A União Europeia (UE) recusa a demanda do Brasil de modificar a definição da chamada Cota Hilton, pela qual o país tem direito a exportar - mas não consegue - 10 mil toneladas de cortes bovinos nobres com tarifa menor para o mercado europeu. Bruxelas diz, porém, estar "aberta a escutar" propostas brasileiras sobre "alguns aspectos técnicos da aplicação da cota".
A União Europeia (UE) recusa a demanda do Brasil de modificar a definição da chamada Cota Hilton, pela qual o país tem direito a exportar – mas não consegue – 10 mil toneladas de cortes bovinos nobres com tarifa menor para o mercado europeu. Bruxelas diz, porém, estar “aberta a escutar” propostas brasileiras sobre “alguns aspectos técnicos da aplicação da cota”.
Na prática, a resposta europeia pode se estender à frequente demanda brasileira para que a UE flexibilize suas exigências em relação à rastreabilidade de toda a carne bovina brasileira – não apenas à da Cota Hilton – destinada à exportação aos 27 países-membros do bloco.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil não preencherá o volume de exportações a que tem direito na Hilton. No ano-cota que se encerra este mês, o 2010/2011, o país só venderá cerca de 400 toneladas do volume total, ou seja 4%. No ano anterior, não chegou a 8% do total. A UE deixa claro que o volume é anual e não é possivel transferir as quantidades não exportadas para o ano-cota seguinte (julho 2011-junho 2012).
O Brasil tem ficado distante de cumprir a Hilton porque a UE exige, desde 2009, que os cortes vendidos dentro da cota sejam provenientes apenas de animais rastreados desde a desmama (10 meses de vida) e que sejam alimentados só a pasto, sem nenhum tipo de suplementação a partir de então.
Por isso, o governo brasileiro insiste com a UE para rever as condições para a exportação considerando que elas são hoje “irreais”. Para o Brasil, a rastreabilidade especial exigida não é questão de sanidade, mas de mercado. O país reclama de discriminação, pois outros como EUA e Canadá vendem na Cota Hilton sem as mesmas exigências impostas aos brasileiros.
Para a União Europeia, são diversas as razões para o Brasil preencher apenas 4% do volume a que tem direito. Avalia que as exigências adotadas pelos europeus em 2008 limitaram o numero de fazendas brasileiras autorizadas a fornecer gado para abate e exportação da carne à Europa.
Além disso, afirma que não há muitos produtores interessados na utilização da cota respeitando as condições de rastreabilidade aceitas pelo Brasil desde 2005. Bruxelas argumenta que o aumento do consumo interno, o crescimento da demanda da carne brasileira por mercados como Ásia e Oriente Médio e uma taxa de câmbio desfavorável tornaram o mercado europeu menos atrativo para os exportadores brasileiros nos dois últimos anos.
Para a UE a resposta para mudar a definição da cota é clara: “A Comissão Europeia manteve contatos com as autoridades brasileiras sobre essa questão em 2010. A conclusão das discussões foi de que uma modificação da definição da Cota Hilton não é possível. No entanto, a Comissão continua aberta a escutar as propostas brasileiras sobre certos aspectos técnicos da aplicação da cota. Aguardamos propostas brasileiras”.
No governo brasileiro, mesmo essa discussão limitada só pode ocorrer depois que o setor privado no Brasil decidir o que quer exatamente. É que até agora os produtores de carne bovina só ameaçaram pedir ao governo que denuncie a UE na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Se eles pedirem a abertura de disputa, o governo precisa preparar estudos, toda a argumentação, ver as despesas de custos de advogados, e tudo isso leva tempo”, diz uma fonte.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio, rejeitou a alegação da União Europeia de que não há muitos produtores brasileiros interessados na utilização da cota Hilton. “Mercado a gente quer e o mercado está lá, mas nas condições impostas [pela UE], fica difícil alguém se interessar”, afirmou Sampaio.
Nas discussões com a União Europeia, desde o fim de 2010, os representantes do governo brasileiro têm defendido a alteração da definição da Cota Hilton para o Brasil. O objetivo é desvincular o conceito de carne bovina de alta qualidade do processo de alimentação dos animais.
De acordo com Sampaio, os europeus sugeriram, como saída para a questão da suplementação, que os produtores brasileiros utilizem apenas produtos não processados como suplementação, tais como cana e silagem. Processados como farelo de soja, usados pelos pecuaristas brasileiros para a engorda dos animais no confinamento, não seriam permitidos.
Além disso, a UE sugeriu a definição do período do ano em que esses suplementos poderiam ser usados na alimentação. “Não concordamos com isso porque engessaria ainda mais”, afirma o diretor-executivo. “Essa flexibilização que estão propondo não resolve o problema”, acrescenta.
Segundo ele, o setor seguirá buscando uma mudança que permita tornar as exportações de carne na Cota Hilton atraentes. “Vamos fazer mais uma tentativa” e reafirmou que a alternativa de ir à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a UE por conta das exigências continua na mesa.
As informações são do Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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Fico a me perguntar. É melhor tudo, nada ou algo.
para mim é melhor algo pois algo é melhor do que nada. então aceitem a flexibilização proposta pela ue, assim as coisas já vão melhorar.
No decorrer façam novos pleitos de ajustes.
Tratem as situações usando a razão e não a emoção.
abiec – frigoríficos – façam propostas de incentivo a produção de animal que cumpra os requisitos, assinem com os produtores um compromisso de pagar um valor x a mais por @. cumpram com o acordado, pois o proposto hoje terá retorno em meses, com certeza assim vão cumprir com 100% da cota hilton.
agora, abiec e frigorificos – vcs querer um flexibilização para ter o produto e não repassar nada para o fornecedor produtor, vcs estão é de piada mesmo.
fiquem mas alguns anos com este raciocionio que deve ser o certo….vou na omc “vcs já falam isto tem anos” e não vão,,,,,,,não incetivam o produtor a fornecer o produto com incetivo garantido,,,,,fiquem tentando o fácil para ganhar toda fatia do bolo sozinhos,,,,
vcs devem estar certos mesmos, é melhor continuar não ganhando para tentar um dia ganhar sem dar nada ao fornecedor.
Olha que novela,que conversa pra boi dormir!
A verdade é o preço do boi inibe as exportações como um todo,não apenas para UE.
A questão da rastreabilidade deve ser uma obrigação legal.
Como se alimentar os animais deve ser uma obrigação lastreada por NORMATVA do Mapa,e esta deve ter força de punição relevante para quem não cumprir.
E PT,saudações,
EVÁNDRO D. SÁMTOS.
Onde podemos encontrar a normativa sobre cota hilton ?
Esta claro que o Brasil tem tido dificuldades de atender as exigências da COTA HILTON. É um benefício que oferecem sem termos como usufrui-lo. A rastreabilidade dos animais desde a desmama até pode ser equalizada pelo mercado, afinal o diferencial no valor da tonelada de carne da COTA HILTON é grande e suporta remunerar tb ao criador. Mas animais jovens e muito bem acabados a pasto só são factíveis com raças européias precoces e pastagens de excelente qualidade durante todo o tempo. O que é muito raro no Brasil. E ao combinarmos os dois tipo de exigências acabamos não encontrando, no raio de plantas frigoríficas habilitadas à exportar, animais suficientes para viabilizar a operação. Façam as contas quantos animais são necessários para fechar um container de filet mignon. A solução natural seria permitir a suplementação alimentar dos animias com rações. Assim eles teriam carne de excelente qualidade e com absoluta segurança. Mas se criarem outras muitas restrições com relação ao tipo de ração e época do ano em que pode ser ministrada pouco adiantará. Gostaria muito de saber como fazem com os animais durante o inverno na Europa.
Na Europa e nos Estados Unidos 99,9% do rebanho é engordado em confinamento com rações , por que no Brasil tem que ser 100% à pasto? Para evitar a exportação muito mais competitiva do Brasil…Talvez a saída esteja na adubação de pastagens…
O produto vendido sob a Cota Hilton e chamado de "High Quality Beef"(HQB). Esse nome se aplica a qualquer carne importada pela Europa, independentemente da origem (EUA, Canada, Australia, Brasil, Argentina, etc.). As definicoes para cada pais estao no Regulamento 810/2008 (http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CONSLEG:2008R0810:20090701:EN:PDF). A questao aqui e que o produto High Quality Beef originario dos EUA tem como base a obrigatoriedade de o animal ter sido confinado antes do abate e alimentado com racao com alta energia. Assim como o do Canada e da Australia. Mas, assim como a carne exportada pelo Brasil como Cota Hilton, o nome do produto e High Quality Beef. A arbitrariedade sobre como deve ser produzida a HQB conduzida pela Direcao Geral de Agricultura (DG-AGRI) da UE tem por unico objetivo tornar a situacao manejavel por eles proprios. Dizem que no caso do Brasil, ha necessidade de rastreabilidade por toda a vida do animal para comprovacao de que foi alimentado unicamente com pasto. Ha alguma brecha para suplementacao em epoca seca, mas quase nada representa isso em termos praticos. O problema e a identificacao individual desde o nascimento, o que e ainda agravado no Brasil pela pouca estruturacao da cadeia produtiva. Mas para os EUA, Canada e Australia cumprirem a Cota Hilton, ha necessidade de controlar a alimentacao dos animais por apenas 100 dias anteriores ao abate (bem proximo dos nossos 90 dias com identificacao individual). Alem dessa melhor condicao em relacao a identificacao individual, os animais em confinamento, atingem os requisitos de classificacao de carcaca necessarios para serem enquadrados na Cota Hilton. Poderia se dizer que a maior parte atinge o padrao de classificacao para tal. Ja no caso do Brasil, em torno de 1% dos animais efetivamente criados a pasto, com animais zebuinos em grande escala, atingem o padrao de tipificacao de carcacas demandado (o chamado B bola). Entao a dificuldade, primeiro com a identificacao animal, e depois com o baixo aproveitamento na tipificacao de carcacas, uma vez que o nosso animal NAO PODE ser confinado para a Cota Hilton. O Brasil apresentou pleito para que o sistema de producao fosse de animais confinados 100 dias antes do abate com racao de alta energia. Isso resolveria a questao da identificacao individual (ja temos que identificar 90 dias antes do abate) e do aproveitamento na tipificacao de carcacas. A jogada e politica e economica e nao tem base em qualquer criterio, e arbitrado pela DG-AGRI.
Cabe ainda comentar a colocacao feita na materia de que a negativa da DG-AGRI indica que a UE nao reveria a questao da rastreabilidade para a producao fora da Cota Hilton nao tem sentido, ja que o requisito em questao (90 dias) e da DG-SANCO, onde existem premissas tecnicas definidas e onde um posicionamento como esse nao teria espaco. Nao e o caso de ligar o requisito de Cota Hilton ao da rastreabilidade (90 dias) para a carne normal porque eles tem natureza distinta.
O Sr Fabio Henrique toca em um ponto importante para viabilizar o atendimento da COTA HILTON: a necessidade de parcerias formais entre produtores e frigoríficos. Afinal o ciclo de produção rastreada será de pelo menos 20 meses (30 meses, a idade máxima ao abate, menos 10 meses, a idade máxima para identificação dos animais) e provavelmente envolverá ao menos dois produtores. E é preciso algum contrato de medio / longo prazo entre frigorífico e produtores definindo garantias de remuneração mínima pelo investimento e trabalho adicional dos pecuaristas. Só assim será possível reduzir os riscos da ampliação do período de monitoramente dos animais e consequente de seus custos e consequentemente ampliar a oferta de animais desejados.
A lógica do mercado da carne, em termos de remuneração ao produtor, tem algo a ver com o mercado do leite. Para quem é louco o suficiente em ser um produtor de leite, sabe que o trabalho não se restringe de segunda a sexta, ao dia de sol, à boas estradas, à boa mão-de-obra, e fornecimentos ininterruptos de energia elétrica para movimentar o maquinário quando se está ordenhando mecanicamente uma vaca 3/4 Gir x Holandês com bezerro ao pé. Vai muito mais além disso tudo, levando-se ainda em conta de sempre escutarmos dentro dos supermercados que "marido, esta manteiga está cara, o iogurte vamos comprar só a metade que compramos semana passada, e a carne vai ter que ser meio-a-meio pra cozinhar e pra assar, por que também encareceu". Bom, esta frase, a mim, como produtor rural, em época alguma fez absoluta diferença em meus bolsos. Mas o nunca é de fato muito forte. Fez sim, alguma diferença fez, mas obviamente não foi tão impactante como foi para as indústrias, que continuam sendo alimentadas com os nossos insumos – carne e leite – dia após dia, noite após noite. Mas a seara para a discussão da produção de leite é outra, e já não faz mais parte do meu labor, (in)felizmente. Voltando-me ao problema da carne, enquanto a cadeia de produção não for regulada – digo, enquanto não houver um acordo de homem pra homem – de modo que possa o produtor garantir um sobre-esforço para produzir carne (tirar um pouco mais de onde não tem, não faz mal, minha gente, paciência!), bem como de modo que possa ser garantido ao produtor uma remuneração justa ao seu produto diferenciado, exatamente por parte dos frigoríficos, poderemos vislumbrar uma melhora do cenário. Sim, pois atingida esta etapa, deverá haver uma consolidação deste raciocínio, momento em que teremos uma solidez na produção e uma possível certeza da remuneração pelo produto. Mas quero também adiantar aos caros leitores que, por mais que tenhamos movimentos sociais afins à classe produtora de gado de corte, à qual eu honrosamente faço parte, estamos cada vez mais distantes de um cenário como este: a classe é muito desunida – ou antes, ela é apenas desunida – e se se une em torno de um objetivo comum, o de por exemplo pressionar os frigoríficos, meia dúzia de produtores que vierem a ser beneficiados mas que façam parte do movimento, abandonaram o resto todo, deixaram a linha de frente ser rompida e toda a batalha se perde, e mais uma vez toda a classe perde, inclusive quem teve o "benefício". Não sei o que poderemos fazer, mas certamente não se pode, caro Produtor de Carne – sim, somos produtores de carne – ficar do jeito que está. Temos um cenário muitíssimo favorável a todos nós, grandes e pequenos. Minha voz é tão pequena que eu não falo, apenas ouso a deixar algumas linhas escritas, só pra ver se dá certo, plantar algumas – não boas, mas- diferentes idéias dessas que estão aí e que não deram tão certo. Um forte abraço a todos.