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Suplementação alimentar de novilhas e primíparas

A suplementação a pasto é indiscutivelmente uma excelente ferramenta para ser usada como estratégia de redução dos ciclos de produção, por evitar as perdas de peso nos períodos críticos e redução da idade de abate. Isto é válido para machos, porém para fêmeas, a suplementação tem alguns objetivos distintos, o primeiro é a alimentação de novilhas para crescimento e antecipação da idade e peso a puberdade, o segundo é a alimentação estratégica de primíparas para diminuição do intervalo entre o primeiro e segundo parto.

A capacidade reprodutiva dos animais está diretamente relacionada à qualidade e quantidade de alimentos ingeridos. A ingestão de energia abaixo das exigências, situação encontrada em pastagens, aumenta a idade à puberdade. Diversos trabalhos relatam que o desempenho na fase de recria (12 aos 18 meses) influenciam na idade de puberdade das fêmeas, o que torna importante a suplementação desta categoria. Outro ponto a se considerar em um sistema de produção, além da idade e peso na puberdade das novilhas, é a taxa de reconcepção das primíparas. Pode-se dizer que esta categoria é o principal ponto de estrangulamento no sistema, em virtude dos baixos índices de fertilidade (50% em média), geralmente devido ao baixo peso e condição corporal ao parto.

Neste contexto foi conduzido trabalho no final dos anos 70 em Andradina, e apenas publicado recentemente, onde o objetivo do estudo foi de avaliar a performance reprodutiva de fêmeas Guzerá e seus cruzamentos com Pardo Suiço (PS), Caracu (Ca), Chianina (CH) e Nelore (NE), submetida a três planos de suplementação (Tedeschi et al., 2002).

Foram realizados 2 experimentos, onde o primeiro a fêmeas eram submetidas a dois tratamentos, sem suplementação (S1) e suplementação apenas na seca (Seca). No primeiro ano (1979) a estação de cobertura foi de setembro a dezembro (84) dias, e no ano seguinte de setembro a janeiro (130 dias). E no experimento 2, iniciado em 1980, os tratamentos foram sem suplementação (S), suplementação apenas na seca (Seca) e suplementação o ano todo (Ano). Neste experimento foram adotadas duas épocas de estação de monta a primeira (EC1) de abril a julho (92 dias) e a segunda (EC2) de outubro a janeiro (91 dias), em dois anos (primeiro e segundo anos reprodutivos).

O suplemento Seca era de 0,5 kg de farelo de soja/animal/dia. O suplemento Ano era constituído de 69,1% de farelo de trigo, 29,6% de milho e 1,3% de uréia, sendo fornecido 1,5kg animal/dia.

Os autores relatam aumento na frequência de parição associado à suplementação. Em função do aspecto reprodutivo, as fêmeas foram classificadas em três níveis, fêmeas que não pariram (1), fêmeas que pariram apenas aos 3 anos de idade (2, apenas uma parição), e fêmeas que pariram 2 vezes (3).

As fêmeas que receberam suplementação no período da seca tiveram aumento considerável na freqüência de parição. Pode-se notar na tabela 1, computados os resultados do experimento 1 e 2, que a suplementação na seca aumentou a frequência de parições. Ou seja, o número de novilhas que pariram no primeiro ano reprodutivo, e repetiram a parição no segundo ano foram maiores quando suplementadas na seca.

Tabela 1: Frequência de parição em função dos tratamentos com ou sem suplementação na seca em dois experimentos.


Ao avaliar os resultados apenas do segundo experimento, onde os animais também receberam suplementação durante o ano todo, o número de fêmeas que pariram aos 3 e 4 anos foi de 93 %, enquanto que as suplementadas na seca e não suplementadas foram de 47 e 69%, respectivamente.

Na figura 1 estão expostos graficamente o percentual de fêmeas que pariram após o primeiro e segundo ano reprodutivo do experimento 2.


Figura 1: Percentagem de parições no 1º e 2º ano reprodutivo de fêmeas não suplementadas, suplementadas apenas no período da seca ou o ano todo.

Não deixa dúvidas, com base na figura 1 que a suplementação de forma geral melhora os índices reprodutivos do rebanho, principalmente relacionado as primíparas, que em geral tem um grande queda na fertilidade. Esta diminuição estaria relacionada ao menor peso e condição corporal inferior. Vale lembrar que ao parirem as novilhas ainda estão em crescimento, sendo que os nutrientes ingeridos nesta fase são repartidos para sua mantença, crescimento e lactação, deixando a reprodução em segundo plano. Com a suplementação, independente da estratégia (seca ou ano todo) o efeito mais importante foi observado no segundo ano reprodutivo, ou seja, na reconcepção das primíparas, que como comentado anteriormente é categoria de pior desempenho reprodutivo na propriedade.

Se fizermos uma análise econômica do benefício da suplementação apenas no segundo ano reprodutivo, ou seja, após a primeira cobertura, veremos as vantagens da suplementação em relação às fêmeas não suplementados, como pode ser observado na tabela 2.

Na tabela 2 foi considerado apenas o segundo ano reprodutivo das novilhas, a quantidade de bezerros a mais produzida, bem como o custo e quantidade de fêmeas adquiridas para reposição. Pode-se notar que os custos da suplementação são bastante elevados, porém quando considerado o rendimento em bezerros a mais, e a economia na aquisição de fêmeas para reposição, os custos são bem inferiores do que se imagina. Pois, com a suplementação, o lucro vem do que se deixa gastar em relação aos não suplementados, que nesta simulação foi de R$15.440,00 e R$11.980,00 para animais suplementados na seca e o ano todo, apenas para o segundo ano reprodutivo.

Tabela 2: Análise econômica da suplementação de fêmeas durante apenas no segundo ano reprodutivo (Rebanho com 100 matrizes).


A suplementação o ano todo no primeiro ano reprodutivo da fêmea não trouxe nenhum benefício em relação à suplementação na seca, pois em ambos tratamentos 95 % das fêmeas criaram, sendo este valor 15% superior as fêmeas não suplementadas. Fato este que tornou a suplementação o ano todo inviável economicamente quando aplicada por dois anos consecutivos (tabela 3). No entanto já no segundo ano reprodutivo, a alta taxa de parições para este tratamento, e o reduzido número de reposições tornou a alternativa viável economicamente. Desta forma as estratégias de suplementação ainda poderiam ser combinadas, de forma a reduzir os custos de produção e otimizar a eficiência reprodutiva das fêmeas. Como por exemplo, suplementar apenas na seca antes da primeira estação de monta, e na seca subsequente, se estendendo pela estação de nascimentos até o final da segunda estação de monta.

Na tabela 3, utilizando as informações de desempenho do mesmo trabalho de Tedeschi et al. (2002) realizamos simulações econômicas, comparando a associação da suplementação na seca o ano todo no primeiro e segundo ano reprodutivo das fêmeas, em relação às estratégias utilizadas nos experimentos acima relatados.

Tabela 3: Análise econômica da suplementação de fêmeas com diferentes estratégias para o primeiro e segundo ano reprodutivo (Rebanho com 100 matrizes).


Com base no aspecto produtivo, é possível aumentar a safra de bezerros quando utiliza-se estratégia de suplementação de novilhas, especialmente das primíparas, sendo que os melhores resultados foram observados quando a suplementação foi realizada o ano todo.

Entretanto do ponto de vista econômico a melhor resposta foi a suplementação apenas na seca, e sua associação com a suplementação o ano todo no segundo ano reprodutivo também mostrou-se altamente viável.

Literatura Consultada

Tedeschi, L. O.; Nardon, R. F.; Boin, C.; Leme, P. R. Efeito da suplementação durante o período de seca ou do ano todo na perfomance reprodutiva e no peso corporal de fêmeas guzerá e seus cruzamentos pastejando capim colonião (Panicum maximun Jacq.) Boletim da Industria Animal, Nova Odessa, n. 2, p. 185-195. 2002.

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