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Suplementação a pasto e seu efeito na ingestão de forragem

Em situações em que a disponibilidade da forragem pastejada é muito baixa para alcançar as exigências energéticas dos animais, alguma forma de suplementação energética pode ser praticada para manter os níveis de produção desejados, e minimizar as perdas de peso. Isto geralmente ocorre durante os períodos de seca ou superpastejo com animais em crescimento.

As fontes de energia suplementar são extremamente variadas e incluem grãos, fontes de fibras rapidamente digestíveis (polpa cítrica, casca de soja, fibra de milho), fontes ricas em açúcar (melaço) e forragens de alta qualidade.

Segundo Reis et al. (1996) em pastagens com baixa disponibilidade de forragem, a suplementação energética obviamente resultará em maior resposta animal, pois nessas condições os animais em pastejo não conseguem atingir o consumo máximo, e o suplemento energético terá pouco efeito adverso no consumo da forragem. Ao contrário, se a disponibilidade de forragem for alta, ocorrerá resposta somente se a forragem for de baixo valor nutritivo, uma vez que há alto nível de substituição se a forragem for de alto valor nutritivo. Essa redução no consumo de forragem associada à suplementação energética tem sido atribuída, em parte, à modificação do ambiente ruminal, devido à abrupta queda no pH ruminal e diminuição da atividade das bactérias celulolíticas, o que resulta em decréscimo da digestão da fibra e diminuição do consumo de forragem (Pereira et al., 2001).

Quando o nível de suplemento energético oferecido aumenta, o consumo de forragem tende a diminuir. Segundo Garcés-Yépes et al.(1997), a utilização de concentrados energéticos em até 0,5% do peso vivo para bovinos, não altera o nível de ingestão e de digestibilidade da matéria seca ingerida. Em alguns casos, o consumo de forragem pode ser estimulado por baixos níveis de suplementação com grãos (Paterson et al., 1994). Baixos níveis de ingestão de grãos, possivelmente estimulam o crescimento microbiano, não diminuam a digestão da fibra e aumentam o fluxo de proteína para o intestino delgado.

Efeito de substituição

Segundo Canto & Dhuyvetter (1997) a redução no consumo de forragens por ruminantes em pastejo, devido à suplementação, é denominada efeito de substituição.

A redução na quantidade de forragem ingerida é expressa em proporção da quantidade do alimento suplementar consumido. O cálculo do efeito de substituição pode ser estimado usando a seguinte equação (Hodgson, 1990):

– EF = efeito de substituição
– QFISSPL = quantidade de forragem ingerida sem suplementação
– QFICSPL = quantidade de forragem ingerida com suplementação
– QSF = quantidade de suplemento fornecido

Um fator importante a ser considerado no caso de suplementação com energia é a qualidade da forragem disponível ao animal. Quanto melhor for a qualidade da forragem, maior será o efeito de substituição pelo suplemento (Reis et al. 1996). Suplementos com alta concentração energética e ricos em amido, reduzem mais acentuadamente o consumo de forragem comparados a suplementos energéticos com maiores níveis de fibra, devido à queda do pH ruminal ocorrer de forma mais lenta com alimentos fibrosos.

Segundo Minson (1990), a diminuição no consumo de forragem causada pela suplementação energética é associada com uma progressiva diminuição no tempo de pastejo, número de bocados por unidade de tempo, e tamanho de bocado, conforme é aumentada a quantidade de suplemento fornecido. Hodgson (1990) também destaca que a redução no consumo de forragens é mais influenciada por fatores comportamentais do que por limitações nutricionais, sendo que o fornecimento de fontes de nutrientes prontamente disponíveis na forma de suplementos concentrados, propiciam aos animais diminuir esforço em pastejar, diminuindo assim o consumo de forragens (Tabela 1).

Tabela 1. Influência dos suplementos energéticos no comportamento de pastejo de vacas em lactação.

A suplementação de bovinos de corte em pastejo é uma estratégia importante a ser considerada na melhoria do desempenho animal e no aumento da produtividade. Contudo, interações com a oferta de forragem, efeito de substituição, nível de nutrientes do suplemento e, principalmente, custos de produção, são as principais balizas para a tomada de decisão do uso dessa técnica.

Referências bibliográficas:

REIS, R.A.; RODRIGUES, L.R.de.A.; PEREIRA, J.R.A. A Suplementação como estratégia de manejo de pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE O MANEJO DA PASTAGEM, 13., Piracicaba, 1996. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1997. p. 123-151.
PEREIRA, J.R.A.; REIS, R.A.; RODRIGUES, L.R.A.; FREITAS, D. Effects of supplements on forage degradability of Brachiaria bryzantha cv. Marandu grazed by steers. In: INTERNATIONAL GRASSLANDS CONGRESS, 19., São Pedro, 2001. Anais. Piracicaba: FEALQ, 2001. p. 696-670.
PATERSON, J.A.; BELYEA, R.L.; BOWMAN, J.P. et al. The impact of forage quality and supplementation regimen on ruminant animal intake and performance. In: FAHEY Jr., G.C. (Ed.). Forage quality, evaluation, and utilization. Madison: American Society of Agronomy/Crop Science Society of America/Soil Science Society of America, 1994. cap. 2, p. 59-114.
MINSON, D.J. Forage in ruminant nutrition. San Diego: Academic Press, 1990, cap. 2, p. 9-58.
HODGSON, J. Supplements. In: Grazing Management. New York: Longman Handbooks in Agriculture, 1990, cap. 14, p. 134-142.
GARCÉS-YÉPES, P.; KUNKLE, W. E.; BATES D. B.; MOORE, J. E.; THATCHER, W. W.; SOLLENBERGER L.E. Effects of supplemental energy source and amount of forage intake and diet digestibility by sheep. Journal of Animal Science, v. 75, n. 7, p. 1918-1925, 1997.
CANTON, J. S.; DHUYVETTER, D. V. Influence of energy supplementation on grazing ruminants: requirements and responses. Journal of Animal Science, v. 75, n. 3, p. 533-542, 1997.

0 Comments

  1. Celso Francisco Vieira da Paixão disse:

    No caso de uma área de capim braquiarão com 90 dias de formada, qual a vantagem de se colocar o gado nesta área consumindo uma mistura múltipla de 0,1% do peso vivo (minha vacada, 500 kg +ou-), o custo por kg deste produto é R$ 0,63/kg, e se esta técnica fará com que economize pasto para seca, que vai ser dura na região.

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezado Celso,

    A quantidade necessária para que a suplementação com mistura diminua a
    ingestão de forragem é ao redor de 1% do peso vivo. Portanto, acredito que a
    relação custo/benefício seria desfavorável no caso de suplementação de
    fêmeas de cria, no entanto, cada caso é um caso, e indico que avalie de
    forma atenta a sua situação em especial.

    Espero ter ajudado, qualquer dúvida remanescente por favor entre em contato
    novamente.

    Grande abraço