No dia 9 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa adicional de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, incluindo um dos pilares do agronegócio nacional: a carne bovina.
Segundo o comunicado oficial americano, a decisão foi justificada por alegações de desequilíbrio comercial e práticas consideradas injustas, como barreiras tarifárias e não-tarifárias do lado brasileiro. Além disso, o governo americano destacou que as empresas brasileiras poderiam evitar tarifas caso optassem por investir e produzir diretamente nos EUA.
Independentemente do pano de fundo político, a medida tem efeitos práticos claros para o agro brasileiro — e é neles que este artigo vai se concentrar.
De acordo com Lygia Pimentel, da consultoria Agrifatto, os Estados Unidos são o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Em junho de 2025, os EUA representaram 7,5% do volume exportado pelo Brasil, com destaque para cortes de alto valor, vendidos a preços médios de US$ 6.700 a US$ 6.800 por tonelada.
No acumulado do primeiro semestre, foram embarcadas cerca de 181,5 mil toneladas, gerando mais de US$ 1 bilhão em receita. Além do faturamento direto, o mercado americano tem um peso simbólico e econômico importante: ajuda a sustentar os preços do boi gordo no Brasil, funcionando como um “carro-chefe” para a valorização interna.
A tarifa de 50% cria um entrave direto à competitividade do Brasil no mercado americano, colocando a carne brasileira como a mais cara frente aos principais concorrentes — Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
Os impactos para a cadeia da carne são múltiplos:
✅ Redução na demanda externa: O mercado americano absorve cortes de alto valor, e sua retração pode derrubar o preço médio das exportações.
✅ Pressão negativa nos preços internos: Sem a válvula de escape das exportações premium, aumenta a oferta doméstica, pressionando o preço do boi gordo no mercado interno, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte.
✅ Enfraquecimento do ciclo positivo: Desde meados de 2024, o ciclo de valorização vinha em recuperação. A ruptura desse fluxo pode reduzir margens e inibir investimentos no setor pecuário.
✅ Dificuldade para redirecionar exportações: Buscar novos compradores não é automático. Exige negociações comerciais, ajustes sanitários e logísticos. A China, por exemplo, já absorve mais de 50% da carne exportada pelo Brasil e tem limites para ampliação rápida.
O movimento americano não traz efeitos apenas para o Brasil.
Os EUA atravessam um ciclo pecuário em baixa, com menor oferta de gado e preços internos elevados. Sem a carne brasileira — que vinha preenchendo parte dessa lacuna —, espera-se:
Ou seja, a tarifa pode ter efeito bumerangue, impactando não apenas exportadores brasileiros, mas também consumidores e cadeias produtivas nos EUA.
O governo brasileiro estuda acionar a Lei de Reciprocidade Econômica (15.122/2025), que autoriza medidas de resposta, como tarifas equivalentes ou suspensão de concessões comerciais.
Por outro lado, especialistas como Welber Barral avaliam que a estratégia mais provável será tentar uma solução diplomática e, em paralelo, acelerar a abertura de novos mercados, reduzindo a dependência americana.
A tarifa de 50% imposta pelos EUA marca um momento crítico nas exportações brasileiras de carne bovina. O impacto direto é sentido não só nas receitas, mas também na formação de preços no mercado interno e no ciclo econômico da pecuária.
Mais do que uma disputa política, o episódio escancara a vulnerabilidade do Brasil em relação à concentração de mercados e a importância de diversificar destinos, fortalecer acordos internacionais e proteger a cadeia produtiva diante de choques externos.
Fontes: Agrifatto, Globo Rural, CNN e Money Times.