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Sorgo: escolha de híbridos e adubação

A estacionalidade de produção das gramíneas forrageiras é um fato já bem conhecido por técnicos e produtores. Existem várias formas de se contornar este problema como, por exemplo, venda de animais, diferimento de pastagens e/ou suplementação com cana-de-açúcar ou forragens conservadas. Devido ao seu potencial de produção e qualidade da silagem, o milho e o sorgo têm sido bastante utilizados para ensilagem em propriedades comerciais.

A qualidade de uma silagem depende, antes de mais nada, da qualidade do material original produzido. Gontijo Neto et al. (2002) verificaram o efeito da adubação sobre a produção e a qualidade de cinco híbridos de sorgo, sendo dois comerciais ( AG-2002 e AG-2005E) e três, na época do teste, experimentais (AG-X202, AG-X213 e AG-X215). O nível de adubação recomendado para a área, com base na análise de solo, foi de 350 kg/ha de 06-28-08 no plantio e 350 kg/ha de sulfato de amônio em cobertura (total de 91 kg/ha de N, 98 kg/ha de P2O5 e 28 kg/ha de K2O). Os níveis de adubação testados foram: sem adubação de plantio e cobertura, metade, uma vez e duas vezes a adubação recomendada de plantio e cobertura.

A produção de matéria seca foi maior para os híbridos de porte alto (Tabela 1) e aumentou linearmente com o nível de adubação. A produção de proteína bruta por hectare apresentou uma resposta quadrática à adubação. A digestibilidade “in vitro” da matéria seca foi maior para o AG-2002E (duplo propósito) (Tabela 1). A digestibilidade “in vitro” da matéria seca e a produção de matéria seca digestível aumentaram linearmente com o nível de adubação (Figura 1). Foi observada uma alta correlação entre a produção de matéria seca e a produção de matéria seca digestível (0,91%).

Tabela 1: Produção de matéria seca e matéria seca digestível e digestibilidade “in vitro” da matéria seca de cinco híbridos de sorgo.


Figura 2: Estimativa da digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS) e da produção de matéria seca digestível de híbridos de sorgo em função da adubação.
Fonte: Gontijo Neto et al. (2002)

Comentário: O sorgo, apesar de atualmente ser menos cultivado para ensilagem que o milho, apresenta como vantagens a possibilidade de rebrota e a maior resistência a veranicos. O trabalho de Gontijo Neto et al (2002) mostra o efeito da adubação sobre a produção e qualidade de cinco híbridos de sorgo. A partir dos resultados apresentados pelo autor é possível observar que a adubação determina um aumento significativo na produção de matéria seca digestível. A extração de nutrientes em áreas de silagem é bastante elevada, o que pode determinar reduções na produtividade e qualidade da forragem produzida. Nestas áreas, é preciso determinar, com especial atenção, os níveis de adubação com potássio. Ao contrário do que ocorre em áreas utilizadas para a colheita de grãos ou em pastagens, a reciclagem de potássio para o solo nos locais utilizados para a produção de silagem é muito baixa e, consequentemente, a extração deste nutriente torna-se bastante elevada. Outro ponto a ser ressaltado é quanto à qualidade e produtividade dos híbridos testados. Apesar dos resultados apresentados por Gontijo Neto et al. (2002) apontarem uma alta correlação entre produção de matéria seca e produção de matéria seca digestível, é importante notar que a digestibilidade “in vitro” do híbrido de duplo propósito (AG-2005E) é muito superior à dos demais (62% contra 53 a 54%). Com isso, apesar do híbrido AG-2002 produzir, aproximadamente, 6t/ha de matéria seca a mais que o AG-2005E, a diferença na produção de matéria seca digestível é de apenas 2t/ha. Como a diferença na produção de matéria seca digestível entre os híbridos forrageiros e o de duplo propósito (maior porcentagem de grãos) não é muito grande, mas a qualidade deste último é muito superior à dos demais, pode-se concluir que a produção de silagem a partir de híbridos de duplo propósito é mais interessante que a utilização de híbridos forrageiros.

GONTIJO NETO, M.M.; OBEID, J.A.; PEREIRA, ºG.; CECON, P.R.; CÂNDIDO, M.J.D.; MIRANDA, L.F. Híbridos de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) cultivados sob níveis crescentes de adubação. Rendimento, proteína bruta e digestibilidade in vitro. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.4, p.1640-1647, 2002.

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