Marcelo Manella1 e Celso Boin2
Na busca pela maior eficiência produtiva de um sistema de produção, a perfeita harmonia entre cria, recria e engorda são fatores determinantes para sucesso do mesmo. Neste contexto, o peso dos bezerros a desmama é um dos pontos chaves para redução da idade ao abate e melhoria na taxa de desfrute.
Estima-se que, no segmento de cria, seja consumido (vaca/bezerro) cerca de 50% dos nutrientes exigidos para a produção do animal pare o abate.
Nesta fase o desenvolvimento do bezerro é basicamente influenciado pela produção de leite da mãe, que por sua vez é determinado pela disponibilidade de nutrientes para a vaca, e pela qualidade do pasto, principalmente a partir de 3 a 4 meses de idade. A produção de leite passa a diminuir acentuadamente partir de dois meses pós-parto, principalmente em vacas zebuínas, prejudicando o crescimento do bezerro, especialmente em pastagens de gramíneas tropicais . Desta forma o uso de Creep Feeding pode ser uma estratégia importante para evitar a “interrupção” no crescimento do bezerro na fase de aleitamento, por complementar as exigências nutricionais parcialmente supridas pela ingestão do leite materno e pela pastagem tropical. Pacola et al. (1989) estudou por quatro anos consecutivos os efeitos da suplementação de bezerros da raça Nelore mantidos juntamente com suas mães em pastagens de capim colonião.
Foram utilizados 495 bezerros distribuídos em dois tratamentos, com e sem suplementação (“creep feeding”). O suplemento usado no creep era composto por mistura quirera de milho e farelo de algodão (13,.2% de PB) e mistura mineral, sendo fornecido a partir de dois meses de idade. Os resultados obtidos foram de 13 kg a mais na desmama para os animais criados em creep feeding (Tabela 1), sendo que diferenças significativas no peso já eram observadas aos 120 dias.
Tabela 1: Desenvolvimento de bezerros criados em creep feeding ou a pasto
O consumo médio do suplemento aumentou com a idade do bezerro, sendo que a média foi de 328 g/cabeça/dia, que segundo os autores foi baixo, em função do experimento ter ocorrido no período da águas e, conseqüentemente, houve maior disponibilidade de forragem, o que influenciou de maneira positiva a produção de leite pelas vacas.
Outro ponto observado no trabalho foi o benefício para as vacas, cujos bezerros foram suplementados, que na desmama apresentaram maior peso (486,4 x 477,4 kg) e o mais importante, um aumento de 5 pontos percentuais na taxa de prenhez (79,0 x 73,5) quando comparadas com as vacas cujos bezerros não receberam suplementação.
Recentemente, Silveira et al. (2001), apresentou resultados de creep feeding, no sistema de super precoce, com animais mestiços ½ Simental-Nelore. O suplemento, segundo Silveira, deve apresentar composição semelhante ao leite da vaca, devendo-se lançar mão de fontes alimentares de boa qualidade. As respostas, tanto para o peso a desmama, como para a fertilidade das matrizes, foram melhores para sistema com “creep feeding” (Tabela 2).
Tabela 2: Peso de bezerros mestiços a desmama e fertildade de matrizes Nelore
Em um sistema convencional os bezerros são desmamados com 25-35% do peso de abate (450 kg). Com o uso de creep, esta relação pode ser de 41% para Nelore (Pacola et al., 1989) e 54% para mestiços (Silveira et al., 2001), implicando de modo efetivo no menor tempo para os animais atingirem o peso de abate, deste que manejados adequadamente nas fases subsequentes.
De modo geral, os benefícios a serem obtidos com tal técnica são: maior peso a desmama dos bezerros, melhora na condição corporal das vacas, por serem menos exigidas para produção de leite, e consequentemente melhor índice de fertilidade.
A suplementação alimentar de bezerros em creep feeding é apenas uma ferramenta a ser usada no sistema, e recomendado em função dos objetivos e estratégias do mesmo, se para produção de novilho precoce, super precoce, ou apenas para suprir o déficit nutricional no período da seca.
Referências:
Pacola, L. J.; Razook, A. G., Neto, L. M. B.; Figueiredo, L. A. 1989. Influência da suplemetação em cocho privativo sobre o desempenho pósdesmama de bezerros nelore. Boletin da Industria Animal, p.13, v.48, n.1.
Silveira, A. C.; Arrigoni, M. D. B.; Oliveira, H. N.; Costa, C.; Chardulo, L. A. L; Silveira, L. G. G.; Martins, C. L. 2001. Produção de novilho superprecoce. In: A produção animal na visão dos brasileiros, Ed. Wilson Roberto Soares Mattos, et al., Piracicaba-SP. FEALQ, p. 284.