que pecuaristas, frigoríficos, processadores de carne, especuladores possam entrar e sair do mercado futuro, quando quiserem, fixar seus preços de venda e compra, bem como montar e desfazer suas operações a qualquer instante.

A Tabela a seguir utiliza os preços futuros de ajuste do boi (março a R$56,57/arroba e abril a R$57,00/arroba), no dia 24 de março, para ilustrar as diferenças percentuais entre vencimentos próximos. A variação percentual entre esses dois períodos era de 0,76% ao mês ou 10,01% ao ano. O fato de a diferença estar pequena entre os dois vencimentos reflete a continuidade do período de safra, que se estende normalmente até maio, assim, o mercado tende a apresentar preços estáveis até o final de maio.

Note que, de junho a dezembro, as variações entre os vencimentos se tornaram maiores, reflexo do período de entressafra, que tem se estendido, nos últimos anos, até dezembro. O que chama a atenção são os percentuais de taxa ao ano de junho a outubro. A diferença percentual entre maio e junho, por exemplo, estava em 47,84% ao ano; entre junho e julho, em 50,34% ao ano; e entre setembro e outubro, em 29,77% ao ano, ou seja, todas essas diferenças superiores à taxa básica de juros de mercado, a Selic, fixada em 19,25% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março. Caso um investidor quisesse operar essa diferença, esperando que o mercado futuro de boi buscasse a paridade com a taxa de juro interna ao longo do ano, poderia fazer operação denominada spread, ou seja, comprar um vencimento e vender o próximo. A expectativa dessa operação é a de que o vencimento curto suba mais rápido que o longo, ou que o longo caia mais rápido do que o curto.

O objetivo é que haja redução do spread, ou seja, a diferença percentual entre os vencimentos possa se reduzir e buscar a paridade com a taxa básica de juros.





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1Fabiana S. Perobelli, Economista da Diretoria de Mercados Agrícolas da BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros

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