A produção de gado de corte baseada em pastagens nos trópicos apresenta uma característica marcante na curva de crescimento dos animais, com períodos de ganho de peso satisfatório, intercalados por períodos de baixo desempenho ou perda de peso. Esses diferentes períodos de crescimento dos bovinos em pastejo estão intimamente relacionados à estacionalidade e crescimento das plantas forrageiras. Aproximadamente 70 a 80% da produção anual das forrageiras tropicais concentram-se nos meses de maiores índices pluviométricos, produzindo somente 20% no período de secas. O baixo desempenho dos animais nas estações secas, leva ao aumento da idade de abate e conseqüentemente queda na qualidade da carne produzida. Assim sendo, a flutuação na oferta de alimentos para os animais mantidos a pasto é fator limitante, refletindo-se na produção animal levando a menores índices zootécnicos.
A bovinocultura de corte brasileira deverá estabelecer sistemas como o de suplementação a pasto, semi-confinamento ou confinamento, capazes de produzir carne de boa qualidade a baixo custo. O ganho de peso depende principalmente do suprimento de aminoácidos e de substratos energéticos para os tecidos, considerando que o limite genético para síntese protéica, dificilmente seria alcançado pelos animais em pastejo (Poppi & Mclennan, 1995). Pesquisas foram conduzidas com o objetivo de reduzir a significativa perda de peso que ocorre durante o período de baixa produtividade forrageira, seja fornecendo fontes de nitrogênio não protéico, ou suplementando com alimentos alternativos. A suplementação protéica de animais em pastejo durante o período de secas elimina as fases negativas do crescimento. Essa suplementação pode ser feita através da associação de leguminosas (ex: Leucaena leucocephala) na forma de banco de proteína.
A suplementação protéica de animais em pastejo é uma ferramenta que permite corrigir dietas desbalanceadas, melhorando o ganho de peso vivo, a conversão alimentar, e por conseqüência diminuir os ciclos produtivos da pecuária de corte. A possibilidade de se alterar a composição corporal dos animais mantidos a pasto depende da obtenção de alta relação energia/proteína, em relação aos nutrientes absorvidos. O simples aumento dos teores protéicos do material ingerido não é uma garantia de maior suprimento intestinal de proteína por unidade de matéria seca ingerida, ou maior quantidade de proteína absorvida. Tal eficiência no aproveitamento da fração protéica dependeria da disponibilidade de energia para os microorganismos ruminais utilizarem a amônia oriunda da proteína degradada.
Souza, A.A. (2002) avaliou a influência da suplementação a pasto sobre o desempenho e produção por área de novilhos Nelore em terminação. Foram utilizados 128 bovinos machos castrados da raça Nelore, com idade e peso de aproximadamente 26 meses e 400 Kg, respectivamente. Os animais foram distribuídos nas seguintes tratamentos:
– Controle = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + suplemento mineral;
– Leucena = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + Banco de proteína (Leucaena leucocephala) + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil úmido® (animal/dia) + suplemento mineral;
– Supl.1 = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil úmido® + 0.5 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral;
– Supl.2 = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil® úmido + 1 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral.
Os suplementos foram compostos a partir de 3 subprodutos agroindustriais e uréia. O suplemento alimentar do tratamento leucena continha somente polpa cítrica e refinazil®, proporcionando uma suplementação energética aos animais deste grupo. Já os tratamentos Supl.1 e 2 apresentavam farelo de soja e uréia, além de refinazil® e polpa cítrica, promovendo dois níveis de proteína suplementar nesses tratamentos (Tabela 1).
Tabela 1. Composição bromatológica dos suplementos alimentares fornecidos nos diferentes tratamentos
O desempenho observado para o tratamento leucena mais suplementação energética, propiciou ganhos de 0,528 Kg/cab/dia, superior a ganhos observados durante a seca sem utilização de suplementação energética.
Tabela 2. Ganhos médios diários durante todo período experimental para os diferentes tratamentos.
Os animais do tratamento Supl.1 provavelmente conseguiram suprir suas exigências de proteína, igualando o GMD entre os animais dos tratamentos Supl.1 e 2. A suplementação alimentar proporcionou uma maior velocidade de crescimento aos animais suplementados em relação ao grupo controle.
Figura 1 – Peso vivo final de bovinos Nelore em terminação com diferentes suplementos alimentares.
A suplementação interferiu diretamente no ganho de peso dos animais, e conseqüentemente na produção por área. Os valores são apresentados na Figura 2.
Figura 2 – Produção por área de bovinos Nelore em terminação com diferentes suplementos alimentares.
A utilização de subprodutos agroindustriais, como a polpa cítrica e o refinazil® úmido para suplementação de bovinos em terminação a pasto, proporciona bom desempenho possibilitando redução nos custos de alimentação e na idade de abate.
A suplementação energético/protéica durante o período de secas, permite aumento do GMD de bovinos terminados a pasto, e conseqüentes aumentos de produção por área.
Referências bibliográficas
SOUZA, A.A. Uso de subprodutos agroindustriais para suplementação de novilhos em terminação durante o período de secas. Piracicaba, 2002. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.
POPPI, D.P.; McLENNAN, S.R. Protein and energy utilization by ruminants at pasture. Journal of Animal Science, v. 73, n.1, p. 278-290, 1995.