A proteína da soja apresenta grande degradabilidade ruminal. Segundo Sniffen et al. (1992), 100g de proteína bruta (PB) da soja proporcionam aproximadamente 10g PB como nitrogênio não protéico (NNP) com uma degradabilidade de 40%/h, 35g como proteína solúvel (Fração B1) com degradabilidade de 10-20%/h. Dessa forma, aproximadamente metade da PB da soja é convertida rapidamente em amônia pelos microorganismos ruminais.
Das 100 g de PB, aproximadamente 51,4g correspondem à fração B2, com taxa de degradação de 8-10%/h. Considerando a proteína verdadeira como a soma das Frações B1 e B2, 86% da proteína da soja podem ser “alteradas”, aumentando-se a resistência à degradação ruminal e proporcionando um maior aporte de proteína no intestino. Deve-se lembrar que, o simples aumento do aporte de proteína ao intestino não corresponde necessariamente a melhoras no desempenho. Vários fatores como o valor biológico, degradabilidade ruminal e o suprimento total da proteína ruminal devem ser considerados.
O processamento por calor é bastante utilizado como forma de diminuir a degradabilidade ruminal da proteína da soja, com o objetivo de aumentar o aporte de aminoácidos ao intestino. Porém, a quantidade de calor aplicada vai influir de forma decisiva para o sucesso do processamento. Pouco calor pode não ter efeito, ao passo que quantidades excessivas de calor podem levar à formação de compostos indisponíveis tanto aos microorganismos do rúmen como ao animal.
A tostagem apresenta várias limitações para utilização no processamento do grão de soja. Já o processamento através do processo de extrusão, com utilização de calor e de pressão a seco, pode ser uma alternativa para aumentar a quantidade de proteína chegando ao intestino.
Orias et al., (2002) avaliaram o efeito da temperatura de extrusão do grão de soja na degradabilidade ruminal da proteína, nas proporções de N microbiano e não microbiano chegando ao intestino delgado, nas proporções de aminoácidos essenciais (AAE) e não essenciais (AANE) chegado ao duodeno, e no desaparecimento de N e de AAE e AANE do intestino delgado. Foram utilizados 5 novilhos da raça holandesa, com média de 450 kg de peso vivo (PV). A composição das dietas está na tabela 1, sendo que a dieta controle não possuía grãos de soja, porém continha óleo de soja numa proporção equivalente à energia fornecida nas dietas com soja. A proporção de grãos de soja foi de 16%, base seca, utilizando-se soja crua ou extrusada a 116, 138 e 160oC. As rações eram fornecidas duas vezes ao dia, limitada a 2,2% do PV para evitar sobras e alterações de ingestão.
Tabela 1. Composição das dietas experimentais.
Não houve alterações em relação ao pH ruminal e às concentrações de NH3-N para as diferentes temperaturas de extrusão. Apesar das diferenças para concentração de NH3-N entre os tratamentos não terem sido significativas, os valores tenderam a diminuir de acordo com o aumento da temperatura de extrusão. Deve ser levado em consideração que nesse experimento, a soja foi moída antes de ser submetida à extrusão, o que segundo os autores pode ter diminuído o efeito da extrusão sobre a proteína. Em relação à concentração total de ácidos graxos voláteis (AGV), foram observadas maiores concentrações entre a dieta controle e as dietas com suplementação com soja. Não houve efeito das diferentes temperaturas sobre as concentrações totais de AGV (tabela 2).
Tabela 2. pH ruminal, amônia e concentração de ácidos graxos voláteis em bovinos suplementados com soja crua ou extrusada em diferentes temperaturas.
A ingestão total de N foi diretamente relacionada à concentração protéica das dietas, não havendo diferença entre a utilização da soja crua ou extrusada, como observado na tabela 3. As quantidades de N que alcançaram o intestino delgado foram maiores para os tratamentos com soja em relação ao controle. Não houve diferença no fluxo de N para o intestino entre os tratamentos com soja crua ou extrusada. As quantidades de N bacteriano chegando ao intestino não foram afetadas pelo fornecimento de soja crua ou processada, e nem pelas diferentes temperaturas de extrusão. Esses resultados ocorreram provavelmente pelo fato das concentrações de amônia estarem acima de 5 mg/100 ml, considerado valor mínimo para o crescimento bacteriano. O N bacteriano representou 73% do N chegando ao intestino para a dieta controle, 64% para soja crua, 62, 66 e 64% para as crescentes temperaturas de extrusão, respectivamente. Houve diferença no desaparecimento de N no intestino delgado entre as dietas controle e com soja, não havendo diferença entre a soja crua e extrusada. Apesar de não haver diferença estatística, os valores de desaparecimento de N do intestino delgado foram maiores para as temperaturas de 138 e 160oC (tabela 3).
Tabela 3. Ingestão e digestão de nitrogênio em bovinos suplementados com soja crua ou extrusada em diferentes temperaturas.
A hipótese dos autores era que deveria haver uma temperatura ótima de processamento na qual a degradação ruminal da PB da soja fosse significativamente menor, e a entrada de N não bacteriano no duodeno significativamente maior, o que não foi observado. Entretanto, considerando o desaparecimento de N do duodeno em relação à entrada de N no mesmo, houve um efeito significativo da extrusão. Além disso, a entrada de AAE e de AANE no duodeno apresentou tendência de efeito linear, ao passo que o desaparecimento desses AA apresentou efeito linear significativo com o aumento da temperatura de extrusão, para os tratamentos que tinham soja. Tanto para entrada como para desaparecimento, metionina e glicina foram exceções, isto é, não foram afetadas nem pela extrusão e nem pela temperatura de processamento. Segundo os autores, esse fato pode ser devido ao baixo efeito das temperaturas de 116 e 138 graus sobre a degradabilidade da proteína da soja no rúmen e sobre o fator de inibição da tripsina.
A decisão de se usar tratamentos para destruir fatores antinutricionais da soja e aumentar tanto a disponibilidade como a eficiência de utilização de aminoácidos para ruminantes (tratamentos normalmente dispendiosos e que requerem controle refinado), vai depender da existência de modelos de avaliação de dietas que permitam determinar a conveniência econômica do tratamento.
Referências Bibliográficas
ORIAS, F.; ALDRICH, C.G.; ELIZALDE, J.C.; BAUER, L.L.; MERCHEN, N.R. The effects of dry extrusion temperature of whole soybeans on digestion of protein and amino acids by steers. J. Anim. Sci., v. 80, p. 2493-2501, 2002.
SNIFFEN, C.J.; O`CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J.; FOX, D.G.; RUSSEL, J.B. A net carboidrate and protein system for evaluating cattle diets. J. Anim. Sci., v. 70, p. 3562-3577, 1992.