Sustentabilidade na cadeia produtiva (vídeo e artigo)

O artigo que se segue tem como meta abordar a complexidade da cadeia produtiva, a importância da sociedade civil e da ação articulada da cadeia, e apresentar o grupo de trabalho (GT) da Pecuária Sustentável.

A cadeia de valor da pecuária é de grande complexidade, envolvendo um conjunto amplo e diverso de atores econômicos, sociedade civil e órgãos públicos. Para que se encontre soluções viáveis economicamente e sustentáveis no ponto de vista ambiental e social, é importante termos claro que não serão encontradas soluções de maneira isolada e sim com ações articuladas entre todos os atores envolvidos nessa atividade.

O artigo que se segue tem como meta abordar a complexidade da cadeia produtiva, a importância da sociedade civil e da ação articulada da cadeia, e apresentar o grupo de trabalho (GT) da Pecuária Sustentável.

A pecuária está enfrentando polêmicas e denúncias atualmente por ser uma das atividades com maior impacto ambiental, devido à grande área que ocupa no país e pelos impactos que isso pode gerar nos seus recursos naturais. Em 2008, a exportação brasileira de carne bovina passou por uma grande restrição do mercado europeu, especialmente relacionada às questões sanitárias. Já em 2009, o relatório do Greenpeace provocou grande reação no mercado quanto às questões socioambientais. Existem possibilidades de novas campanhas, não só do ponto de vista socioambiental, mas também questionando o próprio consumo de carne bovina. Por isso, o setor está sendo desafiado formular estratégias e encontrar soluções especialmente para os impactos socioambientais.

As campanhas promovidas pelas ONGs não são problemas só da pecuária. Essas campanhas são características da sociedade e são um fenômeno social importante nas últimas décadas. É muito importante para o setor compreender também como outros setores reagiram a campanhas como estas.

Nos anos 80, processos semelhantes aconteceram por exemplo na indústria de petróleo, quando grandes problemas causados pelos vazamentos de petróleo provocaram forte reação das ONGs, forçando as indústrias a adotar medidas mais efetivas de controle. Outro exemplo é o da indústria química. O acidente de Bhopal na Índia provocou forte reação das ONGs sobre todo o setor, pressionando as empresas a adotar medidas efetivas de segurança. Outro caso é a indústria de madeira, uma das mais atacadas desde os anos 80, que sofreram um boicote promovido por ONGs em 1984, causando grandes perdas no setor. O setor de mineração nos anos 90, passou por uma forte campanha questionando os impactos socioambientais dessa atividades. Já em 1995 a Nike foi denunciada amplamente devido aos casos de trabalho infantil na sua cadeia de fornecedores e até hoje a empresa não recuperou o valor da sua marca. Aconteceu também uma campanha contra o óleo de palma, “Esse Oleo é cruel”, que fez fortes denúncias contra a ameaça de extinção de Orangotangos na Ásia. E a mais recente, a campanha do Greenpeace “Comendo a Amazônia”, que provocou impacto muito forte em grandes empresas como Mc Donald´s, Bunge e Cargil, fazendo com que as empresas tivessem reações muito importantes.

De todas as situações apresentadas, cada empresa reagiu de uma forma. Algumas simplesmente disseram que eram denúncias mentirosas e que suas empresas eram responsáveis. Esses argumentos não funcionaram, uma vez as empresas foram cada vez mais questionadas e tiveram perdas econômicas e de mercado significativas. Outras resolveram revalorizar suas imagens desgastadas pelas campanhas, tentando maquiar sua imagem através de campanhas de propaganda. Aos poucos as pessoas perceberam que as imagens não correspondiam às ações concretas. Por fim, a forma mais eficaz, foi a construção de padrões de sustentabilidade reconhecidos, como a indústria de petróleo, a indústria química e a Nike, que adotaram padrões de controle de poluição em parcerias com ONGs, a indústria madeireira que adotou sistemas de certificação, a criação da Mesa Redonda do óleo de palma, e por fim a soja, que está se reorganizando com apoio de ONGs para definição de critérios visando evitar o desmatamento.

As empresas encontraram soluções viáveis para seus negócios através do diálogo com outras organizações, mostrando que as empresas devem encarar as mudanças como novas oportunidades de negócio, construindo uma legitimidade na sociedade que mantenha e crie oportunidades de acesso aos mercados.

A pecuária atua com grandes e pequenos produtores, direcionados ao mercado externo e interno, com mercados onde os impactos socioambientais da produção estão começando a se tornar critério de acesso. Primeiramente, então, é necessário reconhecer tais problemas e tentar construir soluções, agindo de forma efetiva através de medidas que possam recuperar as condições de produção e reduzir impactos ambientais e sociais. Além disso, a legitimidade do setor deve ser fortalecida, o que não significa apenas promover campanhas de marketing para valorizar as imagens das empresas, mas sim construir sua legitimidade dialogando com os críticos do setor, identificando assim são os problemas para desenvolver soluções conjuntas.

Várias ONGs, como o WWF, vêm contribuindo para a construção das mesas redondas e iniciativas que ajudam os setores produtivos a encontrar soluções socioambientais. Uma série de ONGs tem conhecimento técnico e de mercado que dão suporte as empresas e produtores e encontram soluções adequadas para problemas do setor. O

O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável foi criado para contribuir com a promoção da sustentabilidade na pecuária bovina brasileira. O GT da Pecuária Sustentável desenvolverá princípios e critérios de sustentabilidade além de ajudar a construir uma base institucional, visando a eliminação de problemas de regularização fundiária, regularização ambiental, entre outros, através do debate em conjunto do setor privado com as organizações da sociedade civil e o governo, cada um assumindo suas responsabilidades específicas.

Fica claro que as soluções para uma pecuária sustentável serão encontradas quando forem construídas estratégias de relacionamento entre o conjunto de atores da cadeia e quando ocorrer uma transparência das atividades produtivas.

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Reginaldo Magalhães é doutorando em Ciência Ambiental e especialista em Desenvolvimento Social e Sociedade Civil da IFC (Corporação Financeira Internacional). A IFC é conhecida como o braço privado do Grupo Banco Mundial, cuja missão é reduzir a pobreza e promover a sustentabilidade através financiamentos para setor privado.

0 Comments

  1. Clandio Favarini Ruviaro disse:

    Caro Reginaldo, primeiramente felicito-o pelo artigo. Realmente a cadeia de valor da pecuária é muito complexa. Se pensarmos que população humana deverá aumentar dos atuais 6,5 bilhões para 9,2 bilhões até 2050, segundo estimativas, não pode-se deixar de considerar a importância de prover proteína animal a toda a população e de forma sustentável. Sabemos que o globalmente a setor agrícola responde por 10% das emissões de gases efeito estufa e, destes, 50% provêem da pecuária na forma de metano e óxido nitroso, assim é imprescindível estabelecer estratégias conjuntas com os diversos atores da cadeia.
    Somente para citar um exemplo, estudos atuais apontam para a possibilidade de alteração dos microorganismos ruminais que diminuiriam ou até mesmo eliminariam a emissão desses gases por parte dos animais. Isto demostra o quanto os diversos atores envolvidos com a produção pecurária devem estar entrelaçados afim de termos uma pecuária sustentável e sem o risco de campanhas contrárias a exploração bovina brasileira e contra o consumo de carnes, fato que seria extremamante prejudical ao setor produtivo.
    Abraços.

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