A União Européia (UE) informou que estará desembarcando em Brasília no começo desta semana pronta para indicar uma nova abertura de seu mercado para os produtos agrícolas do Mercosul. Mas alertou: também exigirá um “pagamento” do bloco que reúne Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Há três semanas, em Bruxelas, o Mercosul abandonou as negociações diante da oferta européia, considerada “insuficiente”. Para o Itamaraty, a negociação, a ser iniciada amanhã, será um teste para saber se o acordo entre Mercosul e UE pode ser concluído até outubro, como era previsto.
Da parte da UE, o negociador-chefe do bloco, Karl Falkenberg, garante que apresentará algo além do que foi colocado na mesa na capital européia. “Estou viajando ao Brasil pronto para mostrar flexibilidade”, afirmou.
O europeu já falou ao telefone com o embaixador brasileiro responsável pelas negociações, Régis Arslanian, e disse que viria com novidades, mas não antecipou em que direção segue a nova proposta.
Enquanto o Mercosul não entender que tem de ser flexível também, será difícil mudar o cenário das negociações, insistiu o negociador europeu: “É preciso flexibilidade simultânea”.
Os diplomatas do Mercosul garantem que estão preparados para fazer ofertas nos setores solicitados pelos europeus, como serviços, investimentos e bens industriais. “Mas que eles não venham com uma abertura de 2% a mais do mercado esperando que façamos nossa parte”, disse um negociador do bloco sul-americano. Para um observador das negociações, a reunião servirá acima de tudo para “tirar a temperatura”. A idéia é que, se ambos mostrarem flexibilidade, a negociação pode ser fechada em outubro.
Para um maior entendimento entre as partes, a reunião terá um caráter distinto. Nenhum documento oficial será apresentado e as novas ofertas circularão informalmente. “Cada um dirá o que pode fazer para atender às demandas da outra parte. Veremos até onde cada um pode ir. Com essas indicações, os negociadores voltarão a suas cidades para avaliar as propostas e ver se o acordo é possível para outubro. Vamos descobrir a margem de manobra”, explicou um diplomata envolvido nas negociações.
Em Bruxelas, a negociação fracassou depois que os europeus apresentaram uma oferta de acesso a seu mercado agrícola parcelado em dez anos. Em protesto, o Mercosul abandonou as negociações três dias antes do final do encontro. Curiosamente, a Confederação Nacional da Agricultura foi contra a interrupção das conversas.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Jamil Chade), adaptado por Equipe BeefPoint