No último artigo foi apresentado trabalho onde se comparou o desempenho de bovinos Nelore e de cruzamentos alternativos durante a fase de cria e recria, discutindo brevemente as diferenças entre as raças de origem zebuína, britânica e continental. Dentro desse contexto, iremos abordar neste e nos próximos radares as características dos diferentes tipos biológicos de bovinos de corte usados em cruzamento industrial, com o objetivo de auxiliar produtores e técnicos na escolha das raças mais adequadas para cada tipo de exploração.
Quando se faz referência a raças para programas de cruzamento industrial usa-se muito a palavra precocidade, que deve ser entendida como velocidade com que o bovino atinge a maturidade sexual (puberdade), ocasião esta em que o animal atinge grande parte do crescimento ósseo e da musculatura. A idade, ou a rapidez com que os bovinos atingem a puberdade está diretamente associada a “precocidade de terminação”. O termo “precocidade de terminação” deve ser utilizado para referir-se a animais que atingem a composição corporal da carcaça adequada para o abate em idade jovem. A composição é definida por cada mercado em questão, estimada pela espessura de gordura subcutânea e ou pela marmorização. No Brasil, o critério usado é o da espessura da gordura subcutânea, sendo exigido um mínimo de 3 mm.
A precocidade de terminação pode ser identificada em indivíduos dentro de uma mesma raça, ou ainda observada entre diferentes raças. A principal causa de uma raça ser mais precoce que outra está ligada ao grau de estrutura corporal ou tamanho corporal na idade adulta, quando o animal atinge a maturidade. Normalmente os animais são classificados em três tamanhos básicos: grande, médio ou pequeno porte. Para facilitar o uso do tamanho corporal, na prática, cada classe pode ser dividida em três, resultando em uma escala de 1 a 9. Na figura 1 são apresentadas as curvas para as três classes principais de tamanho corporal: grande, média e pequena, respectivamente 8, 5 e 2 na classificação de 1 a 9.
Figura 1: Curva de crescimento de bovinos com diferentes tamanhos corporais
Do mesmo modo que para tamanho corporal, as raças ou os indivíduos dentro de raças podem também ser classificadas de acordo com grau de musculosidade, em três classes: grossa, moderada e fina (Tabela 1).
Tabela 1: Classificação de algumas raças de acordo com o tamanho corporal e grau de musculosidade
Raças, ou indivíduos dentro de raças, de menor tamanho corporal atingem o ponto ideal de acabamento em idade mais jovem que animais de maior porte, podendo ser abatidos mais cedo, porém mais leves (Tabela 2).
Tabela 2: Peso de bovinos de diferentes tamanhos corporais para um mesmo grau de acabamento
Animais de raças de tamanho grande e musculatura grossa têm taxas de crescimento maior (maior ganho de peso), porém são mais tardios para acumular gordura na carcaça, permanecendo por tempo superior no confinamento, tendo maior demanda por alimento. As raças de tamanho pequeno e musculatura moderada apresentam menores ganhos, porém são mais precoces em termos de acabamento de carcaça.
Em alguns sistemas de cruzamento, o uso de raças de porte maior, porém com acabamento mais tardio, pode ser mais interessante do ponto de vista econômico, pois os animais atingem maior peso de carcaça. Deve-se levar em conta no planejamento nutricional a maior exigência destes animais. Por outro lado, animais ou raças de menor porte, que alcançam a terminação mais precocemente, com peso mais leve e maior quantidade de gordura na carcaça, podem ser mais viáveis, principalmente em sistemas de produção baseados em alimentos de menor valor nutritivo, como por exemplo em pastagens tropicais.
A combinação entre raças de maior porte e de pequeno porte pode fornecer animais com carcaças mais pesadas e com boa cobertura de gordura. A estratégia para a realização de cruzamentos vai depender dos objetivos de cada propriedade. O cruzamento com raças de maior porte seria mais indicado para o abate tanto de machos como de fêmeas (cruzamento terminal). Entretanto, o uso de raças de menor porte em programas de cruzamento pode ser interessante quando o objetivo é explorar a heterose materna e a precocidade sexual das fêmeas F1 (animais oriundos do primeiro cruzamento). As fêmeas F1 podem ser usadas para produção de machos e fêmeas para o abate, para cruzamento rotacionado ou outros objetivos, como formação de raças compostas.
O processo de tomada de decisão na escolha das raças para um programa de cruzamento industrial deve ser baseado nas características (precocidade, rusticidade, etc.) mais adequadas aos objetivos do sistema de produção. Freqüentemente têm sido observados insucessos em explorações onde as raças escolhidas não eram as mais adequadas para o sistema de produção usado.
Literatura Consultada:
Barbosa, P. F. Cruzamentos Industriais e a produção de novilhos precoces. Anais do Simpósio sobre produção intensiva de gado de corte. Campinas, SP. 1998
Silveira, A. C.; Arrigoni, M. D. B.; Oliveira, H. N.; Costa, C.; Chardulo, L. A. L; Silveira, L. G. G.; Martins, C. L. 2001. Produção de novilho superprecoce. In: A produção animal na visão dos brasileiros, Ed. Wilson Roberto Soares Mattos, et al., Piracicaba-SP. FEALQ, p. 284.
Lanna, D. P. D. Fatores condicionantes e predisponentes da puberdade e da idade de abate. Anais do 4o Simpósio Sobre Pecuária de Corte.