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Título público projeta inflação mais alta

A inflação projetada nos títulos públicos tem apresentado uma alta consistente nos últimos 30 dias, com os investidores assumindo postura mais defensiva diante do processo eleitoral e exigindo prêmio na hora de alocar seus recursos.

As incertezas, no entanto, ainda não foram suficientes para gerar alterações nas expectativas de mercado, o que poderia pressionar o Banco Central (BC) por uma antecipação de um movimento de alta de juros, em um cenário de dólar acima de R$ 4.

As Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B) de 2020 em diante projetam uma inflação implícita acima da meta oficial do BC para a alta dos preços no período — e essas taxas têm subido nas últimas semanas. A inflação projetada no título com vencimento em agosto de 2020, por exemplo, saiu de 4,07% há cerca de um mês para 4,73% atualmente. No papel com vencimento em agosto de 2028, na mesma base de comparação, a taxa foi de 5,24% para 6,32%.

As metas oficiais de inflação estão definidas em 4,5% para 2018; 4,25% para 2019; 4% para 2020; e em 3,75% para 2021.

“Estamos perto da eleição e o cenário para o câmbio é muito incerto, por isso tem que colocar um prêmio na inflação implícita”, explica Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. Quem será o próximo presidente e como as esperadas reformas serão tocadas a partir de 2019 estão entre as questões por trás da sensação de insegurança dos investidores, levando a dúvidas sobre qual deve ser o nível do dólar no médio prazo e como isso influenciará os preços dos produtos e serviços.

É exatamente essa incerteza, por outro lado, que leva os economistas a acreditarem que ainda não está na hora de o BC tomar alguma decisão em relação ao juro básico da economia.

“Existe um evento binário à frente que vai definir se o dólar ficará mais perto de R$ 3,50 ou de R$ 4,50. Hoje, o mercado precifica probabilidades, mas estamos no meio do caminho”, afirma Daniel Weeks, economista- chefe da Garde Asset Management. O cenário de escolha de algum candidato comprometido com a reforma fiscal levaria a uma descompressão do câmbio e, neste caso, não geraria necessidade de mudança no juro. “Não faz sentido o Banco Central agir agora, o custo de esperar é muito baixo.”

Algumas características do momento econômico atual tornam possível uma política mais flexível por parte da autoridade monetária mesmo com o dólar acima da casa dos R$ 4. Conforme destaca Weeks, o Brasil tem hoje inflação abaixo da meta, as expectativas estão ancoradas e a atividade econômica está caminhando a passos lentos. Isso faz com que o repasse da alta do dólar para os preços de produtos e serviços seja mitigado.

“Com o alto nível de ociosidade da economia, é possível que as empresas absorvam parte dos efeitos do aumento do dólar. Nem todo mundo consegue repassar o preço ao consumidor”, afirma Leonardo Porto, economista chefe do Citi Brasil. Outro ponto levantado por ele é que a influência de um dólar mais alto nos preços correntes de produtos e serviços depende do tempo em que a moeda é mantida no patamar maior. Segundo Porto, faz pouco tempo que a barreira dos R$ 4 foi rompida e, portanto, o estágio ainda é muito inicial.

De fato, é recente o cenário de depreciação mais forte do real. O mês de julho foi positivo para a moeda brasileira, com o ambiente externo relativamente tranquilo e o mercado local apegado à tese de fortalecimento do candidato com o perfil mais fiscalista, Geraldo Alckmin (PSDB), depois do apoio do Centrão. O mês de agosto começou com os investidores tendo algumas decepções no âmbito político sem o avanço do tucano nas pesquisas, assim como o movimento forte de depreciação da lira turca lá fora prejudicou o preço dos ativos de emergentes.

A barreira psicológica de R$ 4, no entanto, só foi rompida na semana passada com a divulgação de pesquisas eleitorais importantes, que mostraram avanço de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas intenções de voto, ampliando as chances de Fernando Haddad — que deve assumir a chapa no lugar de Lula — ir para o segundo turno. Nesta segunda, o mercado fez uma leve mudança na sua projeção de dólar para o fim de 2018, de acordo com o relatório Focus, passando de R$ 3,70 para R$ 3,75.

Em maio, o Citi estimava que o dólar acima de R$ 4 já acenderia uma luz amarela para o Banco Central. De lá para cá, no entanto, o preço de muitas commodities agrícolas caiu e isso também ajuda a aliviar a pressão do câmbio. “Ainda não fizemos o novo cálculo, mas entendo que agora o patamar precisa estar mais alto para gerar preocupação no BC.”

Os mercados de câmbio e juros futuros (DIs) ainda seguem pressionados pelas incertezas da corrida eleitoral. Nesta segunda, tanto o dólar quando os DIs apresentaram queda, mais ainda sem sinais de que vai ter um grande alívio no curto prazo. O ajuste só foi possível por conta do bom humor nos mercados internacionais, com a maior disposição dos investidores a assumir risco na esteira das negociações comerciais entre EUA e México.

Os contratos de juros futuros caíram, em média, 0,09 ponto percentual até o fechamento da sessão regular na B3. O movimento foi mais forte nos contratos mais longos, o que indica redução da inclinação da curva de juros. O DI de janeiro de 2020 teve baixa de 0,06 ponto percentual, enquanto o DI de janeiro de 2025 ficou 0,10 ponto menor.

Fonte: Valor Econômico.

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