Mercados Futuros – 27/06/08
27 de junho de 2008
Acontece no próximo dia 4 o 16º Seminário Pastos, Pastagens e Suplementos, em Dom Pedrito/RS
1 de julho de 2008

Tratado de Lisboa: Bruxelas paga pelos pecados cometidos contra o Brasil no caso da carne

A rejeição dos irlandeses no referendo para o Tratado de Lisboa mergulhou a UE e seu modelo de integração em uma nova crise com graves consequências futuras. O quadro atual pode vir a causar dificuldades tanto no cenário interno como externo.

A rejeição dos irlandeses no referendo para o Tratado de Lisboa mergulhou a UE e seu modelo de integração em uma nova crise com graves consequências futuras. O quadro atual pode vir a causar dificuldades tanto no cenário interno como externo.

No caso do Brasil, os pecuaristas poderiam se congratular pela derrota de Bruxelas. Os Euroburocratas pagaram o preço justo por sua decisão do final do ano passado, acima de tudo pela política de embargar as exportações de carne brasileira. Tudo indica que as medidas adotadas por Bruxelas fizeram parte de uma grande manobra política para evitar que os agricultores irlandeses se irritassem o que colocava em risco o futuro do Tratado, no único país a ter referendum. Os agricultores da Irlanda sempre jogaram Bruxelas na parede, ameaçando retalhar o referendum, caso a carne do Brasil não fosse embargada.

A pressão do lobby agrícola irlandês foi tão forte que além de tirarem a carne brasileira do mercado europeu, exigiram uma “palavra de compromisso” do governo irlandês para que, em caso de um “acordo ruim” na OMC, a Irlanda usaria o poder de veto na UE, bloqueando resultados de anos de negociações lideradas pelo Comissário Peter Mandelson, odiado pelos agricultores da Irlanda entre outros países europeus.

Mandelson foi sempre acusado pela IFA de “abusar de seu mandato” nas negociações da Rodada Doha. A promessa do governo da Irlanda causou constrangimentos internos em Bruxelas e contaminou outros países como a França. A palavra do governo foi concedida a apenas dez dias do referendum, e foi uma prerrogativa exigida, para que a entidade IFA passasse a apoiar oficialmente o “Sim” diante de seus 80.000 membros.

O “Não” ao Tratado de Lisboa provou que a IFA mudou de idéia muito tarde, e que, muito embora a entidade o fizesse, seus membros não seguiram as instruções, uma vez que a comunidade rural (e classe trabalhadora) votou fortemente contra o referendum. Certamente porque temem ainda que em caso o referendum fosse ratificado, Bruxelas poderia voltar atrás com o embargo ao Brasil.

A IFA tenta agora se proteger de futuras retaliações de Bruxelas ao dizer que não foram os grandes responsáveis pela recusa do Tratado. Outros fatores igualmente influenciaram o “Não”, como por exemplo, inquietudes do povo irlandês sobre os riscos de maiores perdas de poderes para Bruxelas e sobretudo por sua cultura, já que os irlandeses enxergam a “Europa” como algo ainda distante.

O quadro serve para que Bruxelas aprenda a lição de casa, e que também aprendam que não basta gloriosos discursos e cerimônias para assinatura de tratados. Por outro lado, no caso do Brasil, cria um momentum político para que o Brasil pressione a UE pela retirada do embargo, o que seria uma boa resposta para a Irlanda e para seus agricultores, por sinal, um dos maiores beneficiados de Bruxelas. E por último, para que a UE faça uma grande reflexão sobre seu futuro e sobre seu “déficit democrático”. O mesmo serve para futuros projetos regionais que almejam seguir as linhas do modelo Europeu. Estes devem entender que a participação democrática é a base para seu sucesso.

1 Comment

  1. Jogi Humberto Oshiai disse:

    Caro Adriano,

    A margem das discussões sobre o Tratado de Lisboa finalmente conseguimos o primeiro passo em relação à SP e PR. Como é de teu conhecimento, doravante cabe a liderança do setor fazer com que os pecuaristas habilitem suas propriedades para poder exportar para o mercado comunitário. Segue artigo publicado no Valor de hoje que comprova que “trabalho técnico” bem feito associado a “Public Affairs” possibilita ótimos resultados em favor do setor de agronegócios seja no Brasil, na Argentina ou mesmo no Paraguai.

    Forte abraço,

    Jogi

    VALOR ECONÔMICO

    Carne cara leva UE a retomar importações de SP e PR
    Assis Moreira e Alda do Amaral Rocha
    01/07/2008

    A União Européia (UE) decidiu retomar a importação de carne bovina in natura de São Paulo e Paraná, num momento em que os 27 países comunitários enfrentam alta de preços do produto, por causa da ausência de Brasil e Argentina do mercado. O comitê autorizou também a retomada da compra de carne de partes das províncias de Neuquen e Rio Negro, na Argentina. Deu ainda sinal verde para a carne do Paraguai.

    A decisão de incluir os dois Estados brasileiros na lista autorizada para exportar à UE foi aprovada ontem pelo Comitê Permanente para Cadeia Alimentar e Saúde Animal do bloco, e basta agora a aprovação formal da Comissão Européia. A decisão deve ser publicada oficialmente este mês, segundo o Ministério da Agricultura.

    O diretor de Saúde Animal da UE, Bernard Van Goethem, disse ao Valor que a decisão vem no rastro do reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) dos dois Estados como áreas livres de aftosa com vacinação, em maio. Além de São Paulo e Paraná, também recuperaram o status: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. Todos estavam com status suspensos desde outubro de 2005, após casos de aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná.

    A situação do Mato Grosso do Sul, que também perdeu o status, será reavaliada este mês pela OIE. Depois que o Estado recuperar a condição de livre de aftosa com vacinação, o Brasil vai pleitear à UE que também volte a habilitá-lo para exportação de carne bovina, disse o secretário de defesa agropecuária do ministério, Inácio Kroetz.

    Com a decisão, a base de propriedades em áreas habilitadas a exportar para o bloco aumenta, disse o secretário. A partir de agora, fazendas paulistas e paranaenses também poderão ser incluídas na lista de propriedades habilitadas a fornecer bovinos para abate e exportação à UE. Questionado se isso pode levar a uma retomada dos volumes de carne in natura exportados pelo Brasil ao mercado europeu, Kroetz limitou-se a dizer que os critérios de avaliação – para inclusão na lista que hoje tem cerca de 100 fazendas – continuam os mesmos. Mas disse que crescem as chances de vendas do Brasil para outros mercados, já que vários países têm a UE como referência em questões de sanidade.

    Van Goethem parece não crer que o Brasil conseguirá retomar até o fim do ano o volume de 140 mil toneladas de carne in natura em exportações para a UE. Ele observou que a lista das fazendas autorizadas tem menos de 100 propriedades e que preços altos do boi no Brasil parecem desestimular os pecuaristas a vender o gado rastreado para exportação.

    Para o secretário de agricultura de São Paulo, João Sampaio, o desafio agora é o trabalho de auditagem e certificação das propriedades, incluídas na base de dados do sistema de rastreabilidade (Sisbov). “A Defesa Agropecuária de São Paulo está pronta para trabalho conjunto com os técnicos do Ministério para fazer as auditagens, de acordo com a demanda do setor produtivo”, disse em nota.

    O Comitê Científico destacou que Brasil, Argentina e Paraguai fizeram “esforços consideráveis” para melhorar a situação da saúde animal em seus países, sobretudo em relação à febre aftosa.

    Jogi Humberto Oshiai, diretor para o comércio da América Latina junto à UE do escritório de advogados europeus O´Connor and Company, reiterou a necessidade do setor produtivo dos dois Estados atenderem às exigências da UE para que novas fazendas sejam adicionadas à lista, pois só assim obterão ganhos com o fim da restrição. Ele lembrou que grande parte dos animais abatidos em São Paulo até 2005 era oriunda do Mato Grosso do Sul “e me parece óbvio a necessidade de buscar com urgência o levantamento da suspensão das exportações de carne in natura do MS também”.