O plano de implementação de um programa de identificação animal em resposta ao recente surgimento de um caso de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), a doença da “vaca louca”, nos Estados Unidos, poderá beneficiar a indústria pecuária como um todo, disse o economista agrícola da Universidade de Purdue, Ken Foster.
“O plano de ser capaz de identificar a origem de qualquer animal, seja bovino, ovino ou suíno, no final das contas, cortará custos para os produtores e para os consumidores. Os custos econômicos de qualquer doença animal são diminuídos pela interrupção do ciclo da doença e pela minimização do número de animais perdidos. Isto se refere à velocidade e melhores sistemas de identificação de rastreabilidade ajudarão”.
A secretária da Agricultura dos EUA, Ann Veneman, anunciou na semana passada que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) imediatamente colocará em funcionamento um sistema de identificação animal. O anúncio veio logo após a descoberta do caso de EEB.
Os detalhes do programa ainda são limitados, mas, de acordo com Foster, o Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal (Animal and Plant Health Inspection Service – APHIS) do USDA tem desenvolvido um programa de identificação com a meta de rastrear a fazenda de origem do animal infectado dentro de 48 horas.
Apesar de muitas nações européias terem colocado sistemas de rastreabilidade animal em funcionamento, não existe um programa em nível nacional de identificação animal nos EUA, uma deficiência que, segundo Foster, se deve parcialmente ao fato de o país não ter apresentado epidemias de doenças animais como a Europa apresentou.
“Estamos bem atrás de outras nações no desenvolvimento de sistemas de rastreabilidade, mas a razão de termos sido tão lentos é que temos conseguido manter as doenças fora. Nossa aplicação e sucesso de monitoramento de doenças animais pode nos ter colocado em desvantagem agora que a EEB apareceu aqui”.
Além disso, ele citou a rotulagem do país de origem de carnes, pela qual o USDA ficou proibido de aplicar a identificação animal obrigatória em nível de fazenda. Isso é algo que terá de ser estudado no Congresso nesta primavera, segundo Foster. “A comunidade rural tem resistido à idéia da rotulagem de origem porque isso poderia potencialmente colocar os produtores rurais em uma posição de dívida para fatos sobre as quais eles têm pouco ou nenhum controle, como um surto de E.coli que poderia ocorrer em uma planta de processamento”.
Foster disse que a implementação de um programa de rastreabilidade seria especialmente útil para outras doenças mais contagiosas, como a febre aftosa, caso surgisse nos EUA. “A rastreabilidade tem ampla aplicabilidade e amplos benefícios. Se uma nova doença surgir aqui, teremos um sistema em funcionamento”.
Apesar de um sistema de rastreabilidade aumentar a quantidade de dados que ficará sob responsabilidade dos produtores rurais, Foster disse que não espera ser difícil para os produtores cumprirem com os requerimentos de identificação animal. “A maioria das fazendas já mantém algumas formas de registros e usam brincos de identificação. A vaca de Washington foi rastreada bastante rápido, o que indica que pelo menos alguns registros da origem do animal existem”.
Entretanto, Foster também disse que o atraso na rastreabilidade da prole do animal infectado e de outros amimais que vieram para os EUA com a vaca infectada indicam a necessidade de um sistema de rastreabilidade.
Somente certos produtores, porém, poderão ser forçados a se responsabilizar pela maioria dos custos de implementação deste sistema, disse o especialista em carne bovina e professor de ciência animal, Ron Lemenager. “O custo da implementação de um sistema de rastreabilidade poderá sobrecarregar injustamente os criadores de bovinos, diferentemente dos grandes operadores de estabelecimentos de engorda. O problema real é que significará um custo ao nascimento para os criadores, porque as necessidades de rastreabilidade começam na fazenda de origem. Eu não vejo onde o operador de estabelecimentos de engorda pagará pelo custo da rastreabilidade”, disse.
Lemenager também disse que um sistema nacional de rastreabilidade necessita de uma base de dados nacional. Ele questionou quem controlará a base de dados e quem terá acesso a ela. “No caso da ocorrência de uma doença, precisamos ter acesso a registros individuais dos animais, mas também queremos restringir o acesso a esses registros para garantir algum grau de privacidade para os produtores”, continuou.
Foster disse que não sabe quanto tempo demorará para que o USDA implemente totalmente um programa de identificação animal, mas preveniu que poderá levar alguns anos para que qualquer novo programa tenha um impacto notável. “Teremos de ter muitos animais sob as novas regulamentações antes que possamos ver todos os benefícios. Poderemos colocar um programa de identificação em funcionamento amanhã, mas, quando começaremos a ver seu impacto, dependerá inicialmente dos animais individualmente, sua idade, espécie e a natureza da doença”.
Apesar disso, ele sugere que um programa deste tipo é essencial se os EUA têm o objetivo de retomar sua participação no mercado de exportação e manter sua base de clientes domesticamente. “A habilidade de rastrear e eliminar doenças será uma demanda que nós precisamos cumprir para satisfazer os mercados mundiais e eliminar preocupações de parte dos consumidores”, completou Foster.
Fonte: Purdue University, adaptado por Equipe BeefPoint