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Tumores ovarianos em vacas

As neoplasias ovarianas (primárias), ou tumores de ovários são pouco freqüentes em todas as espécies domésticas. Em vacas são consideradas raras. Estas alterações podem ser primárias no ovário ou na verdade manifestarem como metástases de neoplasias originalmente em outros órgãos. As neoplasias primárias do ovário podem afetar os diferentes tecidos presentes e serem divididas da seguinte forma:

A) Tumores do estroma não especializado: Fibrossarcoma e hemangiossarcoma
B) Tumores do estroma especializado: Tumores de células da teca e granulosa e tumor de células luteínicas.
C) Tumores de células germinativas: Teratoma e disgerminoma
D) Tumores epiteliais: Cisto adenomas.

Na vaca, encontra-se principalmente neoplasias relacionadas a células do estroma especializado. O tipo de neoplasia primária mais comum é o TUMOR DE CÉLULAS DA TECA E GRANULOSA. Não se conhecem as causas ou fatores predisponentes, porém como casos de neoplasias em outros órgãos, é mais comum em animais velhos. Segundo a literatura, existe uma maior incidência em vacas da raça Guernsey (predisposição genética?).

Tem este tipo de denominação pois geralmente envolve os dois tipos celulares encontrados na parede dos folículos, ou seja, células da teca e da granulosa. Pode haver predominância de um tipo celular porém geralmente ambas estão envolvidas. Apresenta-se como uma massa de crescimento rápido, geralmente compacta ou com cistos, podendo ter regiões de hemorragia e necrose. É geralmente unilateral, com coloração branco-amarelada (figura 1).

Figura 1: Imagens de tumores de células da teca e granulosa em vacas. Note as áreas de hemorragia (escuras).


Na maioria das vezes tem caráter benigno. Raramente apresenta metástases, que quando ocorrem são observadas nos linfonodos regionais. Embora não afete outros órgãos através de metástases, pode invadir órgãos adjacentes como tubas uterinas, útero e ligamentos. Às vezes pode se apresentar como uma massa aderida à pelve. A definição do tipo de neoplasia geralmente poderá ser feita somente mediante biópsia e histopatologia.

A sintomatologia depende da progressão da patologia e se o tumor é hormonalmente ativo, e qual hormônio está sendo secretado. Na vaca geralmente o Tumor das Células da Teca e Granulosa não produz hormônios, não havendo portanto alterações na manifestação do ciclo estral por distúrbios hormonais. Há inclusive a possibilidade da fêmea ficar gestante mesmo apresentando uma massa tumoral considerável em um dos ovários (Figura 3).

Figura 2: Tumor de células da teca e granulosa de grandes proporções. A tuba uterina do lado afetado está totalmente envolvida pela massa tumoral.


Figura 3: Animal gestante com uma grande massa tumoral no ovário esquerdo. Isto prova que alguns tumores podem não causar distúrbios hormonais que comprometem a fertilidade.


Geralmente a gônada afetada não é funcional. Porém a outra pode ter fisiologia normal, como crescimento folicular e ovulação, daí a possibilidade de gestação.

Os principais sintomas são:
– Subfertilidade ou esterilidade: O ovário afetado geralmente é afuncional, além de órgãos adjacentes como tubas e útero estarem envolvidos. Se o comprometimento for bilateral ou muito extenso nos órgãos genitais, a fêmea não tem condições de estabelecer e/ou manter a gestação. Quando unilateral e restrito ao ovário, a fêmea pode inclusive ciclar normalmente e até ficar gestante.
– Anestro. Pode ser observado nos casos de tumores que comprometem ambos os ovários ou quando a neoplasia secreta progesterona. Esta condição de produção de progesterona por tumores ovarianos na vaca ocorre principalmente quando se trata de um Tumor de Células Luteínicas (figura 4).
– Ninfomania. Acontece quando a neoplasia secreta estrógeno Raro em vacas. mais comum em cadelas (hiperestrogenismo).

Figura 4: O Tumor de Células Luteínicas (áreas amarelas) pode produzir progesterona e levar o animal a apresentar anestro.


O diagnóstico pode ser feito por palpação via retal e/ou ultra-sonografia. Para diferenciar de outras condições que causam aumento de volume ovariano, notar que os tumores geralmente são massas sólidas, com crescimento progressivo, que podem invadir tecidos ou órgãos adjacentes. A biópsia pode ser utilizada para verificar o tipo de tumor.

Independente do tipo e extensão do tumor o prognóstico para a reprodução não é bom. Depende do tamanho do tumor, invasão de outros tecidos, presença de metástases e condição do animal. Pode ser reservado para a vida do animal, mas geralmente desfavorável para a reprodução.

O único tratamento indicado é a remoção cirúrgica da gônada afetada, quando o tumor é unilateral e não atinge áreas adjacentes como o útero. Nos casos de animais geneticamente de grande valor esta opção pode ser considerada (figura 5).

Figura 5. A ovariectomia unilateral da gônada afetada é uma das únicas formas de tratamento, indicada em algumas situações em animais de alto valor.

1 Comment

  1. José Francisco Manta Bragança disse:

    Ótimo artigo, ilustrativo e esclarecedor.