Síntese Agropecuária BM&F – 06/03/03
6 de março de 2003
Exportações de carne somaram US$ 85 milhões em fevereiro
10 de março de 2003

Subprodutos da industrialização do palmito na alimentação de bovinos de corte

A pupunha é uma palmeira perene que está sendo cultivada em quantidades significativas no Brasil Central, para produção de palmito e farinha para consumo humano, gerando uma grande quantidade de subprodutos na sua industrialização. Esse subproduto é composto por folhas, bainha e partes do caule, que podem ser utilizados como fonte de fibra na alimentação de ruminantes.

Segundo levantamento de Tonet, et al., (1999), existem 1824 ha de cultura de pupunha somente no estado de São Paulo, gerando aproximadamente 100 toneladas de material residual por hectare. O resíduo da extração do palmito da pupunha apresenta a seguinte composição química: 26% de matéria seca (MS); 8,3% proteína bruta (PB); 56,4% fibra detergente neutro (FDN); 37,2% fibra detergente ácido (FDA); 5,5% extrato etéreo e 7,9% cinzas (Alves Jr. et al., 1999). Na literatura existem algumas variações em relação aos valores de composição química desse subproduto, provavelmente devido às variações nas proporções de folhas, bainha e caules presentes.

A semelhança entre a composição do subproduto da extração da pupunha e de forrageiras como o milho e o sorgo, possibilita a utilização desse produto, fresco ou ensilado, como fonte de exclusiva de fibra para bovinos de corte. Rodrigues Neto et al., (2001), avaliaram a utilização de aditivos para ensilagem de subprodutos da industrialização de palmito. Foram utilizados açúcar, milho moído e polpa cítrica, nas proporções de 2,5, 10 e 10%, respectivamente, com base na matéria natural. O material foi picado e ensilado 12 horas após a retirada do palmito, com a inclusão dos aditivos no momento da entrada do material no silo. Durante o processo de ensilagem foram retiradas amostras para análise da composição química (tabela 1). A inclusão de milho moído ou polpa cítrica permitiu o aumento da MS para 28%, nível aceitável para ensilagem de gramíneas. A inclusão de açúcar e de milho moído provocou queda nos valores de poder tampão (PT), o que não foi observado para polpa cítrica, provavelmente devido a maior concentração de Ca. Os valores de PB, Mg e K não foram afetados pela inclusão dos aditivos.

Tabela 1. Composição química do subproduto da industrialização do palmito no momento da ensilagem.

Aproximadamente 60 dias após o enchimento, os silos foram abertos e avaliadas quanto à composição através de ensaio de consumo e digestibilidade in vivo. Os resultados da análise bromatológica estão apresentados na tabela 2. As concentrações de N-NH3 foram maiores para o tratamento controle, provavelmente devido a ocorrência de fermentação butírica. A inclusão de polpa cítrica baixou significativamente os valores de N-NH3, indicando a predominância de fermentação lática. O valor de N-NH3 foi maior para o tratamento com milho moído do que com polpa cítrica, sendo semelhante ao obtido com a inclusão de açúcar. Os menores teores de fibra obtidos com a inclusão de aditivos estão diretamente ligados a menor concentração de fibra nos aditivos, ocorrendo efeito de diluição.

Tabela 2. Composição química das silagens de subproduto da pupunha, em relação aos diferentes tratamentos.

Houve diferença significativa no consumo entre as silagens, sendo maior para os aditivos de milho moído e polpa cítrica (tabela 3). O consumo, superior a 80 g/Kg de PV0,75, foi semelhante a consumo observado para volumoso de alta palatabilidade. O consumo de matéria seca da silagem sem aditivo ou com açúcar, permitiu ingestão de 17 MJ de EM/dia, enquanto a silagem com milho moído e polpa cítrica possibilitou a ingestão de 39,5 MJ de EM/dia para animais de 180 kg de peso vivo.

Em relação a digestibilidade, somente a inclusão de milho moído ou polpa permitiu melhora nesses valores em relação à silagem sem aditivo (tabela 3). A inclusão de milho proporcionou melhora nos coeficientes de digestibilidade da matéria seca, porém levou a queda de 13,5 unidades na digestibilidade da FB. A digestibilidade aparente da proteína bruta foi maior para a adição de milho, não sendo observado esse efeito com a polpa cítrica. Isso provavelmente ocorreu devido ao maior teor de proteína bruta da silagem com a adição de milho.

Tabela 3. Consumo, coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes e valores de NDT das silagens de subprodutos de pupunha com diferentes aditivos.

A ensilagem dos subprodutos da extração do palmito da pupunha com a adição de 10% de polpa cítrica ou milho moído, proporciona a obtenção de silagem de boa qualidade.

Referências bibliográficas

ALVES JR. J.; LOPES, A.S.; ALVES, R.R. Influência de diferentes níveis de irrigação na cultura de pupunha na produção de resíduos, objetivando seu uso na alimentação animal. In: Congresso de Iniciação CientÍfica., 11, UNESP/Botucatu-SP, 193 p., 1999.

RODRIGUES NETO, A.J.R.; BERGAMASCHINE, A.F.; ISEPON, O.J.; ALVES, J.B.; HERNANDEZ, F.B.T.; MACEDO, M.P. Efeito de aditivos no valor nutritivo de silagens feitas com subproduto da extração do palmito de pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.), Rev. Soc. Bras. Zootec., n. 30, p. 1367-1375, 2001.

TONET, R.M.; FERREIRA, L.G.S.; ORBONI, J.L.M. Levantamento e situação da cultura da pupunha no estado de São Paulo, Boletim técnico 237 – CATI, Campinas-SP, 41p., 1999.

0 Comments

  1. Michel Caro & Patricia Zancaner Caro disse:

    Agradecemos a contribuição dos autores.

    Como produtor de pupunha posso dizer que mais uma vez, a regra confirmou-se, e não é fácil encontrar aquela demanda tão saudável anunciada pelos incentivadores da pupunha!

    Que essas culturas não se tornem verdadeiros desastres!

    Então… Quem sabe se como nutriente bovino conseguimos alguma saída menos penosa que a simples eradicação desta cultura.

    Talvez os ilustres autores do artigo poderiam complementar a análise considerando a totalidade do palmito como alimento!

    Fico no aguardo e agradeço de novo a contribuição.

    Fazenda Bonsucesso
    Guararapes / SP