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Sisbov e desinformação

Por Antenor de Amorim Nogueira1

Um dos maiores entraves para a melhoria dos processos de produção é a desinformação. O Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), instituído pelo Ministério da Agricultura em 2002, é um claro exemplo de como a falta de informação pode ser prejudicial para a adoção das mudanças necessárias ao atendimento das exigências do mercado. É lamentável que pessoas saiam emitindo opiniões distorcidas sobre entidades e seus dirigentes, sem conhecer de fato o trabalho realizado pelos mesmos, como fez o sr. Humberto de Freitas Tavares em seu artigo publicado neste espaço, semana passada. Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que jamais defendi a rastreabilidade por lote de animais, como mencionado no referido artigo, haja vista que a mesma contraria os compromissos assumidos pelo Mapa para atender às exigências da União Européia.

O que defendo é a certificação das propriedades rurais para atender aos requisitos do mercado europeu, o que pressupõe a identificação individual dos animais; a rastreabilidade por propriedade e a adesão voluntária ao sistema; a liberdade dos pecuaristas em adotar sistemas de identificação que melhor lhes convenham e cujos custos sejam os menores possíveis; a fiscalização rigorosa das empresas que operam no setor para inibir práticas irregulares que coloquem em risco a produção brasileira; a concorrência no mercado para reduzir os preços dos serviços cobrados dos produtores rurais; que os produtores sejam adequadamente remunerados pelos custos da rastreabilidade e certificação, para que os mesmos tenham estímulo e participem do sistema e as posições que sistematicamente têm sido discutidas e adotadas no âmbito do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte.

Quanto à parceria da CNA com uma empresa certificadora, essa foi feita com o objetivo de oferecer uma opção confiável e de baixo custo para os produtores rurais. No entanto, os produtores são livres para contratar o serviço que acharem melhor.

O que talvez alguns não tenham a sensibilidade de perceber é que o Brasil possui vantagens comparativas e competitivas que o colocam em vantagem indiscutível para concorrer no mercado, mesmo que novas exigências e formas de protecionismo disfarçado sejam impostas. Mas também lutamos pela redução do protecionismo e das práticas desleais de comércio, em prol de um mercado internacional mais justo. Mas não se pode negligenciar e esperar que o Brasil seja surpreendido por restrições para exportar para grandes mercados em decorrência do não cumprimento das exigências de certificação. Além disso, qualquer alteração nos compromissos assumidos deve ter a plena concordância dos nossos importadores, caso o Brasil deseje continuar destinando 40% das suas exportações para a UE.

É verdade que por se tratar de um processo novo, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, a rastreabilidade tem encontrado algumas dificuldades que fazem com que, para que se torne operacional, sejam necessários certos ajustes que levem em consideração peculiaridades regionais. A necessidade de ajustes no Sisbov tem sido aceita com razoável consenso entre o governo e as entidades do setor privado, mas precisamos lutar para que os produtores rurais não sejam mais uma vez punidos, arcando com todos os custos do processo. Para isso, o sistema deve ser voluntário e o pagamento de prêmio pelo mercado é que deve regular a oferta e a demanda da carne rastreada destinada à exportação e também para atendimento ao consumidor do mercado interno.

Defender a continuidade do atual sistema de certificação para exportações para a UE é defender um sistema incompleto, arcaico e que não remunera adequadamente um produto de qualidade superior. Felizmente a desinformação não atinge a todos, pois diversas entidades ligadas ao setor agropecuário já perceberam a importância de trilhar novos caminhos e vêm atuando em conjunto com a CNA na busca de soluções para os problemas do setor.
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1Antenor de Amorim Nogueira é empresário rural e Presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

0 Comments

  1. Nagato Nakashima disse:

    Sr. Antenor de Amorim Nogueira: Sou médico veterinário, consultor de agronegócios, empresário no ramo da TI também rastreabilidade, ex-pecuarista, mas estou voltando, precisamos aprender a vender A CARNE e não carne como faziam os açougueiros da década de 1950.

    O que está faltando é os “marketeiros” dos açougueiros entenderem que precisam vender produtos e não somente querer lucros. Bem como pecuarista entender que custos da Identificação, Certificação e Rastreamento representam somente R$ 0,056 por kg no boi de 15 @ isto o consumidor consciente paga, conseqüentemente não é gasto sim investimento e agregação de valor com transparência na produção.

    Quando se fala R$ 0,056 por kg em boi de 15 @ representa todos os gastos com os serviços que vai dos pagamentos do: 5 peões, 1 auxiliar técnico, 1 operador de computador, 1 secretária, 1 auxiliar técnico, 1 médico veterinário (porque nosso sistema este profissional é responsável pelas informações sanitárias inseridas no certificado, para maior garantia ao proprietário e ao consumidor), deslocamento da equipe, brincos (não sei porque disto bastaria somente de chips?), depreciações de equipamentos, encargos sociais, impostos e taxas, em algumas fazendas até alimentações que gentilmente fornecem aos trabalhadores no dia. O que precisamos entender é que para dar um Certificado de Origem nos moldes da Instrução Normativa No 1 e No 21 não é somente colocar brinco e rastrear precisa muito de seriedade, honestidade e ética para vender ao consumidor um produto de qualidade que é A CARNE.

    Só para ilustrar uma equipe com esta composição trabalhando 8 horas legais identificam, certificam e deixam em condições de rastrear mais ou menos 250 animais por dia. O rebanho Nacional é de aproximadamente 180 milhões de cabeças dividindo 180 milhões de cabeças por 250 levaremos 720.000 dias que correspondem a 1972 anos com isto o MAPA precisa é agilizar o processo dos Certificadores e cobrar mais resultado porque negócio não se faz com desconfiança.

  2. ROMÃO MIRANDA VIDAL disse:

    Sempre defendemos que as iniciativas relacionadas com a pecuária de corte deverão partir daqueles que investem, que trabalham no meio, que correm riscos e sobretudo são responsáveis por milhares de empregos e geração de impostos e tributos.

    Nada mais justo que a classe pecuária nacional, ditasse os rumos dos processos de rastreabilidade para pecuária de corte. E não, ter que suportar instruções normativas elaboradas por técnicos que não vivem o problema, ou pior ainda que, confundem microchip com fuzível elétrico usado em carros.

    Parabéns sr. Antenor Nogueira Amorim