A produção de gado de corte baseada em pastagens nos trópicos apresenta uma característica marcante na curva de crescimento dos animais, com períodos de ganho de peso satisfatório, intercalados por períodos de baixo desempenho ou de perda de peso. Esses diferentes períodos de crescimento dos bovinos em pastejo estão intimamente relacionados à estacionalidade e ao crescimento das plantas forrageiras. Aproximadamente 70 a 80% da produção anual concentram-se nos meses de maiores índices pluviométricos, produzindo somente 20 a 30% no período de secas. O baixo desempenho dos animais nas estações secas, está ligado a 2 situações: no primeiro caso a quantidade de forragem disponível é o fator mais limitante; no segundo caso, embora a quantidade de forragem possa não ser limitante, a qualidade geralmente é. Essa segunda situação ocorre quando se usam sobras do período de crescimento para serem usadas durante o período seco. A limitação do crescimento dos animais durante o período seco acarreta maiores idades ao abate e à primeira cobertura (parição).
Assim sendo, a flutuação na oferta e ou na qualidade de forragem para os animais mantidos a pasto são fatores limitantes, refletindo-se na produção animal, levando a menores índices zootécnicos. Cerca de 80% do rebanho nacional está abrigado em regime de pastejo, sendo que a Brachiaria spp. perfaz aproximadamente 70% das áreas de pastagens.
O ganho de peso depende principalmente do suprimento de aminoácidos e de substratos energéticos para os tecidos, considerando que o limite genético para síntese protéica, dificilmente seria alcançado por animais em pastejo (Poppi & Mclennan, 1995). O suprimento de aminoácidos está diretamente relacionado ao conteúdo protéico da dieta, da sua transferência na forma de proteína não degradável e de microbiana (sintetizada pelos microorganismos a partir da proteína degradável no rúmen), e da absorção destas no intestino delgado. Por outro lado, a deposição protéica depende da eficiência do uso da proteína absorvida, que é função da disponibilidade de substratos energéticos e de aminoácidos essenciais limitantes.
A suplementação protéica de animais em pastejo é uma ferramenta que permite corrigir dietas desbalanceadas, melhorando o ganho de peso vivo, a conversão alimentar, e por conseqüência diminui os ciclos produtivos da pecuária de corte. A suplementação a pasto pode ter também grande influência na lucratividade da atividade pecuária, pois além de reduzir a idade de abate, diminui o custo fixo e permite maior velocidade no giro de capital da propriedade.
A adoção de fontes de nitrogênio não protéico como uréia, e de fontes de proteína vegetais, associadas às misturas minerais, é uma forma freqüentemente utilizada para diminuir a deficiência protéica de bovinos de corte durante o período de secas.
Acredita-se que em condições de pastagens tropicais, durante o período de secas, ocorra tanto deficiência de proteína degradável no rúmen (PDR), quanto de proteína não degradável no rúmen (PNDR). Com isso, haveria necessidade de adição de fontes de proteína pouco solúveis, quando da suplementação de animais recebendo dietas à base de forragens de baixa qualidade. Porém, as concentrações de PDR devem ser primariamente consideradas na suplementação protéica, para se obter a máxima degradação da forragem no rúmen (Bandyk et al., 2001).
Segundo Elgersma, et al., (2001), a inclusão de PDR em dietas com forragem de baixa qualidade, melhora a digestibilidade da fibra e aumenta a ingestão de matéria seca diária dos animais. Foram observados melhores resultados no desempenho dos animais com inclusão de PDR, tanto em dietas à base de feno de baixa qualidade (Mathis et al., 1999), como com 79.5% de milho quebrado (Shain et al., 1998).
As características de degradação e a qualidade da fonte protéica fornecida aos animais são de extrema importância. A utilização de fontes protéicas de menor degradação ruminal, vão proporcionar maior quantidade de proteína no intestino, mas isso não assegura melhora no desempenho, sendo esse dependente do valor biológico da fonte protéica utilizada. A simples substituição na dieta de PDR por PNDR, poderá causar deficiência PDR, afetando os microorganismos ruminais e diminuindo a degradabilidade da porção fibrosa da dieta.
Albro et al. (1993) ao comparar diversas fontes protéicas (soja integral, soja crua, soja extrusada ou farelo de soja) na suplementação de bovinos consumindo feno, observaram aumento na digestibilidade da matéria seca, e que os ganhos médios diários e a eficiência alimentar, dobraram em relação ao grupo controle, não sendo constatadas diferenças entre as fontes. Porém, nos animais recebendo soja extrusada observaram-se tendências de melhor desempenho, o que pode ter sido propiciado em parte pelas maiores quantidades de PNDR.
Bandyk et al. (2001) avaliaram o efeito da suplementação de PDR ou PNDR, na ingestão e digestão da matéria orgânica de dietas com forragens de baixa qualidade, e observaram que ambas aumentaram a ingestão. Os aumentos foram de 62 e 28% respectivamente, para PDR e PNDR, em relação ao grupo controle. Os autores concluíram que deve ser priorizada a inclusão de PDR, e que o excesso de proteína em relação às exigências dos microorganismos ruminais, passe e seja absorvido no intestino delgado.
O simples aumento dos teores protéicos do material ingerido não será uma garantia de maior suprimento intestinal de proteína por unidade de matéria seca ingerida, ou maior quantidade de proteína absorvida. Tal eficiência no aproveitamento da fração protéica dependeria da disponibilidade de energia para os microorganismos ruminais utilizarem a amônia oriunda da proteína degradada.
Portanto, a suplementação de bovinos de corte durante o período de secas deve ser bem planejada, levando-se em conta as condições das pastagens (quantidade e qualidade), categoria animal e consequentemente o balanço de nutrientes da dieta total proporcionada aos mesmos, senão poderá haver grande investimento e pouco retorno em relação ao ganho de peso dos animais.
Referências bibliográficas:
ALBRO, J. D.; WEBER, D.W.; DELCURTO, T. Comparison of whole, raw soybeans, extruded soybeans, or soybean meal and barley on digestive characteristics and performance of weaned beef steers consuming mature grass hay. Journal of Animal Science, v. 71, n. 1, p. 26-32. 1993
BANDYK, C.A.; COCHRAN, R.C.; WICKERSHAM, E.C.; TITGEMEYER, E.C.; FARMER, C.G.; HIGGINS, J.J. Effect of ruminal vs postruminal administration of degradable protein on utilization of low quality forage by beef steers. Journal of Animal Science, v. 79, n. 1, p. 225-231, 2001.
POPPI, D.P.; McLENNAN, S.R. Protein and energy utilization by ruminants at pasture. Journal of Animal Science, v. 73, n.1, p. 278-290, 1995.
ELGERSMA, A.; OERLEMANS, J.F.; COATES, D.B. The effect of browse species when fed as a supplement to low quality native grass hay on animal performance. In: INTERNATIONAL GRASSLANDS CONGRESS, 19., São Pedro, Brasil, 2001. Anais. Piracicaba: FEALQ, 2001. p. 712-713.
MATHIS, C.P.; COCHRAN, R.C.; STOKKA, G.L.; HELDJT, J.S.; WOODS, B.C.; OLSON, K.C. Journal of Animal Science, v. 77, n. 11, p. 3156-3162, 1999.
SHAIN, D.H.; STOCK, R.A.; KLOPFENSTEIN, T.J.; HEROLD, D.W. Effect of degradable intake protein level on finishing cattle performance and ruminal metabolism. Journal of Animal Science, v. 76, n. 1, p. 242-248, 1998.
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Os critérios para utilização de uréia, tanto em dietas para confinamento, quanto na formulação de suplementos para fornecimento a pasto, parece-me um tanto quanto confusa.
De um lado acompanho um sem número de posições e colocações a respeito de sua utilização no Fórum Técnico. Por outro lado, o Prof. Dante P. Lanna, no artigo Teor de proteína em dietas para confinamento, derruba algumas dessas colocações tidas como verdades absolutas e faz um alerta: Um ponto interessante é que muitos pecuaristas tinham e tem medo de usar uréia:
E DEVERIAM MESMO, PORQUE TEM MUITO TÉCNICO QUE AINDA NÃO SABE USAR ESTE VALIOSO ALIMENTO!
Pelo lado do fornecimento de suplementos a pasto, o Prof. Celso Boin afirma que: a meta seria manter, no suplemento protéico, proporção de PDR resultante no NNP inferior a 70% da PDR total do suplemento. Será que os nutricionistas estão atentos à esta regra e a seguem? Ou no afã de se obter suplementos mais ricos em PB e a custos mais moderados não a respeitam integralmente. Já presenciei extrapolação do limite de 70% para até 87%. Nessa corrida, qual seria o limite realmente aceito pelos bovinos?