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SP: mais da metade dos solos tem saúde considerada baixa

Mapa de saúde dos solos do Estado de SP. Fonte: Poppiel et. al (2025) – GeoCIS

Mais da metade dos solos do estado de São Paulo tem a saúde considerada baixa. Esse foi um dos apontamentos feitos pelo primeiro mapa de saúde do solo da América Latina e do Caribe (ALC), elaborado pelo Grupo de Estudos de Geotecnologias em Ciência do Solo (GeoCIS), da Esalq/USP, em Piracicaba-SP, em parceria com o Centro de Estudos de Carbono na Agricultura Tropical (Ccarbon), também sediado na universidade.

Segundo o levantamento, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e utilizou dados de georreferenciamentos de solos para o ano de 2022 no estado, além de sensoriamento remoto e aprendizado de máquina, 53,02% dos solos paulistas estão com a saúde baixa — principalmente a partir do centro em direção a oeste. Outros quatro níveis foram definidos para a classificação: moderado-baixo, que corresponde a 17,48%; moderado, com 7,05%, moderado-alto, com 11,06%; e alto, com 11,39%. 

Segundo o professor e pesquisador José Alexandre Demattê, coordenador do GeoCIS, o índice de saúde do solo é obtido a partir de cruzamento de variáveis, como teor de carbono — este o principal item —, disponibilidade de água para as plantas, densidade e porosidade. Ele explica que fatores como uso inadequado das terras, desmatamento e mudanças climáticas contribuem para a degradação crescente dos solos e exigem a adoção urgente de práticas sustentáveis, como recuperação de pastagens, plantio direto e manejo integrado. 

Ainda de acordo com Demattê, o estudo, publicado na revista Communicatios Earth & Environment, da Nature, demonstrou que existe uma relação direta entre degradação e áreas com exposição direta ao ambiente, sem cobertura vegetal. Além dele, assinam o artigo Raul Poppiel e Maurício Cherubin, professores da Esalq/USP, e Jean Novais, pós-doutorando na instituição.

Estudo pode amparar políticas públicas

A avaliação da realidade em São Paulo é um recorte da pesquisa, que mediu a saúde dos solos em toda a América Latina. No geral, os resultados não foram animadores: 38% ficaram entre os níveis baixo e moderado-baixo; 28% foram considerados moderados; e pouco mais de um terço (34%) conseguiu as classificações de moderado-alto e alto.  

Conforme a pesquisa, as áreas mais críticas estão localizadas em regiões áridas e de savanas, e as melhores, em zonas equatoriais úmidas. A floresta amazônica, mesmo com ampla cobertura vegetal, teve índices mais frequentes de moderado para baixo, o que, segundo os pesquisadores, aponta para a vulnerabilidade dos solos e a necessidade de tomar medidas urgentes visando à conservação.  

Em todo o território latino-americano, aliás, os dados coletados podem servir de base para a implementação de políticas públicas voltadas à regeneração dos solos, necessária para garantir segurança alimentar, maximizar resultados ambientais e socioeconômicos. Regiões como a Colômbia e a Venezuela se sobressaíram na pesquisa, com os solos considerados mais saudáveis. Norte do México, porções do Chile e da Argentina, além do Nordeste brasileiro são os lugares que demandam mais atenção.

Demattê destaca que o Brasil, devido ao protagonismo mundial que exerce na produção de alimentos e energia renovável, terá a oportunidade de demonstrar, em importantes eventos que se aproximam, como a COP30, que se preocupa com a temática e que tem avançado cientificamente para encontrar formas de manejo sustentável e adaptadas às características de cada região do país.

“Um solo saudável tem bastante matéria orgânica com umidade, o que proporciona alto enraizamento e impacta na absorção de nutrientes e de água pelas plantas. Com isso, a produtividade é maior com sustentabilidade a longo prazo”, afirma Demattê.

Na prática, no entanto, não é isso o que ocorre na produção agrícola. “O que acontece é que o foco agrícola está na produção de curto prazo. Neste aspecto, as produtividades têm até aumentando, mas sem olhar para a sustentabilidade a longo prazo. Há um paradoxo entre aumentos de produtividade e da degradação do carbono no solo, ou seja, os solos têm se degradado mais devido ao manejo”, complementa.

O próximo passo, segundo o pesquisador, é apresentar um mapa que contemple os solos de todo o mundo, projeto no qual o GeoCIS já trabalha.

Inovação nas ciências do solo

Os estudos conduzidos pelo grupo ganharam reconhecimento internacional pelo impacto que promovem. Em março deste ano, o GeoCIS foi considerado referência global pela Dokuchaev Soil Science Institute, instituição consagrada como berço das pesquisas sobre solo no planeta. Por isso, o grupo brasileiro recebeu menção de destaque da Academia de Ciências da Rússia, por meio do Ministério da Ciência e Educação da Federação Russa. 

De acordo com o documento que justifica a premiação, o GeoCIS tem se destacado por desenvolver caminhos inovadores nas ciências do solo. Para Demattê, isso se deve ao empenho dos pesquisadores envolvidos, que visam à construção de um trabalho coletivo de qualidade. 

Centro de desenvolvimento

Na busca por modelos sustentáveis de manejo de solo, o estado de São Paulo acaba de ganhar um aliado.

A Fapesp anunciou apoio à criação do Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) Smart B100, que tem, como objetivo inicial, construir uma plataforma digital com o uso de inteligência artificial (IA) generativa — uma espécie de ChatGPT do Agro —, para permitir aos produtores rurais acessar conhecimento de forma facilitada e, com isso, adotar práticas que aliem produtividade e sustentabilidade.

A plataforma receberá financiamento por cinco anos. Prevê disponibilizar informações que integram o Boletim 100, uma publicação do Instituto Agronômico (IAC) que orienta os agricultores sobre adubação e outros procedimentos ligados ao solo. Também terá um banco de dados com o intuito de indicar insumos a partir de informações sobre saúde do solo.

Além do IAC, o projeto tem a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da própria Esalq, das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) de Pompeia e Cotia, do Centro de Inovação do Agronegócio (CIAg), da Fundação Shinji Nishimura de Tecnologia e da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo (SAA).

O superintendente executivo da Fundação Shinji Nishimura, Elvis Fusco, que também é vice-presidente do CCD, afirma que o Boletim 100 é atualizado apenas a cada dez ou 11 anos, e que a plataforma permitirá encurtar, significativamente, o período para que novos dados fiquem disponíveis. Além disso, será possível que os produtores interajam com ela, fazendo perguntas, que serão respondidas por uma IA generativa. “É uma forma de permitir que o acesso às recomendações seja democratizado”, diz Fusco.

Ainda segundo ele, a proposta é começar com dados sobre solos e, posteriormente, ampliar a abrangência, para plantas e outros aspectos relacionados ao segmento agro. Durante os cinco anos em que a Fapesp apoiar a iniciativa, novas versões da plataforma serão lançadas periodicamente e, ao final do prazo, as instituições envolvidas pretendem dar continuidade de maneira autônoma, inclusive com estabelecendo uma sede física e criando um laboratório aberto, para que empresas e outros agentes sociais contribuam para a construção da base de dados.

“Os próprios agricultores poderão alimentar a plataforma com resultados de colheitas, para que não fiquem restritos a dicas de especialistas. Com isso, eles vão poder interagir com a linguagem com a qual se comunicam no dia a dia”, conclui Fusco.

Além do CCD Smart B100, a Fapesp está apoiando outras 20 iniciativas em conjunto com secretarias estaduais, para desenvolver soluções para as áreas de saúde, energia, produção avançada, cidades inteligentes, segurança pública e meio ambiente.

Fonte: Estadão.

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