Agropecuária CFM aumenta sua presença em Tocantins
15 de julho de 2003
Governo brasileiro quer cooperação de países vizinhos na investigação dos focos de aftosa
17 de julho de 2003

Suplementação alimentar de vacas de cria: quando e por que fazer?

Por Thaís Basso Amaral1, Eduardo Simões Corrêa2, Fernando Paim Costa3

Introdução

No Brasil, a alimentação de bovinos de corte está baseada em pastagens de produção estacional, com o que a maior parte do rebanho sofre um déficit alimentar no período seco. Como conseqüência, tem-se uma baixa eficiência reprodutiva das matrizes e um lento desenvolvimento ponderal dos animais em recria e engorda.

Diante desse problema, a pesquisa tem buscado desenvolver alternativas de suplementação alimentar que sejam biológica e economicamente viáveis. Entretanto, a maioria desses estudos utiliza animais em recria e engorda, tendo como objetivo melhorar o desempenho ponderal e, conseqüentemente, reduzir a idade de abate (Thiago, 1995; Thiago & Silva, 2000; Euclides & Euclides Filho, 2001; Euclides et al., 2001). A complexidade da fase de cria e o conceito de que suplementar matrizes de corte no Brasil é economicamente inviável, possivelmente, explicam o reduzido número de trabalhos nacionais envolvendo a suplementação de vacas de cria.

Para melhorar a eficiência reprodutiva, pastos de boa qualidade deveriam ser destinados às fêmeas em final de gestação, principalmente aquelas com má condição corporal. Na prática, porém, isso raramente é possível, pois grande parte das pastagens encontra-se em degradação e aquelas mais produtivas são destinadas às categorias de recria e engorda. Por este motivo, a suplementação alimentar de vacas de cria pode ser uma alternativa interessante.

Monitoramento do estado nutricional do rebanho

Para tomar decisões sobre a suplementação de vacas é imprescindível avaliar seu estado nutricional, preferencialmente na época da desmama. Desta forma é possível identificar os animais que necessitarão de um manejo diferenciado para parir em bom estado.

A avaliação do estado nutricional dos bovinos pode ser realizada de várias formas. O escore da condição corporal (CC) é o parâmetro mais utilizado, sendo de fácil aplicação e baixo custo. Diversos estudos demonstram que a CC é altamente correlacionada com a quantidade de gordura corporal, sendo portanto uma forma confiável de se avaliar o estado nutricional do rebanho (Wiltbank, 1991).

Além disso, a nutrição e a CC apresentam grande impacto sobre a eficiência reprodutiva (Richards et al, 1986, Selk et al, 1988, Short et al, 1990,Valle et al, 1998). Segundo estes autores, para otimizar a reprodução as vacas devem ser manejadas para atingir, ao parto, uma CC de 5 a 7, numa escala de 1 a 9 pontos. Ainda, a porcentagem de vacas vazias, o intervalo entre partos, a produção de leite e o peso à desmama estão intimamente relacionados à condição corporal da vaca ao parto e durante a estação de monta. (Kunkle et al, 1994).

Em que época do ano deve ser feita a suplementação?

A recuperação da condição corporal das vacas pode ser feita antes ou após o parto, havendo divergências sobre a melhor época.

Recuperar a condição corporal após o parto pode ser muito oneroso, pois a época de parição geralmente coincide com o fim do período seco, quando a qualidade e a quantidade de forragem disponível é ainda pequena, exigindo uma maior quantidade de suplementos. Além do mais, as exigências nutricionais das vacas são maiores, devido à produção de leite. Finalmente, há pouco tempo até o início da estação de monta subseqüente, que começa em torno de 60 dias após o parto.

A segunda alternativa – melhorar a condição corporal antes do parto – é mais vantajosa, pois além dos requerimentos nutricionais serem menores há o efeito anabólico promovido pela progesterona, hormônio responsável pela manutenção da gestação. Desta forma, consegue-se um maior ganho de peso com menor quantidade de suplemento, com as fêmeas parindo em bom estado nutricional, o que é fundamental para se obter bons índices reprodutivos.

Categorias prioritárias a serem suplementadas

Em situações onde há escassez de forragem, ou onde a seca é muito prolongada, a suplementação alimentar pode ser usada de forma estratégica, restrita a determinadas categorias eleitas como prioritárias. Novilhas em final de gestação, que serão as futuras vacas de primeira cria, são mais exigentes, pois ainda estão em crescimento; portanto, sem uma nutrição adequada os índices de reconcepção serão baixos. Vacas multíparas prenhes, com CC abaixo de cinco, também devem ser suplementadas.

Uma estratégia recomendada, de fácil utilização, é avaliar a condição corporal das vacas na época do desmame, a qual geralmente coincide com o diagnóstico de gestação. As vacas prenhes magras são então apartadas e passam a receber um tratamento diferenciado, seja suplementação com proteinado, ração ou mesmo pastejo em um pasto de melhor qualidade, dependendo do caso.

Recomendações para a suplementação

Para o sucesso de um programa de suplementação, recomenda-se que o produtor procure assistência técnica especializada. A formulação e a quantidade do suplemento a fornecer são função da quantidade e da qualidade da forragem disponível, cujo conhecimento depende de uma análise do valor nutricional da pastagem. As seguintes recomendações gerais devem ser observadas:

– Área de cocho suficiente para que todos animais tenham acesso ao suplemento. Para tanto, são necessários pelo menos 20 cm lineares de cocho por cabeça;
– Suplementação com freqüência diária. Para facilitar o manejo, o suplemento deve ser armazenado em pontos estratégicos das invernadas, ou em praças de alimentação. Essa rotina promove maior controle do consumo, além de tornar os animais mais dóceis;
– Observância dos requerimentos minerais e vitamínicos, que devem ser calculados em função da exigência das categorias suplementadas;
– Respeito aos limites de uso de fontes de nitrogênio não protéico, para evitar problemas de intoxicação.

Resultados de simulação em um sistema de produção

Com o intuito de avaliar a economicidade da suplementação alimentar de vacas de cria no período pré-parto, foram realizadas simulações utilizando-se planilhas eletrônicas desenvolvidas pela Embrapa Gado de Corte.

Comparou-se um sistema tradicional (ST) e um sistema melhorado (SM), com taxas de natalidade médias de 75% e 85%, respectivamente. Em SM, as fêmeas com CC abaixo de 5 na época da desmama recebem suplementação alimentar durante 100 dias, visando elevar a CC ao parto para 5, valor mínimo para obter-se boas taxas de prenhez. A suplementação consistiu em 1,5 kg/dia de ração concentrada (R$ 0,43/kg).

Os resultados da simulação indicaram uma margem líquida 14% superior para SM, apesar do custo de produção mais elevado. Portanto, em situações onde as condições nutricionais são desfavoráveis, a suplementação estratégica de vacas com baixa CC antes do parto pode ser compensadora, merecendo ser avaliada para cada caso.

Conclusões

Antes de mais nada, é importante salientar que o produtor deve estar consciente da importância de oferecer aos animais pastagens de boa qualidade, manejando-as corretamente e investindo em reformas, quando necessário. A suplementação alimentar não deve ser utilizada como meio de corrigir problemas de manejo inadequado, como ocorre em propriedades onde as pastagens estão degradadas e os pastos de pior qualidade são reservados para as vacas de cria.

A suplementação deve então ser vista de forma estratégica, para categorias prioritárias como vacas de primeira cria, e quando as vacas apresentam uma condição corporal baixa. Vacas que parem com condição corporal ruim, isto é, abaixo de 5 em uma escala de 1 a 9, possuem taxas de reconcepção baixas, o que acarreta prejuízo ao produtor.

Deve-se salientar que qualquer tomada de decisão relativa a suplementar alimentar deve ser precedida de um planejamento cuidadoso, com ênfase na análise econômica, uma vez que os custos desta suplementação são bastante altos.

Referências bibliográficas

EUCLIDES, V. P. B.; EUCLIDES FILHO, K. Produção de carne em pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGENS , 18., 2001, Piracicaba. Anais… Piracicaba: 2001, FEALQ. p.351-369.

EUCLIDES, V. P. B.; EUCLIDES FILHO, K.; COSTA, F. P.; FIGUEIREDO, G. R.; 2001. Desempenho de novilhos F1s Angus- Nelore em pastagens de Brachiaria decumbens submetidos a diferentes regimes alimentares. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 30, n. 2, p. 451-462, 2001

KUNKLE, W. E. SAND, R. S., ERA, D. O. Effect of body condition on productivity in beef cattle. In: FIELDS, M. J., SAND, R.S. (Ed) .Factors Affecting Calf Crop . Boca Raton: CRC Press, 1994, p. 167 – 178.

RICHARDS, M. W. , SPITZER, J.C., WARNER, M.B. Effect of varying levels of pospartum nutrition and body condition at calving on subsequent reproductive performance in beef cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 62, n.2, p. 300 – 306, 1986.

SELK G. E., WETTEMANN, R.P., LUSBY, K. S., OLTJEN, J.W., MOBLEY, S.L., RASBY, R.J., GARMENDIA, J.C. Relationships among weight change, body condition and reproductive performance of range beef cows. Journal of Animal Science, Champaign, v. 66, p. 3153 – 3159, 1988.

SHORT , R. E., BELLOWS, R.A., STAIGMILLER, R.B., BERARDINELLI, J.G., CUSTER, E.E. Physiological mechanisms controlling anestrous and infertility in post partum beef cattle. Journal Animal Science, Champaign, v. 68, p. 799 – 816, 1990.

THIAGO, L. R. L. de S. Misturas multiplas : uma alternativa para a seca. CNPGC Informa, Campo Grande, v.8, n.2, p. 2, 1995.

THIAGO, L. R. L. de S.; SILVA, J. M. da. Suplementação de bovinos em pastejo. In: CURSO SUPLEMENTACAO EM PASTO E CONFINAMENTO DE BOVINOS, 2000, Campo Grande. Palestras apresentadas. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2000. p. 47-57. (Embrapa Gado de Corte. Documentos, 86. )

VALLE, E. R., ANDREOTTI, R., S.THIAGO, L. R. Estratégias para o aumento da eficiência reprodutiva e produtiva em bovinos de corte. Campo Grande, MS, 1998 (Embrapa Gado de Corte. Documentos, 71) .

WILTBANK, J.N. Body conditioning scoring in beef cattle. In: NAYLOR, J.; RALSTON, S.L. Large animal clinical nutrition. St. Louis: Mosby Year Book, 1991, p. 164 – 178.
________________
1Thaís Basso Amaral é médica veterinária e pesquisadora Embrapa Gado de Corte
2Eduardo Simões Corrêa é engenheiro agrônomo e pesquisador Embrapa Gado de Corte
3Fernando Paim Costa é engenheiro agrônomo e pesquisador Embrapa Gado de Corte

Os comentários estão encerrados.