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30 de setembro de 2003

Sustentabilidade econômica da adubação de manutenção com fósforo e potássio em pastagem consorciada de Panicum maximum

Por Herbert Vilela1, Fabiano A. Barbosa2, Duarte Vilela3 e Francisco Veriano da Silva Jínior4

Sustentabilidade econômica da adubação de manutenção com fósforo e potássio em pastagem consorciada de Panicum maximum e leguminosas sob pastejo, em solos sob cerrado e seu impacto na cadeia produtiva de carne bovina.

Introdução

A área de pastagem com espécies cultivadas no Brasil está em torno de 115 milhões de hectares, enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões. Estas áreas abrigam cerca 167 milhões de cabeças de bovinos o que proporciona uma taxa de lotação de 0,64 cabeças por hectare e produção de cerca de 7 milhões de toneladas de equivalente carcaça (ANUALPEC, 2003). A maior concentração dos cerrados localiza-se nas Regiões Fisiográficas Sudeste e Centro Oeste. Nestas Regiões, concentram-se 77,3% dos cerrados e 41,7% do rebanho bovino nacional (SATURNINO et al., 1976).

A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente a pasto, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. Considerando a fase de recria e engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 2 arrobas/ha/ano, enquanto em uma pastagem em bom estado pode atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano (Kichel & Kichel, 2002). Euclides et al. (1997) estudaram a recuperação de pastagens de Panicum maximum com aplicação de calcário, fósforo e potássio durante a formação, mas sem adubação de manutenção.

Os resultados mostraram que a produtividade caiu do primeiro para o terceiro ano em sistema de pastejo contínuo. Essa redução de produtividade se deve ao fato de que não foi realizada adubação de manutenção (Kichel & Kichel, 2002). Vilela et al. (1980) trabalhando com novilhos em pastagens de Panicum maximum com adubação de 100 kg de N/ha/ano e outra de Panicum maximum com Glycine javanica cv. Tinaroo e Macroptilium artropurpureum cv. Siratro, encontraram rendimentos de peso vivo /ano de 510 e 521 kg (primeiro ano), 754 e 540 kg (terceiro ano) respectivamente.

A estrutura de participação dos diversos componentes do Agronegócio brasileiro, em termos de valores e taxas percentuais, mostra que em 2001 o PIB do Agronegócio total atingiu R$ 344.954,5 milhões representando 27,06% do PIB do Brasil, enquanto que o PIB da pecuária com R$ 106.917,3 milhões, representa 8,39% do PIB do Brasil (CNA/CEPEA-USP).

Nas estimativas do projeto CNA/CEPEA-USP com relação ao Agronegócio do Brasil, o seu valor total no PIB em cada um dos seus complexos é composto em: a) insumos; b) o próprio setor; c) processamento; e d) distribuição e serviços. Com relação a estes quatros componentes tem-se que no complexo do Agronegócio da pecuária os percentuais de participação registrados são 6,85%, 41,96%, 17,11% e 34,35%, respectivamente. Especificamente para a pecuária, o próprio setor é que possui uma maior participação no PIB (41,96%).

O PIB da agropecuária tem efeito multiplicador nos demais setores da economia brasileira. Cada R$ 1,00 de renda obtida na atividade primária da agropecuária consegue gerar R$ 2,40 na indústria de insumos, na indústria de processamento de produtos agropecuários e nos serviços agregados a essas atividades, o que representa uma multiplicação de renda de 140% (CNA, 2003).

As exportações brasileiras de carne bovina no ano de 2002 foram de 930 mil toneladas de equivalente carcaça obtendo um valor de exportação de R$ 3.600 milhões (ANUALPEC, 2003). A proposta de trabalho está relacionada ao impacto da participação das exportações de carne bovina no PIB nacional e fundamentada na economicidade da adubação de manutenção com fósforo e potássio em pastagens de gramíneas consorciadas com leguminosas em um sistema de pecuária bovina de corte.

Portanto, o que se propõe, baseando-se no aumento das exportações e nos resultados de pesquisa obtidos, é a criação de um Programa Nacional de Sustentabilidade de Pastagens Cultivadas (com leguminosas), mediante o uso criterioso, porém sistemático de Fósforo e Potássio, como adubação de manutenção.

Metodologia da pesquisa

O trabalho foi conduzido na Região do Alto São Francisco de MG, em pastagem consorciada de Pannicum maximum Jacq, (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis e com Glycine wightii. A pastagem foi estabelecida em out/90 após a derrubada da vegetação de cerrado. Foram aplicados 2.500kg/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5 na forma de termofosfato e 60kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio. No plantio usou-se 15kg/ha de semente, de capim Panicum maximum e 6,0kg/ha de uma mistura de leguminosas estilosantes e soja perene em proporções iguais.

Nos meses de janeiro, dos anos subseqüentes ao da formação da pastagem procedeu-se a adubação de manutenção, que correspondeu aos tratamentos: T1 – níveis zero de fósforo e de potássio, T2 – níveis 20kg de P2O5/ha e de 20kg K2O/ha, T3 – níveis 40kg de P2O5/ha e 40kg de K2O/ha, aplicados nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente.

As análises estatísticas dos parâmetros avaliados foram realizadas de acordo com o delineamento experimental de blocos ao acaso, com os tratamentos distribuídos em parcelas que eram constituídas pêlos níveis de fósforo e potássio usados.

Resultados e discussão

O nível de adubação de fósforo e potássio aumentou a disponibilidade de forragem disponível com maior participação das leguminosas nas pastagens além de menor porcentagem de ervas e arbustos e cobertura morta que influenciaram no aumento da produtividade. A adubação aumentou a área de solo coberta pela forrageira e, consequentemente a forragem disponível por área. Os níveis de adubação usados modificaram a cobertura vegetal das pastagens ao longo dos anos. A leguminosa Estilosantes teve maior participação na cobertura do que a soja perene. Este resultado pode ser devido a melhor adaptação do Estilosantes ao nível de adubação usado.

As adubações usadas mostraram efeitos consistentes sobre os rendimentos em peso vivo obtidos ao longo dos anos (Tabela 1). Observa-se que os níveis 20kg/ha de P2O5 e de K2O tendem a manter os rendimentos em peso vivo em determinado patamar, os níveis 40kg/ha de P2O5 e de K2O a aumentá-los e os níveis zero a decrescê-los em relação aos obtidos inicialmente (Tabela 1). O maior rendimento em peso vivo por ano obtido neste trabalho (560kg/ha) foi superior aos obtidos por ZIMMER (1997), VILELA et al. (1978) e EUCLIDES et al. (1998).

Observa-se que a sustentabilidade de pastagem cultivada em cerrado é precária, requerendo atenção especial às causas de degradação das pastagens principalmente, a que se refere às práticas culturais de adubação de manutenção. Verifica-se que a produção de carne por hectare por ano, ao nono ano de sua utilização, sem nenhuma adubação de manutenção, é igual à produção de carne de uma pastagem nativa (VILELA, 1978).

Tabela 1 – Taxa de lotação e rendimento em peso vivo de pastagem submetida a três níveis de adubação de fósforo e potássio, durante nove anos.


Médias com letras maiúsculas, dentro do ano, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de F. Médias com letras minúsculas, dentro da coluna, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de F. Barbosa et al. (2003) realizaram a avaliação econômica deste trabalho e encontraram que a adubação de manutenção de 40 kg de P2O5 e K2O por hectare por ano aumentou a produtividade ao longo dos anos com 23,44 e 34,14 @/ha/ano para o ano 1 e 9, respectivamente. O custo da arroba diminuiu R$ 44,06 e 38,87 para o ano 1 e 9, respectivamente, pois a produtividade aumentou diluindo os custos totais. O T2 e o T3 obtiveram retorno do capital investido no Ano 7 e 6, respectivamente, tornando a atividade economicamente viável, isto é as receitas obtidas da atividade pagam os desembolsos, depreciações, juros de capital de 8% a.a., além de retornar o investimento inicial aplicado. O T3 apresentou o melhor resultado econômico com maior valor presente líquido e maior taxa interna de retorno.

Tomando por base os resultados obtidos neste trabalho pode-se obter uma lotação de 1,73 cabeças por hectare nas áreas de pastagens cultivadas, o que resultaria em um suporte para 198.950.000 cabeças, em 115 milhões de hectares, significando um aumento de 19%. Considerando que este aumento da produção de carnes seja exportado, significa uma produção de 1.110 mil toneladas de equivalente carcaça gerando uma receita de R$ 4.290 milhões, e quando comparado aos dados do ano de 2002, propicia uma receita adicional direta de R$ 690 milhões e na cadeia produtiva de R$ 966 milhões.

Conclusões

Nas condições deste trabalho a adubação de manutenção mostrou-se importante a partir do segundo ano de utilização da pastagem.

O nível de 40kg de P2O5 e K2O por hectare pode aumentar a capacidade de suporte de pastagens para 1,73 UA/hectare com viabilidade econômica, propiciar uma receita adicional direta de R$ 690 milhões proveniente da exportação de carne bovina e na cadeia produtiva de R$ 966 milhões.

Referências bibliográficas

ANUALPEC 2003. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2003. 400p.

BARBOSA, F.A., VILELA, H, MAFFEI, W.E. Avaliação econômica da adubação de manutenção de pastagens com Panicum maximum e leguminosas em pecuária bovina de corte. In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 40, 2003, Santa Maria. Anais…, Santa Maria: SBZ, 2003, CD-ROM.

EUCLIDES, V.P.B., MACEDO, M.C.M., OLIVEIRA, M.P. Desempenho animal em pastagens de gramíneas recuperadas com diferentes níveis de fertilização. In: REUNIÃO ANUAL SOCIEDADE BRASILEIRA ZOOTECNIA, 34, 1997, Juiz de Fora, Anais … Juiz de Fora: SBZ, 1997, v.2, p-201-203.

EUCLIDES, V.P.B., EUCLIDES FILHO, K., ARRUDA, Z.J., FIGUEIREDO, G.R. Desempenho de novilhos em pastagens de Brachiaria deceumbens submetidos a diferentes regimes alimentares. Revista Bras.Zootec., v.27, p.246-254, 1998.

KICHEL, A. N., MIRANDA, C.H.B., BIANCHI, I. et al.Degradação e formas de recuperação e renovação e manejo de pastagens. In: ENCONTRO DE TECNOLOGIA PARA PECUÁRIA DE CORTE, 15, 2002,Campo Grande. Anais . Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 2002, p.7-27.

KICHEL, A. N., KICHEL A.G. Sistemas extensivos e intensivos de produção de carne custo/benefício. In: SIMPÓSIO DE PECUÁRIA DE CORTE, 2, 2002, Lavras. Anais . Lavras: UFLA, 2002, p.19-42

SATURNINO, H.M., MATTOSO J., CORREA, A.S. Sistema de Produção Pecuária nos cerrados. In: Simpósio sobre Cerrados, 1, Brasília, 1976, Anais… Brasília: CPAC / EMBRAPA, 1976. p.121

VILELA, H., OLIVEIRA, S., PIRES, J A.A. Desempenho de Novilhos Mestiços em Pastagem Natural e Melhorada em Latossolo Vermelho Escuro. Arq. Esc. Vet. v. 30, n.3, p. 317-324, 1978.

VILELA, H., FERNANDES, W., POSSATO, J.,R., FILHO, A.,G.,T. Manejo de pastagens em área de cerrado – pastagens de Capim Guiné (Panicum maximum Jacq. cv. Guiné) com nitrogênio mineral X leguminosas (III ano). In: REUNIÃO ANUAL SOCIEDADE BRASILEIRA ZOOTECNIA, 17, 1980, Fortaleza, Anais … Fortaleza: SBZ, 1980, p-432-433.

ZIMMER, A.H. e EUCLIDES F.K. As pastagens e a pecuária de corte brasileira. In:Simpósio Internacional sobre Produção Animal em Pastejo.,1,1997.Anais… Viçosa:UFV, 1997, Simpósio, p.379.
__________________________
1Herbert Vilela é engenheiro agrônomo, Professor Visitante do Departamento de Produção Animal da Universidade Federal de Uberlândia

2Fabiano A. Barbosa é médico veterinário, mestrando em Zootecnia – Escola Veterinária – UFMG

3Duarte Vilela é engenheiro agrônomo e pesquisador da EMBRAPA/CNPGL

4Francisco Veriano da Silva Jínior é engenheiro agrônomo e mestrando em Zootecnia – Escola Veterinária – UFMG

0 Comments

  1. João Carlos de Campos Pimentel disse:

    Excelente trabalho!

    Prezados pesquisadores,

    Trabalhos como estes precisam chegar com mais rapidez ao maior número possível de pecuaristas.

    Atenciosamente,
    João Pimentel