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SISBOV-CRIA: onde iniciar?

Por Louis Pascal de Geer1

Sistema Brasileiro de Identificação e Rastreamento Integrado Bovino.

Grandes lições de como usar sistemas de Identificação Individual em grandes números poderão ser obtidas através do funcionamento das eleições no Brasil. Cada vez que o pessoal fala que não dá para se falar em identificação individual quando temos 185 milhões de cabeças de gado, basta lembrar que progresso extraordinário foi feito com a organização e informatização das eleições brasileiras.

A base é sempre o banco de dados municipal e me parece ser perfeitamente possível de fornecer tanto um RG como um Passaporte para cada habitante dos pais. É só querer e ter a vontade política para fazer isto.

O pânico que se estabelece quando falta boi registrado no SISBOV nos frigoríficos de exportação e os eventuais prejuízos causados por isto, pois em cheque a validade do funcionamento do sistema apesar de todos os esforços feitos, em vez de se ver um progresso sustentado com cada vez mais animais jovens entrando no sistema, ocorre o oposto.

Começarem no fim e não no início do ciclo do gado e estamos sempre correndo para apagar o fogo, não tiramos qualquer vantagem neste jogo que é muito caro.

A principal razão para isto é a ausência quase total do mais importante elo na cadeia que é formado pelos criadores de gado bovino.

Os criadores de gado comercial têm levado pau a cada hora e não tiveram até agora o ajuda que merecem nem do governo, nem dos frigoríficos, ou dos compradores de bezerros.

Eles vivem constantemente com a corda no pescoço e muitas vezes são obrigados a vender a produção a preços de banana, arrendar os pastos e ficar num circulo vicioso com custos altos e ganhos próximo de zero ou até prejuízos quando as contas são devidamente feitas.

É espantoso de ver que ninguém faz praticamente nada para incluir, ou melhor, para começar os trabalhos de Identificação Individual nas fazendas de cria onde os benefícios de identificar os bezerros e vacas podem ser muito grandes, alem de agregar valor na hora de vender para a re-cria e /ou engorda.

A maneira mais barata e eficiente de se implementar o verdadeiro SISBOV é o registro individual obrigatório dos animais por ano de nascimento nas fazendas de cria.

No outro lado uma falha na gestão sanitária nestas fazendas de cria pode causar grandes transtornos e prejuízos principalmente para os frigoríficos de exportação.

A dependência mútua é uma realidade nova que ainda não está sendo reconhecida o suficiente por todos os elos da cadeia de carne aqui no Brasil.

É necessária uma grande campanha contínua de esclarecimentos para os criadores, re-criadores e os engordadores com a participação ativa dos Certificadores, Frigoríficos, Casas de Lavoura, SIF e MAPA.

Quem acha que só é necessário entrar com os machos no SISBOV, não entende que o rastreamento é e porque isto hoje é tão importante para os consumidores lá fora e também se sujeita a severas punições caso que ocorram problemas que com rastreamento bem feita poderão ser limitados ao absoluto necessário.

As regras deviam ser válidas também para o mercado interno e falando francamente não é possível fazer as coisas só para a exportação; isto não funciona – ou nós encararemos os nossas problemas de frente – ou então um dia vamos acordar com um tremendo pepino na mão e prejuízos devido à nossa incapacidade de resolver os problemas de blindar a nossa pecuária através de SISBOV para todos.

A falta de identificação individual dos animais limita profundamente as melhorias que podem ser feitas no gado nas fazendas de cria e faz do rastreamento uma piada de mau gosto e principalmente se torna hoje quase uma questão de segurança nacional e que deve ser tratada como tal com a ajuda em forma de extensão, crédito e investimentos.

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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa.

0 Comments

  1. Dionisio Caproni disse:

    Parabéns: Sr. Louis Pascal por sua matéria sobre qual o sistema de rastreabilidade que devemos fazer, se por propriedades ou individual, na minha opinião deveríamos ter começado desde ao nascimento, portanto se tivéssemos feito isso não estaríamos preocupados com a falta de animais para o mercado externo.

    Veja a exemplo, a matéria sobre as exigências da Coréia publicada em 17/01/2005 pelo BeefPoint em relação às carnes que irão entrar no país a partir de Abril, que este seja um alerta para nos aqui no Brasil.

  2. Janete Zerwes disse:

    Para se adequar aos diversos fatores intervenientes na atividade econômica da pecuária – demandas de mercado que exigem sanidade, qualidade de produtos para alimentação humana e animal, estendendo critérios para consumo à valorização social da mão de obra envolvida na produção e à preservação do meio ambiente – o pecuarista precisa mudar a visão relativamente arcaica dos procedimentos adotados a campo.

    O primeiro destes procedimentos está relacionado à economia de serviços.

    Para garantir resultados positivos é preciso adotar novos sistemas de controle, que permitam ao pecuarista um gerenciamento efetivo de seus negócios.

    Sempre que se acena com a adoção de novos sistemas de gerenciamento ou de manejos de campo, sejam de ordem humana, ambiental ou mesmo contábil, surge o questionamento referente ao adicional de custos.

    Sem levar em conta, possíveis incrementos positivos nos resultados financeiros, decorrentes destes custos.

    O exemplo que melhor ilustra esta afirmativa é o da obrigatoriedade de identificação individual dos animais, determinada pelo Ministério da Agricultura.

    Fator indispensável para a garantia de venda e competitividade no mercado internacional da carne.

    Discute-se muito o adicional de custos advindos da obrigatoriedade de rastreamento, quando a identificação individual dos animais é prioridade para o controle zootécnico do rebanho.

    A identificação individual dos animais associada à informatização por exemplo, oferece ao pecuarista uma visão radiográfica do seu rebanho, na totalidade de categorias que o compõe.

    Expõe fatores determinantes na evolução do rebanho: fertilidade, potenciais genéticos, perdas por doenças ou erros de manejo, etc…; localizando assim gargalos negativos de lucros.

    Este gerenciamento diferencia a pecuária arcaica, da pecuária contemporânea.

    Resposta do autor – Louis Pascal de Geer

    Olá Janete,

    A sua carta realmente está esclarecendo as inúmeras vantagens que a identificação individual no gado pode trazer para quem adota esta prática, mas infelizmente tem muita gente que considera isto um perda de tempo e caro, e justamente por isto voltei no começo de tudo: as fazendas de Cria onde as vantagens, como você já citou, podem ser muitos.

    Mas do outro lado isto tem que ter a contrapartida em preços bem melhores no frigorífico para o gado rastreado abatido.

    Parabéns pelo texto claro e objetivo.

    Louis Pascal de Geer

  3. Luís Alberto Moreira Mondadori disse:

    Concordo que é possível e necessário a rastreabilidade inclusive para o mercado interno, mas antes ou ao mesmo tempo, temos que informatizar nossas inspetorias veterinárias, por exemplo, pois é incrível ver que os funcionários datilografam na velha máquina de escrever as GTAs (Guias de Trânsito Animal) quando se vende para o frigorífico ou mesmo se transita com o gado de um lugar para outro.

    Outra coisa me causa dúvida e deixa a mim e outros produtores de genética um pouco atônitos, é a necessidade ou sobreposição dos manejos de rastreabilidade que temos entre o SISBOV e ANC (Associação Nacional de Criadores “Herd Book Collares”), pois temos que tatuar nossos animais nas orelhas com o número da ANC e ainda identificar os animais com esse mesmo número. Depois usar um botton e mais um brinco na orelha direita para o SISBOV – hoje meus animais tem 3 brincos nas orelhas, duas tatuagens e ainda uma marca a fogo no couro… E a qualidade do couro?

    E quem já “rastreia” seus animais, identificando pai, mãe, avós, data de nascimento, peso, etc… Como nós produtores de genética vamos ser duplamente cobrados por duas identificações que não se correspondem?

    Mesmo assim eu rastreio e por ser rastreado já vendi gado (vacas de descarte) para exportação através de uma parceria firmada pela ABA (Associação Brasileira de Angus e o Frigorífico Mercosul, e este me pagou R$15,00/animal somente por estarem rastreados).

    No entanto, acho que o programa tem que amadurecer e formar parceria com as entidades responsáveis pelo registro genealógico.

    Ainda gostaria de dizer que acho que a rastreabilidade deveria continuar após o abate, ou seja, que o frigorífico identificasse cada peça da carcaça com o número do SISBOV e essas quando fossem para gôndola levariam o mesmo número, aí sim seria uma rastreabilidade total.

    Obrigado.

    Resposta do Autor – Louis Pascal de Geer

    Olá Luís Alberto,

    Muito obrigado pelo seu comentário, e estou plenamente de acordo que os serviços de SIF, e as de inspeção veterinária nos municípios requerem investimentos para se adequar aos tempos modernos.

    É no meu ver errado para cobrar serviços de identificação individual para quem já esta fazendo isto numa forma reconhecida (associações ou as fazendas que foram aprovadas para emissão dos CEIPs).

    Falta ainda um grande Workshop sobre este assunto e principalmente sobre como operar o sistema para evitar as situações grotescas que você descreveu.

    Parabéns,

    Louis Pascal de Geer

  4. Murilo A F de Andrade disse:

    Somos criadores de nelore mocho em Amambai-MS.

    Em nossa fazenda fazemos somente a fase de cria para venda de bezerros. Comecei logo que possível a rastrear no nascimento por concordar plenamente com seu ponto de vista. O “controle” e ferramenta primordial e deveria ser feito por todos sem exceção.

    Parabéns.

    Murilo Andrade.

    Resposta do autor – Louis Pascal de Geer

    Parabéns Murilo,

    Com o identificação individual para os bezerros, vocês estão criando valor no gado nelore mocho em Amambai-MS, e com certeza serão plenamente recompensados na venda dos bezerros desmamados mais também pelo aumento de qualidade do gado que pode ser alcançado quando se conhece quem é quem.

    Louis Pascal de Geer

  5. Edgard Pietraroia Filho disse:

    Parabéns pela sua colocação, a qual concordo integralmente.

    É lamentável o que estão fazendo com o SISBOV, todo o programa foi desenvolvido para se fazer o controle do animal do seu nascimento até a sua morte, com implantação gradativa (talvez ai fosse o ponto de flexibilização) e o que se vê na verdade é a total distorção do real valor do programa, com a entrada de aventureiros políticos que estão querendo se promover com um fato seriíssimo, que é a sanidade animal e nos deixando totalmente vulneráveis no aspecto comercial através das barreiras sanitárias.

    O SISBOV não foi criado para certificar bois rastreados quarenta dias antes do abate (e sim bezerros ao nascer, é só lermos as normas), isto é uma vergonha que só privilegia a picaretagem!