Estamos no início de mais um período de seca, que se caracteriza pela baixa disponibilidade e qualidade inferior das forragens tropicais. Neste período o desempenho animal é diminuído, muitas vezes com perda considerável de peso vivo, sendo isto uns dos principais fatores do abate tardio de bovinos em condições tropicais. As alternativas para contornar estes efeitos são o confinamento, que vem sendo amplamente utilizado no país, ou a terminação em semiconfinamento ou com suplementação a pasto. Neste radar iremos abordar a terminação de bovinos Nelore com suplementos a base de subprodutos durante o período seco.
Em trabalho de tese de Souza (2002) defendido na ESALQ-USP avaliou-se o desempenho de bovinos submetidos ao pastejo de Brachiaria brizantha, recebendo suplementação alimentar à base de refinazil úmido e polpa cítrica peletizada. As fontes de proteínas utilizadas foram dois níveis de inclusão de farelo de soja ou livre acesso a banco de leucena (cerca de 10% da área do piquete) como fonte de proteína (Tabela 1).
Foi avaliado o desempenho de 128 bovinos (32 por tratamento) da raça Nelore com peso médio inicial de 400 kg durante 149 dias (junho a novembro), sendo que os animais foram abatidos, em frigorífico comercial, ao atingirem o peso mínimo de 440 kg de PV e 3 mm de espessura de gordura.
A disponibilidade média da pastagem foi de 3430 Kg MS/ha, sendo que nos períodos mais críticos da seca (agosto e setembro) a oferta média de pastagem foi superior a 2000 kg MS/ ha.
Tabela 1: Composição dos suplementos
Os ganho de peso vivo médio individual e por ha, bem como algumas características da carcaça são mostradas na tabela 2. É possível observar que a suplementação aumentou de maneira significativa o desempenho animal, sendo que o farelo de soja foi melhor que a fonte de proteína na forma de banco de leucena. O aumento na quantidade de farelo de soja de 0,5 para 1kg, não melhorou o desempenho animal.
Tabela 2: Desempenho de animais suplementados no período das secas
Na figura 1 é possível observar a curva de crescimento dos animais nos diferentes tratamentos. Os animais do tratamento controle apresentaram acentuada perda de peso, o que foi fundamental para a menor % (41%) de animais abatidos em relação aos outros tratamentos.
Figura 1: Desempenho de bovinos Nelore em terminação com diferentes suplementos alimentares.
Na tabela 3 são apresentadas as características da carcaça e a produção total de arrobas no período de 5 meses de engorda. Animais suplementados apresentaram, independente da fonte de proteína, maior peso de carcaça que os animais não suplementados. A produção em @ no período foi em função do maior percentagem de animais terem atingido o peso de abate. Isto refletiu na viabilidade da suplementação, devido à antecipação do abate.
Tabela 3: Peso de e rendimento de carcaça dos animais abatidos carcaça
*PVF- peso vivo final dos animais abatidos,
**@ produzidas no sistema: (animais abatidos x PC)/15;
PC-peso de carcaça quente;
RC-rendimento de carcaça.
Para calcular de forma simples a viabilidade econômica da suplementação (tabela 4), foram utilizados os valores de mercado dos ingredientes, bem como as quantidades de cada um no suplemento. O valor pago por @ na época do abate dos animais (novembro) em São Paulo foi de R$ 45,00. Nos custos considerou-se o aluguel do pasto de R$ 7,00 por cabeça/mês, e o valor de R$500,00 por animal. No custo total os valores dos animais que não foram abatidos, o custo de arrendamento de pasto e o suplemento fornecido a estes animais também foram computados.
Após cinco meses os suplementos 0,5FS e 1FS apresentaram maior retorno econômico, considerando-se que foi principalmente pelo maior número de animais abatidos e maior peso de carcaça. Sendo que estes animais poderiam se abatidos com pesos mais baixos (450-460 kg), e com o mesmo acabamento de gordura, diminuindo assim gastos com a suplementação e arrendamento de pasto, e por outro lado sendo comercializados no pico da alta da @ (setembro-outubro; Figura 1). Enquanto que os animais do tratamento controle necessitaram de pelo menos mais 4 meses para que todos os restantes fossem abatidos
Tabela 4: Lucratividade do sistema
Dados estimados a partir de informações do texto de Souza (2002)
*custo do suplemento por @ a mais produzida em relação ao controle
@ = R$45,00.
**Receita – {custo total do suplemento no período + valor boi magro + arrendamento de pasto}. Lucro após 5 meses
boi magro = R$ 500,00
arrendamento do pasto = R$ 7,00/cab mês
Neste trabalho foi possível a terminação de bovinos a pasto em sistema de semiconfinamento permitindo maior rapidez no giro do capital, quando comparado com animais terminados exclusivamente a pasto.
Comentários BeefPoint: Em muitos sistemas onde são feitas as opções de terminação a pasto com uso de semiconfinamento ou da suplementação no período da seca, os resultados às vezes têm sido pouco eficientes. Isto se deve principalmente à falta de planejamento da utilização das pastagens, pois a baixa oferta compromete o bom desempenho dos animais. Para garantir a boa oferta de pastagem no período seco, a alternativa mais viável, ao invés de vedar, é manejar (adubação, taxa de lotação, etc) o pasto no período das águas para que o acumulo de massa possa garantir a oferta adequada de forragem no período seco, mesmo que seja para outras categorias (recria, vacas, etc). No caso do trabalho acima relatado, a estratégia de suplementação para terminação a pasto no período da seca foi viável, porém ainda existem diversas variáveis para custos que devem ser levadas em consideração.
Literatura Consultada:
Souza, A. A. Uso de subprodutos da agroindústriais para suplementação de novilhos em terminação durante o período da secas. ESALQ-USP Dissertação (Mestrado), Piracicaba, SP. 2002