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Tabela do Frigorífico Mercosul privilegia acabamento, peso de carcaça e conformação

Frigorífico opera com quatro preços diferentes e paga mais por qualidade

“Nossa tabela visa a pagar mais pelo animal de melhor qualidade. Para poder ter diferenciais, é preciso separar. Para nós, a qualidade passa primeiro pelo acabamento, depois pelo peso de carcaça, aspecto fundamental, e pela conformação, com eliminação de animais côncavos, que não podem ter o mesmo pagamento”. Esta é a diferenciação adotada no Frigorífico Mercosul, de acordo com Mario Saraiva Gomes de Macedo, diretor de Departamento de Extensão Rural e Compra de Gado.

A empresa opera, hoje, com quatro preços. Como explicou Macedo, há o valor normal de mercado, para gado com 2 mm de gordura, para animais com quaisquer idade e peso. “A partir deste, pagamos 10% a menos para o animal magro, sem acabamento, ou para o côncavo, formando a classe 3. Por outro lado, se tiver acabamento de 3 mm, recebe 5% a mais, elevando-se à classe 1”, explicou, dizendo que há outras diferenciações, como 2% a mais quando o animal tem até quatro dentes (ou até 30 meses), formando a categoria premium, composta por animais com maturidade, jovens e acabamento pleno, o que resulta em carne de muito boa qualidade.

Macedo informou que, a partir de novembro, a empresa implementará uma quinta classe para contemplar animais acima de 220 kg de carcaça, com mesma idade do premium. Será a classe extrapremium, para exportação, que receberá 1% a mais.

Convertida em reais, essa premiação apresenta diferenças significativas no preço. O diretor do Departamento de Compra de Gado revelou que, atualmente, a empresa paga R$ 2,97 pelo boi magro; para animais da classe 2, chega a R$ 3,32. “É uma penalização para o boi magro”, reforçou. O classe 1, com acabamento de 3 mm, vale R$ 3,49, indo para R$ 3,56 se apresentar maturidade de dentes; o Hilton alcança R$ 3,60.

“Entre o pior e o melhor, são R$ 0,62 de diferença”, calculou Macedo, atribuindo cores a cada tipo de animal: azul para o premium; verde para o classe 1, ou seja, que se destina a qualquer mercado; amarelo para o classe 2, uma sinalização para o produtor ficar atento; e, para o classe 3, vermelho, para o qual não existe mercado, indesejado pelo frigorífico. “É para não mandar para cá. Se mandar, é porque não tem como ficar na propriedade”, alertou.

Na avaliação do diretor, é o boi magro que paga o valor do que animal que chega pronto, valendo 15% a menos e custeando o acréscimo para as outras classes. Antes, segundo suas informações, o preço do boi magro não deixava o preço do bem-acabado subir.

Comparando com a situação anterior à implantação da tabela, que aconteceu em janeiro de 2003, ele comentou que, nesse mês, o índice de acabamento de 3 mm ficava em 51%. “Hoje, são 86%, um aumento de 35% em dez meses”, comemorou. Os reflexos também são verificados na ação dos produtores, que melhoraram a qualidade e reduziram a idade dos animais. Macedo informou que, no ano passado, o índice de premium chegava ao máximo de 12% e, atualmente, está em torno de 23%.

A rastreabilidade é outro item valorizado pelo frigorífico, correspondendo a R$ 0,10 a mais, caso contrário, paga-se R$ 0,10 a menos. A planta de Bagé, como informou Macedo, já alcançou 100% e a de Pelotas tem 80% dos animais rastreados. As plantas de Mato Leitão e Alegrete respondem pelo mercado interno, mas a intenção é, nesta última, habilitar para exportação.

Em termos de sexo, a diferença entre fêmea e macho gira em torno de 9%. “As fêmeas recebem sempre menos, pois apresentam rendimento menor. Além disso, se pagássemos o mesmo valor, teríamos abate indiscriminado de novilhas, o que não é negócio”, analisou. A novilha premium recebe R$ 3,39; a classe 1, R$ 3,32; a classe 2, R$ 3,25; e a classe 3, R$ 2,82.

Somente não há distinção para animais rastreados na tabela Hilton, com 1% sobre preço do premium, no caso de novilhas com até quatro dentes, 220 kg e 3 mm, que apresentam o mesmo rendimento do macho e têm problemas reprodutivos.

A classificação também contempla animais inteiros, mas, segundo Macedo, o touro precisa ser um animal muito bom para chegar ao preço da vaca – o premium recebe R$ 2,88; o classe 1, R$ 2,70; o 2, R$ 2,57; e o 3, R$ 2,30 -. “Sua carne tem coloração diferente e acabamento inferior, o que torna difícil colocá-lo no mercado. O consumidor do mercado interno é exigente por maciez, um problema quando o animal vem com testículos. Não temos condições de colocar selo. Assim, vendemos a indústrias de embutidos”, observou.

A tabela da Anapecc (Associação Nacional dos Produtores de Carne e Couro de Qualidade), apresentada em julho ao secretário-executivo do Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Amauri Dimarzio, na opinião de Macedo, faz baliza com percentuais em couro que, pelo valor pago, não condizem com o preço recebido. De acordo com suas informações, o curtume paga por peça, assim, é difícil para o frigorífico remunerar algo pelo qual não tenha recebido.

A intenção do Mercosul, conforme o diretor do Departamento de Compra de Gado, é colocar em prática um projeto de fidelização. “Pagamos um percentual diferenciado sobre a planilha de abate de três meses e bonificamos o produtor com 0,5% se tiver mais de 80% de couro sem marcas, no grupo de acabamento de 3 mm. Um aproveitamento de miúdos de mais de 80% também é remunerado em mais 0,5%. Se o animal tem padrão britânico, outro 0,5%. E mais 0,5% pela fidelidade. São 2% a mais nesse programa de fidelização”, indicou.

Ele informou que é um projeto para cinco anos, mas que já sinaliza bons resultados. A empresa realiza testes a cada três a seis meses e depois executa, um processo rápido, segundo Macedo, que destacou que a demora está em chegar ao frigorífico o animal desejado. Ele comentou que os melhores produtores têm evoluído.

“Premiando, fazemos com que eles produzam em parceria. Pelo preço, conseguimos oferecer diferencial em todo o produto, uma sinalização do que o mercado exige. Não remuneraremos se não tiver produto de qualidade. No caso do couro, ainda temos um produto sem qualidade. É preciso melhorá-lo para depois remunerar. O frigorífico quer o que o consumidor diz que quer, é um caminho de volta, um retorno do gado que está comprando para o consumidor”, ressaltou.

Macedo chamou a atenção para a falta de padrão do gado no sul do Brasil, defendendo uma classificação de carcaças regional. “Aqui, não chegamos a 18 meses com 250 kg de carcaça; dificilmente chega a 200 kg. No Brasil central, tudo bem, alcançamos 250 kg. Portanto, seguindo a tabela proposta pela Anapecc, nunca atingiremos a cotação máxima. É o mesmo que dizer que temos de plantar arroz irrigado no país inteiro. No sul, temos de plantar pasto todos os anos. São formas diferentes de desenvolver a atividade”, completou.

Ele observou que se tem buscado um padrão mediante um projeto de difusão genética, com aquisição de produtor de terneiro, pagando em quilos de carne e concentrando-se em Hereford, Angus, Braford e Brangus. Até agora, foram colocados mais de 100 touros. A meta é ter 1,2 mil touros no mercado até o final do ano.

Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint

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