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Tecnologia é saída para compensar redução de áreas de pastagens

Diante do atual cenário, analistas do mercado recomendam tecnificar a pecuária

A elevada rentabilidade da agricultura, especialmente da soja, tem levado muitos produtores a arrendar suas áreas, ou até mesmo vendê-las, em vez de manter o gado no pasto. Não que o retorno da pecuária seja pior, como comenta Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria: “O retorno é similar. O problema é que se compara um agricultura altamente tecnificada (soja, cana-de-açúcar) com uma pecuária que tem meia unidade animal por hectare. Para buscar a mesma rentabilidade, é preciso investir”.

Essa mudança de cenário tem sido mais forte no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, em benefício da soja. De acordo com Istael Prata Silva Neto, da FNP, o crescimento da área da soja estimado em julho deste ano foi 7,1% em relação a 2002. No Mato Grosso, o aumento chegou a 400 mil de hectares; Mato Grosso do Sul, 120 mil; Goiás, 190 mil milhões. Nas regiões Norte e Nordeste, também houve aumento da área de soja: 24% no Tocantins, 19% no Maranhão, 30% no Piauí. “No Brasil, estimou-se que dos 18,4 milhões de hectares, o grão passou a ocupar 19,7 milhões. E a tendência é continuar a subir”, avaliou.

Em São Paulo, é a cana que tem tomado o lugar do pasto e, principalmente, da laranja. De acordo com dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola), revelados por Tito Rosa, nos últimos cinco anos, a área de cana em São Paulo, que cresceu 9,2% em área, invadiu apenas 1,7% das terras destinadas à pastagem, as quais, em 2002, somavam 8,5 milhões de hectares; as áreas com laranja caíram 2,4%. A maioria das áreas de pecuária ocupadas, segundo especialistas, são de pastagens degradadas ou áreas novas.

Diante do avanço sobre as pastagens, em grande parte degradadas, o gado que não foi abatido em Goiás e Mato Grosso, por exemplo, ocupou uma área menor ou foi empurrado para o norte, onde chove mais e os pastos estão melhores.

Utilizando informações da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), Tito Rosa afirmou que, em dois anos, aproximadamente 270 mil hectares de pasto passaram para a soja. Em São Paulo, a substituição não foi tão intensa quanto em outros estados, mas foi significativa. “E se a competitividade não aumentar, como indicaram projeções do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), 10 milhões de hectares de pasto serão perdidos para agricultura. A saída é crescer em competitividade, investir”, recomendou, diante do aumento do preço da terra estimado pelo IEA, em torno de 50% nos últimos cinco anos.

Investir em quê? Para o analista, em melhor manejo alimentar e do pasto, com conseqüente aumento de lotação – da média de um animal por hectare para duas unidades animais -, isso sem recorrer a adubação e empregando suplementação na seca. “O produtor precisa criar uma cultura de investir em tecnologia. Na pecuária, conforme se investe, tem-se o retorno, desde que de forma planejada”, indicou. Como alternativas futuras, Tito Rosa citou o aumento da porcentagem de descarte de fêmeas, investimento em genética, adoção da tabela de classificação de carcaças, melhora da qualidade, entre outras. “Tudo ajuda a produzir mais em menos área”, reforçou, comparando as estimativas de aumento de produção de carne – três a 3,5% – e de grãos – 20% -.

Para Geide A. Figueiredo Jr., da FNP, ou o produtor se mantém onde está e investe em intensificação, ou empurra a pecuária para o norte do país. “Já é fato que a pecuária está subindo, pois abrimos praça do Maranhão para cotações. Mesmo assim, às vezes, a agricultura chega primeiro, como no oeste da Bahia”, avaliou, relatando que, ao olhar para regiões tradicionalmene da pecuária, inevitavelmente, só se vê agricultura: “Em uma viagem, no final do primeiro semestre para o sul do Mato Grosso do Sul, tradicionalmente pecuarista, só vimos milho, quilômetros afora”.

De acordo com sua análise, nesse rearranjo espacial, não se leva em conta apenas o que está mudando para onde, mas para qual tecnologia. “Se trabalhar o pasto muito bem em área menor, desde que se saiba trabalhar, dura a vida inteira. A questão é pegar tecnologia e colocar em prática. Chega a ser redundante, mas insisto na idéia do empresário rural”, refletiu, afirmando que faz três a quatro anos que a idade de abate se tem reduzido, obviamente, aumentando velocidade de crescimento do rebanho, mesmo com todas as condições negativistas, ou seja, reflexo do emprego da tecnologia, da genética, do melhor uso do pasto, entre outros fatores.

A previsão do rebanho para daqui a dez anos, conforme seus cálculos, chega a 182 milhões de cabeças, contra 167 milhões em 2002, um aumento de 8,6%, crescimento praticamente idêntico ao verificado entre 1992 e 2002 – 8,5% -. Porcentagem semelhante tem a estimativa da queda das áreas de pastagem no mesmo período – 8,72% -. “Dos quase 260 milhões de hectares ocupados por pasto em 2002, pode-se ficar com 236 milhões, com perda de 13 milhões de hectares de pastagens nativas, no cerrado e Rio Grande do Sul, 9 milhões de braquiária e um milhão de outras forragens”, detalhou Figueiredo Jr..

Com relação a possíveis alterações da quantidade de matrizes, disse que há anos em que o pessoal abate mais fêmeas, o que aconteceu nos últimos dois anos. Em outros, segura para ter cria, recria e engorda, o que começará a acontecer a partir de 2004, pois os pecuaristas enxergaram que faltará bezerro. “É uma oscilação em termos de categorias que se tem verificado ao longo dos anos. Depende da relação de preços entre boi gordo e vaca gorda, pois, quanto maior a diferença, mais femeas ofertadas. E enquanto se adota o abate de matrizes para renovação, pegando novilhas, com melhor genética, mais jovens, arrenda-se a área de pastagens para plantio. Um subsidia o outro”, explicou, constatando que a composição se altera devido à tecnologia, à medida que se consegue fazer o animal ficar pronto mais rápido.

Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint

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