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Suplementação mineral no período chuvoso vs época seca

Por Ivan Valadão Rosa1

A palavra-chave em nutrição animal é equilíbrio. Isso significa que nada vale ter determinados nutrientes essenciais presentes em quantidades generosas na dieta animal, enquanto outros estão presentes em níveis subótimos ou deficientes. Até pouco mais de uma década atrás era normal para os fabricantes de suplementos minerais para bovinos vender mais seus produtos durante os meses de seca do que durante o período chuvoso. O pressuposto básico aqui envolvido era: como os pastos são mais pobres em minerais durante o período seco do ano, seria justamente essa a época em que a suplementação se faria mais indispensável. Ledo engano.

Começamos a questionar esse conceito ao observar em nossas pesquisas a aparente ausência de resposta dos bovinos às misturas minerais fornecidas durante os meses de seca. Três experimentos realizados em três estados (MS, GO e MG) comprovaram a nossa hipótese. Ou seja, comparando-se grupos de animais em crescimento, recebendo apenas sal comum durante período seco, com outros grupos recebendo diferentes suplementos minerais, não foram observadas diferenças em desempenho durante esse período entre os diversos grupos, em dois anos consecutivos. Tampouco foram registradas alterações nas concentrações de minerais em diversos tecidos examinados, bem como quaisquer efeitos remotos sobre a saúde ou o desempenho dos animais privados de minerais durante os meses de seca. A explicação para este achado de nossa pesquisa é bastante simples: na estação seca do ano ocorre nas forrageiras redução drástica de praticamente todos os nutrientes essenciais à saúde e ao desempenho animal – e não apenas de minerais.

Em conseqüência, principalmente, do declínio acentuado da proteína nos tecidos da planta, associado a uma redução da energia e perda de digestibilidade que resulta numa diminuição no consumo de matéria seca, pode-se chegar a uma condição em que os níveis desses nutrientes na dieta animal não sejam suficientes para manter desempenho positivo dos animais. Por isso, não é incomum que os bovinos apenas mantenham o peso durante a seca ou cheguem a perder algum em razão do consumo de suas reservas de gordura e massa muscular na tentativa atender as suas demandas metabólicas. Com desempenho baixo, nulo ou negativo, as demandas de minerais pelo animal são reduzidas acentuadamente, tornando menos importante ou desnecessária a suplementação nesse período.

Como a nossa pesquisa foi realizada com animais em crescimento, consideramos que os resultados são válidos também para animais em terminação, que são menos exigentes do que aqueles. Entretanto, não nos abalançamos a estendê-los também ao gado de cria, por uma condição peculiar a esta categoria de bovinos: normalmente, nas condições do Brasil Central Pecuário, os meses de seca coincidem com o final de gestação ou início de lactação nas vacas enxertadas durantes os primeiros meses do período chuvoso, o que faz com que as suas maiores demandas nutritivas, incluindo as de minerais, se concentrem exatamente no período em que as forrageiras têm menos a oferecer em quantidade e qualidade. Esta condição contrasta com a dos animais em crescimento ou terminação, que, em função do desempenho baixo, nulo ou negativo, tem seus requerimentos minerais drasticamente diminuídos.

Frente a esta condição inescapável, a alternativa mais viável, tanto biológica como economicamente, é suplementar os bovinos nesse período, qualquer que seja a sua categoria, com produtos que contenham, além de minerais (estes em menores níveis porque o desempenho animal é sensivelmente mais baixo nesta época), também fontes protéicas (uréia e proteína verdadeira). Tais produtos têm seu consumo limitado a cerca de 100 a 150g/100 kg de peso vivo, em função de seus níveis de sal comum e uréia. Se adequadamente utilizados, desde que exista boa disponibilidade de pastos (ainda que de baixa qualidade), podem proporcionar expressivas melhoras no desempenho produtivo e reprodutivo dos bovinos de corte, com ampla relação custo/benefício, reduzindo destarte as sérias conseqüências do período de crise forrageira sob a performance animal.

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Ivan Valadão Rosa é médico veterinário, PhD em Nutrição Animal e Assessor técnico da Damha Nutrição Animal e foi, durante 20 anos, pesquisador da EMBRAPA – Gado de Corte , em Campo Grande (MS).

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