Nasce bezerra Nelore produzida com sêmen sexado
9 de dezembro de 2004
Bertin prepara-se para exportar carne baiana
13 de dezembro de 2004

Sisbov continua obrigatório para exportação

Por Juliana Guimarães1

A rastreabilidade brasileira tornou-se obrigatória no ano passado e desde então foi alvo de polêmica. Frigoríficos, pecuaristas, certificadoras, governo, importadores e consumidores passaram a discutir e defender seus interesses. E assim, desde que o governo instituiu o sistema, em janeiro de 2002, os prazos para a adesão ao programa foram alterados diversas vezes.

Desde a criação do Sisbov existe um duelo entre pecuaristas, frigoríficos e governo. Quando o programa começou a ser discutido, em meados de 2001, os produtores pediam um “prêmio” aos que tivessem o boi rastreado. Na prática, o que ocorreu foi que quem não estava no sistema recebia menos pela arroba do boi. Posteriormente, com a alegação de não haver tempo suficiente para que as regras fossem cumpridas, diversas vezes o setor solicitou alargamento do calendário. As últimas modificações do Sisbov ocorreram em junho deste ano, quando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou Instrução Normativa que alterou o prazo de exigência para que o animal estivesse no sistema e em novembro, quando foi publicado que somente gado rastreado poderia participar de leilões e feiras agropecuárias.

Em 02 de dezembro, representantes da bancada ruralista na Câmara Federal, das secretarias estaduais, da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina e do Ministério da Agricultura, anunciaram que a adesão dos pecuaristas ao Sistema Brasileiro de Identificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov) passará a ser voluntária e não mais obrigatória como era até agora, com exceção das exportações. Continua sendo obrigatória a rastreabilidade ou a inscrição no Sisbov para quem for exportar para a União Européia.

Na realidade da pecuária brasileira, todas as vezes que se voltou atrás nessas resoluções, a credibilidade do MAPA ficou abalada. A falta de informação, as idas e vindas da legislação e o não incentivo por parte dos frigoríficos fizeram com que uma pequena porcentagem de produtores acreditassem no Sisbov.

A questão do sobre-preço por animais rastreados sempre foi bastante polêmica, uma vez que todos sabem do problema recorrente de quebra de peso na balança em diversas regiões do Brasil. Como se esperar um prêmio por lotes de qualidade ou certificados se não se consegue nem a garantia de que o peso correto será obtido? Isso ocorre também em virtude de parte dos produtores não acompanharem atentamente o abate de seus rebanhos, não saberem exatamente quanto seus animais pesam ou qual a estimativa de rendimento, de acordo com raça, peso e acabamento de gordura.

A recente determinação do MAPA vislumbra uma nova etapa. É preciso que todos os níveis da cadeia de carne tenham claro as vantagens da identificação individual dos bovinos. Trata-se de um investimento no avanço da garantia da qualidade dos processos relacionados aos rebanhos e da segurança alimentar aos consumidores internos e externos. É preciso que a adesão ao Sisbov seja em nome da melhoria da qualidade do produto e não simplesmente a adequação a uma norma estabelecida para venda. E ainda, que os valores investidos na certificação seja repassados igualmente entre os comerciantes de carne.

Vale lembrar que todos os programas de carne de qualidade sérios, em inúmeros países do mundo, têm um programa de rastreabilidade. Todas as empresas, inclusive no Brasil, que estão empenhadas na produção de carne com um programa de qualidade assegurada têm incluído voluntariamente a rastreabilidade, sabendo que servirá como garantia extra de segurança alimentar de seus produtos. A tendência do mercado interno também é de cobrar dados sobre a origem e a trajetória do produto.

Se queremos ter o Brasil fornecendo carne no mercado internacional, com preços que permitam a lucratividade de toda a cadeia, será imprescindível garantir rastreabilidade. Uma rastreabilidade mais séria do que a praticada no Brasil até ontem. As vantagens da identificação individual dos bovinos, segundo o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, devem ser encaradas pelos pecuaristas como “um bônus e não como um ônus”.

_______________________
1Juliana Guimarães é Relações Públicas da certificadora GILGAL

0 Comments

  1. Pedro Carneiro Júnior disse:

    Ótimo artigo!

    Os produtores devem ver o SISBOV como uma forma de agregar qualidade aos seus produtos, de conquistar novos mercados, de imprimir a identidade do pecuarista brasileiro no mercado externo e interno. Apesar de o SISBOV ainda não contemplar todas as fases de um verdadeiro rastreamento, como nos padrões internacionais, pois ainda deixa a desejar nas fases de acompanhamento dos dados referentes aos manejos alimentar e sanitário, a iniciativa de um sistema nacional de certificação da nossa carne bovina é bem-vinda e já deveria ter sido tomada a mais tempo.

    Assim como outros colegas técnicos e cientistas, também vislumbro deixar a minha parcela de contribuição, não somente criando soluções para o mercado, mas também sendo ouvido, pois ainda excedem os interesses políticos e visões de curto prazo e faltam muitas considerações técnicas pelo lado do governo e uma perspectiva de longo prazo pelo lado dos produtores e frigoríficos.

    Espero que o SISBOV continue em frente e que enfim todas as partes se entendem em um calendário que venha ser realmente seguido e que contemple todos os aspectos do rastreamento e do mercado.

    Saudações,

    Pedro Carneiro Jr.

  2. João Luiz Mella disse:

    Muito bem colocado pela Juliana, a situaçao do Sisbov.

    Não podemos pensar em ser um país, primeiro no ranking da exportação de carne bovina, sem termos uma rastreabilidade individual e que realmente funcione, como uma ferramenta de produção.

    Recentemente, tivemos a visita da comunidade européia, com objetivos de vistoriar nosso sistema de produção da Cota Hilton. Averiguando o sistema de produção no campo e sua industrializaçao. Nesses dias, tivemos a certeza de que a maior falha de produção da pecuária brasileira é o Sisbov.

    Precisamos de um sistema em que realmente se faça a rastreabilidade do animal e não somente, a identificaçao do mesmo.