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Trator autônomo: tudo que você precisa saber

A CNH Industrial apresentou no dia 26 de abril o modelo de trator sem cabine e operado totalmente à distância da marca Case.  Trazido pela primeira vez ao Brasil, o modelo foi exposto na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP) depois de ter passado pela Farm Progress Show, nos Estados Unidos, e pelo Salão Internacional de Máquinas Agrícolas (Sima), na França.

A novidade foi apresentada, pela primeira ao público,  na edição 2016 da Farm Progress Show, uma das maiores feiras agrícolas dos Estados Unidos, realizada em Boone, Iowa em agosto do ano passado.

Tratado pela fabricante como um conceito, o trator com motor a diesel de 380 cavalos e design futurista é “pilotado” através de um tablet. Traz tecnologias já existentes em outros modelos da marca, como a telemetria, acrescidas de sensores, radar e câmeras, aplicativo de controle remoto e sistemas de comunicação com outras máquinas e implementos.

O Grupo de Inovação da Case IH e da CNH Industrial baseou o conceito sem cabos num trator Magnum já existente, com um estilo re-imaginado. Os faróis agressivos, capô esculpido e silhueta diferenciada são complementados pelos pára-lamas dianteiros de fibra de carbono, aros de pneus em duas tonalidades, preto e vermelho, e luzes de status de funcionamento de LED.

Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo

O trator possui uma interface totalmente interativa, que permite ao operador monitorar remotamente as operações pré-programadas. O sistema onboard é responsável por implementar as larguras e lotes mais  eficientes dependendo do terreno, obstruções e outras máquinas em uso no mesmo campo.

O operador pode supervisionar e ajustar os caminhos remotamente através de um computador de mesa ou de uma interface de tablet.

O processo de operação de cada trator começa com a introdução dos mapas dos limitadores físicos do campo no sistema e, em seguida, a utilização do software de planejamento de percurso integrado para estabelecer as rotas de campo mais eficientes para a máquina – a tecnologia autônoma é mais adequada para os trabalhos que a viabilizam, e que necessitam do mínimo de intervenção complexa do operador, como cultivo, plantio, pulverização e corte.

Assim que a elaboração de percursos for finalizada, o usuário pode escolher um trabalho em um menu pré-programado pela simples seleção do veículo, escolhendo o campo e, depois, configurando o trator para sua tarefa – toda a sequência leva pouco mais que 30 segundos.

Em seguida, a máquina e os acessórios podem ser monitorados e controlados tanto por um computador quanto por um tablet, onde ambos possam exibir três telas operacionais. Isso permite que os usuários acessem esses dados, onde quer que estejam, de vários locais desde sua confortável pick-up enquanto verificam os campos, ou enquanto cuidam do gado ou até mesmo de casa – e sempre que eles precisarem. Isso facilita a tomada de decisão no momento correto para melhorar a eficiência e produtividade operacional. Além disso, os agricultores manterão total controle e propriedade de seus dados.

Uma tela com que mostra o percurso exibe o avanço do trator, outra exibe os registros da câmera ao vivo, fornecendo ao usuário até quatro imagens em tempo real (duas frontais e duas traseiras), enquanto uma tela adicional permite o monitoramento e modificação dos principais parâmetros e comandos da máquina, tal como a velocidade do motor, os níveis de combustível e as configurações do implemento – taxa de semeadura ou força vertical descendente da plantadeira, por exemplo. A rota para o campo também pode ser planejada, ela deve envolver estradas e vias particulares.

Se os parâmetros operacionais se tornarem críticos, no caso de níveis baixos de combustível e sementes, o mesmo sistema de notificação é utilizado. Qualquer alarme crítico da máquina ou perda de funções de controle crítico do trator fará com que o veículo autônomo pare automaticamente por razões de segurança, enquanto um botão de parada na interface de controle pode ser ativado manualmente com a mesma finalidade.

O trator pode ser liberado para executar suas tarefas, monitorado remotamente pela interface do tablet. Sua tela também permite que as configurações da máquina e implemento possam ser alteradas remotamente. As tarefas podem ser modificadas em tempo real, como em situações onde uma tempestade esteja se aproximando. No futuro esses tratores conceituais serão capazes de utilizar “big data“, tal como informações do satélite meteorológico em tempo real para fazer automaticamente o melhor uso das condições ideais, independente da intervenção humana, seja qual for a hora do dia.

Por exemplo: o trator irá parar automaticamente caso mudanças climáticas aparentes possam causar um problema, depois ele retorna ao trabalho quando as condições estiverem suficientemente melhores. Como alternativa, se estiverem em estradas privadas, eles podem ser enviados para outro destino do campo onde as condições estejam melhores – solos que sejam mais leves ou não tenham recebido chuva, por exemplo.

A interface do tablet também pode ser montada em outra máquina de onde o operador possa supervisionar suas atividades. Do banco de uma colheitadeira ou trator, o operador pode monitorar o andamento e eventuais alterações do desempenho de uma combinação trator/plantadeira autônomos trabalhando no mesmo campo ou em campos vizinhos. Desta forma, tratores autônomos podem se integrar perfeitamente à frota já existente de máquinas agrícolas, com mínimas alterações operacionais.

Alternativamente, vários tratores autônomos podem ser colocados em funcionamento em um campo ou campos separados, nas mesmas tarefas ou tarefas sucessivas – como cultivo e semeadura – tudo isso pode ser controlado pela mesma interface.

Até agora, a integração entre equipamentos foi testada apenas com produtos da própria Case. No entanto, os executivos afirmaram que a intenção é adotar o conceito de plataforma aberta, já que máquinas de diferentes marcas se comunicam cada vez mais. A promessa é de um trator que pode trabalhar durante 24 horas se necessário, executando tarefas em todas as fases da produção.

Segurança primeiro

Através do uso do radar, LiDAR e câmeras de vídeo onboard, o veículo pode detectar obstáculos parados ou em movimento no seu caminho e vai parar por conta própria até que o operador, notificado por alertas sonoros e visuais, atribua um novo caminho. O veículo também para imediatamente se o sinal GPS ou os dados de posição forem perdidos, ou se o botão de parada manual for pressionado. As tarefas da máquina também podem ser modificadas em tempo real com interface remota ou alertas meteorológicos automáticos.

“Esse trator não é apenas um exercício de estilo. Estamos mostrando uma máquina que é funcional. É como deve ser a agricultura do futuro”, garantiu Mirco Romagnoli, vice-presidente da Case IH, empresa do grupo CNH Insdustrial.

Na visão da companhia, tornar os equipamentos mais autônomos é um processo que envolve cinco etapas. A primeira, já superada, é a da direção, fazendo a máquina ir sozinha de um ponto a outro. A quinta seria a automatização total: um equipamento que se movimenta sozinho e gerencia o trabalho no campo sem uma supervisão externa.

O trator conceito da Case estaria, segundo os executivos, no quarto estágio: faz as tarefas automaticamente, mas ainda depende de um controlador humano monitorando operações pré-programadas, mesmo de longe. Caminhos percorridos e parâmetros utilizados podem ser supervisionados e ajustados de forma remota a qualquer momento.

“A autonomia total ainda está um pouco distante. Estamos trabalhando na autonomia com supervisão externa”, disse o diretor de Marketing da Case IH para a América Latina, Christian Gonzalez.

Na época do lançamento do produto, Leo Bose, gerente de marketing de Advanced Farming Systems (AFS), disse: “Nós só queremos saber o quanto de interesse os produtores têm nesses recursos autônomos e o que mais eles gostariam de ver de nós. Não é um lançamento de produto por qualquer meio. Mas certamente poderia levar a um, ou vários, no caminho. ”

“Múltiplos veículos autônomos poderiam ser colocados para trabalhar em um campo ou em campos separados, nas mesmas tarefas ou em tarefas consecutivas. Isso poderia permitir que uma pessoa que trabalha sem nenhum funcionário opere vários tratores, ou poderia complementar operações muito grandes que têm o desafio de encontrar ampla mão de obra qualificada”, disse Bose.

Os representantes da empresa informaram que o projeto do trator autônomo envolveu profissionais em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. A participação brasileira enfatizou um eventual uso em plantações de cana-de-açúcar e em fazendas onde há frotas maiores de maquinário.

“Não há país onde as características desse trator possam ser tão bem aproveitadas quanto o Brasil. Há grandes produtores, grandes áreas e busca por eficiência. Acredito que pode chegar aqui antes de outras regiões”, afirmou Mirco Romagnoli.

CNH Industrial colaborou com a Autonomous Solutions Incorporated, ASI, uma empresa com sede em Utah, no desenvolvimento deste conceito de tecnologia autônoma.

O foco em futuras inovações que ajudam os agricultores a alcançar práticas agrícolas de alta eficiência faz parte do novo slogan da Case, “Rethink Productivity”.

“Estamos adotando oficialmente a ‘Rethink Productivity’ como marca norte-americana, porque incorpora nossa abordagem à inovação de equipamentos e a abordagem de nossos clientes em suas operações”, diz Tom Dean, diretor de marketing da Case IH North America.

“Na economia de hoje, os produtores sabem que devem se concentrar em alcançar o mais alto nível de eficiência se eles querem crescer e ter sucesso. É por isso que estamos intensificando nosso foco na combinação de tecnologias avançadas e design agronômico na busca da agricultura de alta eficiência “.

Veja o vídeo abaixo:

Projeto-piloto

Não há previsão de lançamento comercial do trator autônomo. Neste ano, a empresa fará dois projetos-piloto nos Estados Unidos para testar a aceitação da tecnologia. Os sistemas de movimento e controle remoto serão adaptados em tratores que já estão no mercado norte-americano. As atividades serão na Califórnia, escolha nada aleatória já que o Estado é um importante polo de desenvolvimento tecnológico.

“Vamos definir os degraus de autonomia a se implantar nos produtos. Depois desses projetos, haverá uma segunda fase que ainda não está definida. São testes para validar a tecnologia que, em algum momento, serão feitos, inclusive, no Brasil”, explicou Christian Gonzalez, diretor de Marketing.

Um dos principais desafios para a implantação comercial é a falta de regulamentação em muitos mercados, disse Gonzalez. Isso é importante, principalmente, para garantir a segurança no uso dos equipamentos. No Brasil, acrescentou, a legislação é “praticamente zero”. Nos Estados Unidos, há avanços, que devem servir de padrão para outros países, acredita o executivo.

Outras questões a serem superadas são fazer o equipamento controlado à distância chegar também à agricultura de pequena escala e as consequências da adesão a esse tipo de tecnologia sobre o trabalho humano. “A existência de um trator como esse estimula essas discussões”, avaliou Gonzalez.

A Case não revelou quanto foi investido no projeto.Os representantes da empresa também evitaram estimar um preço para a máquina. Disseram apenas acreditar que não seria muito diferente do que se pratica atualmente. O trator autônomo foi montado sobre uma plataforma da Case em que as máquinas variam de R$ 650 mil a R$ 1 milhão, dependendo do modelo.

Mercado

Questionado sobre o mercado de máquinas agrícolas no Brasil, o vice-presidente da Case IH para a América Latina se disse otimista. Mirco Romagnoli lembrou que a expectativa do setor, de um modo geral, é de uma expansão de 15% a 20% em relação a 2016.

No primeiro trimestre deste ano, as vendas de máquinas agrícolas no mercado interno registraram um ritmo de crescimento bem maior que a expectativa. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram comercializadas de janeiro a março 9.752 unidades de tratores e colheitadeiras. No intervalo de janeiro a março de 2016, a indústria registrou 6.912 equipamentos vendidos. A alta é de 41% de um ano para outro.

“Depois de três anos de pouco volume de vendas, há a necessidade de mais máquinas. A disponibilidade de financiamento está boa e há tecnologias novas. O preço da soja está menor, mais ainda em níveis aceitáveis”, analisou.

Veja vídeo do Globo Rural:

Fonte: Globo Rural, Agriculture.com, https://www.caseih.com, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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