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Sistemas de integração sequestram mais carbono do que emitem, diz Embrapa

Estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizado na maior área experimental de sistemas produtivos integrados do país mostrou que os modelos de integração de pecuária com floresta e/ou agricultura adotados em áreas de transição do Cerrado para a Amazônia têm balanço positivo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Ou seja, a atividade agrossilvipastoril integrada sequestra mais carbono da atmosfera do que emite.

A pesquisa constatou que mesmo a atividade pecuária desenvolvida de forma isolada, sem integração com a silvicultura ou a produção de grãos, é eficiente no balanço desses gases, desde que tenha bom manejo. Publicado recentemente em uma revista científica internacional, o estudo pode ser mais um aliado para colocar o país como protagonista no cenário da sustentabilidade na agropecuária, dizem os pesquisadores da estatal.

A pesquisa mensurou e comparou dados de pastagem solteira de braquiária; da integração lavoura-pecuária (ILP) com dois anos de cultivo de soja na safra e milho com braquiária na segunda safra, seguido por dois anos de pecuária; da integração pecuária-floresta (IPF) com renques triplos de eucalipto a cada 30 metros; e da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com a mesma rotação da ILP, porém com linhas simples de eucalipto a cada 37 metros. O estudo foi realizado com dados coletados entre 2015 e 2018 na área da Embrapa Agrossilvipastoril.

O balanço líquido de carbono equivalente depois de quatro anos foi negativo em todos os sistemas. O maior saldo foi o do sistema IPF, com 51,3 toneladas de carbono equivalente por hectare, seguido pela ILPF, com 39,5 toneladas. A ILP teve saldo positivo de 18,8 toneladas e a pecuária em sistema convencional mitigou mais carbono do que emitiu, com 26,8 toneladas ao longo do período pesquisado.

O estudo usou como base uma área de pastagem degradada para comparar e simular o que pode acontecer se ela for recuperada com algum dos sistemas produtivos avaliados. “É isso que chamamos de intensificação, é você sair de um local com baixa produção animal e de forragem para uma maior produtividade, com aumento da qualidade do solo”, afirma a doutoranda no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) e primeira autora do trabalho, Alyce Monteiro.

Além do balanço de emissão e mitigação de carbono por hectare, a pesquisa mostrou que os sistemas sequestram mais gases do que emitem quando a conta é feita levando em consideração a quantidade de carne produzida e o volume de proteína para consumo humano gerado nessas áreas, considerando grãos e carne bovina. A madeira não foi contabilizada, pois o corte final ainda não foi feito.

O sistema IPF foi o que mais sequestrou carbono por quilograma de proteína de alimentação humana. Foram 69,32 quilos de CO2 equivalentes estocados a cada quilo de proteína digerida pelo homem por meio da carne e dos grãos produzidos. O resultado foi duas vezes maior do que a pecuária solteira, 5,2 vezes maior do que a ILPF e 11,4 vezes maior do que a ILP.

O sistema ILP foi o que teve maior emissão de gases de efeito estufa por quilograma de carcaça produzida. “Quando expressado o balanço líquido de emissões pelo volume de carcaça, todos os sistemas tiveram números negativos, ou seja, sequestraram carbono para cada quilograma de carne produzido. Os sistemas com árvores tiveram um balanço negativo maior do que a ILP e a pecuária”, disse a Embrapa.

Bruno Pedreira, pesquisador que atuou no estudo como coorientador, destacou que a chave para a eficiência da pecuária em termos de balanço de emissões está no bom manejo, mesmo sem integração. “Fazer a pecuária de uma maneira bem-feita representa para nós a possibilidade de vender uma carne com balanço positivo de carbono. São sistemas que vão elevar a perspectiva ambiental da pecuária para o futuro”, relatou.

Segundo ele, a pecuária solteira pode ser vetor para a redução das emissões de gases. “Talvez seja preciso rever o que pode ser fomentado pensando em auxiliar o produtor também nos sistemas de pecuária tradicional. Sabendo que eles podem ser altamente produtivos, se bem trabalhados, com fertilidade do solo corrigida, suplementação animal e uso das boas práticas agropecuárias, podemos reconsiderar nossas políticas no sentido de impulsionar também nossos sistemas com base na pastagem”, ressalta Pedreira.

Fonte: Globo Rural.

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