O governo suíço pediu formalmente para a União Européia pôr fim à proibição da importação de tripa de gado bovino zebu do Brasil, para poder produzir a "cervelas", salsicha que é um verdadeiro símbolo nacional e considerada ameaçada pelo excesso de zelo da burocracia de Bruxelas.
O governo suíço pediu formalmente para a União Européia pôr fim à proibição da importação de tripa de gado bovino zebu do Brasil, para poder produzir a “cervelas”, salsicha que é um verdadeiro símbolo nacional e considerada ameaçada pelo excesso de zelo da burocracia de Bruxelas.
A produção de “cervelas” chega a 160 milhões de unidades por ano, perto de 25 mil toneladas. Representa 30% da produção de salsicha do país. Na média, um suíço consome 25 “cervelas” por ano, sobretudo no verão, com uma boa cerveja. Foi reconhecida produto nacional na exposição universal de Paris de 1901, ao lado do chocolate e do queijo Emmental.
A UE interditou a importação da tripa brasileira em abril de 2006, alegando risco de doença da “vaca louca”. Uma decisão que causou profundo impacto nos fabricantes de “cervelas” do país. A Suíça não faz parte da UE, mas segue algumas regras comunitárias, como a harmonização da legislação sobre bens alimentares.
Depois de meses de inquietação, com o tema da tripa brasileira ocupando páginas dos jornais e debates no Parlamento, a Suíça decidiu importar a tripa da Argentina e do Uruguai. Mas o resultado foi decepcionante. Os fabricantes dizem que só mesmo com a tripa do zebu brasileiro é que a “cervelas” obtêm sua curvatura característica e seu diâmetro de 32 a 34 centímetros. A tripa dos argentinos e uruguaios produz uma curvatura diferente, a salsicha queima mais e o sabor também muda.
Por pressão de fabricantes, políticos e organizações de consumidores, o governo suíço teve que instalar uma “força-tarefa” para examinar soluções. Foi feito um estudo científico de risco, por especialistas internacionais. Concluiu-se que o risco de contaminação pelo consumo de salsicha fabricada com intestinos do zebu brasileiro é “extremamente baixo”, 440 vezes menor do que no consumo de um bife “T-Bone”, autorizado como produto alimentar. Além disso, os suíços observam que o Brasil até hoje não registrou um único caso de “vaca louca” em seu território e foi colocado na categoria de “país com risco negligenciável”, o que torna a proibição da tripa ainda mais incompreensível.
A demanda de liberação para a tripa brasileira foi apresentada formalmente na semana passada à Comissão Européia. A produção de “cervelas” está assegurada até meados de 2009. Mas o estoque de tripa está baixando consideravelmente e os fabricantes não querem importar de outros países. Daí a pressão dos suíços, provavelmente em sua última intervenção diplomática do ano em Bruxelas.
A matéria, de Assis Moreira, foi publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.