Análise Semanal – 03/09/03
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Terceirização da inseminação artificial

Por Ricardo César dos Passos1

Conforme o Anualpec 2002 (Fundepec), o rebanho brasileiro é composto por 61.301.526 matrizes aptas à reprodução, servidas por 2.269.672 touros. Considerando que a taxa de reforma anual de touros seja na ordem de 15%, teríamos a demanda anual de aproximadamente 340.450 reprodutores. Os programas de melhoramento genético avaliam a cada ano uma pequena parcela desses reprodutores, sugerindo que, na sua grande maioria, as matrizes são servidas por animais de baixo valor genético ou nenhuma avaliação de desempenho. Nesse contexto, a utilização de touros provados em monta natural, e pela inseminação artificial (IA), se torna ferramenta de grande importância na evolução do rebanho.

A inseminação artificial é, sem dúvida, uma das ferramentas mais importantes no melhoramento genético e teve um crescimento significativo nos últimos anos no Brasil, principalmente, no gado de corte. O crescimento da IA foi impulsionado pela baixa oferta no mercado de reprodutores para monta natural com avaliação genética e pela valorização excessiva desses animais.

O maior entrave na implantação de programas de IA em rebanhos comerciais é a falta de mão-de-obra qualificada. Esse problema está sendo equacionado por empresas especializadas em terceirização, que estão atuando no mercado com preços competitivos, se comparados aos custos dos reprodutores de melhor valor genético.


Produtos de um programa de terceirização Faz Santa Clara – Globo Agropecuária Ltda

Terceirização

A rotatividade é muito comum no meio rural, pois o investimento em treinamento ocorre em poucas propriedades e, quando acontece, nem sempre é acompanhado de estímulo econômico, ou seja, melhor remuneração. A partir do treinamento, o funcionário aumenta a sua empregabilidade e espera ser recompensado com um melhor salário. Quando isso não acontece, ele muda de emprego, ocorrendo a “rotatividade”.

O benefício da terceirização não advém do fato de que os serviços terceirizados sejam mais baratos que os realizados pela própria equipe da propriedade. O verdadeiro benefício é pôr fim à dependência de uma estrutura de apoio excessiva, que acaba tornando obrigatória sua utilização mesmo quando não há necessidade. Um exemplo disso é o treinamento e manutenção de um inseminador na propriedade durante doze meses, quando a necessidade da prestação do serviço na IA é somente de três a quatro meses no ano.

Dentre as vantagens da terceirização estão a utilização de mão-de-obra especializada, a maior eficiência reprodutiva, a ausência de custos de contratação, o treinamento e manutenção de inseminadores, a menor necessidade de investimentos em estrutura de apoio, a assistência técnica agregada ao programa e, ainda, o tempo livre para o proprietário concentrar em outras atividades.

O pecuarista deve estar atento à seleção e contratação das empresas que vão executar o serviço, para ter a tranqüilidade e a segurança de estar contando com uma equipe técnica bem treinada que vai implantar a IA ou dar continuidade ao trabalho, já realizado de forma profissional. É importante salientar que a assistência técnica agregada ao programa é imprescindível para o seu sucesso e que esses técnicos devem ter autonomia no processo de tomada de decisões na propriedade, no que diz respeito ao manejo do rebanho, pastagens e nutrição.

Qual o melhor sistema para o criador? O primeiro passo é analisar informações sobre tamanho do rebanho, categorias das matrizes (novilhas, multíparas, primíparas), índices reprodutivos históricos, estação de monta, escore corporal do rebanho, infra-estrutura da propriedade, animais de trabalho e demais fatores. A partir daí, a empresa responsável define com o produtor a época mais adequada para iniciar o trabalho (estação de monta) e a maneira mais viável de implantar a terceirização, além da quantidade de visitas durante o programa e definição do sêmen. A empresa dispõe de um técnico agrícola com experiência em treinamento, observação de cio, escrituração zootécnica e manejo do rebanho. Assim, inicia o trabalho, conforme a opção:

– Terceirização parcial ou reciclagem: indicada para os produtores que têm uma boa equipe na propriedade, que já insemina e quer melhorar os índices, ou que vão implantar a IA. O técnico fica na propriedade de 15 a 30 dias, faz o treinamento, reciclagem e monitoramento da equipe que vai dar continuidade ao trabalho.

– Terceirização total: o técnico fica durante a estação de monta na propriedade e, quanto maior o número de matrizes por retiro, menor o custo. Outra vantagem desse modelo é a maior flexibilidade para o proprietário em função do manejo. A remuneração é por período que o técnico fica na fazenda.

– Prenhez positiva: normalmente, no primeiro ano o criador prefere a prenhez positiva, pois não quer correr risco. O programa é realizado durante a estação de monta e os animais, inseminados, ficam um período sem repasse com touro (cerca de 30 dias). Depois são entourados. Feito o diagnóstico de gestação, a remuneração é feita por vaca prenhe de IA.

– Matriz inseminada: esse programa é de grande facilidade operacional para o produtor, que não necessita ficar sem o touro por um período. No programa, o animal pode ser entourado 24 horas após a IA ou retornar à observação de cio. A remuneração é feita por matriz inseminada.

– Inseminação volante: indicada para rebanhos leiteiros, pois o pessoal da fazenda é treinado para fazer a observação de cio e comunicar ao técnico, o qual se desloca até a propriedade e realiza a IA. A remuneração é feita por matriz inseminada.

Todos os modelos de terceirização requerem o estabelecimento de uma relação de confiança entre o pecuarista e a empresa contratada. Mesmo assim, obrigações e direitos de cada um devem constar em um contrato de prestação de serviços bem transparente, principalmente no que diz respeito à responsabilidade jurídica do técnico que vai realizar o serviço.

Realizado o trabalho, é esperar os bezerros nascerem e desfrutar dos benefícios de ter uma safra de animais de bom padrão genético.
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1Ricardo César dos Passos é médico veterinário e membro da Cria Fértil Consultoria Agropecuária Ltda

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