Mercados Futuros – 27/02/08
27 de fevereiro de 2008
Frigoríficos compram pouco e preços continuam firmes
29 de fevereiro de 2008

UE volta a comprar carne brasileira, mercado segue com preços firmes e pouca oferta

Nesta quarta-feira, a União Européia (UE) aprovou uma lista de estabelecimentos brasileiros aptos a exportar, com 106 fazendas, e liberou a exportação de carne bovina in natura. O número é pequeno, mas já é um começo. Nesse momento o número de fazendas que tem permissão para exportar para a UE não é o principal assunto que deve ser discutido. O que deve ser negociado é como serão inseridas novas propriedades nessa lista e como essas fazendas serão auditadas. O mercado do boi fecha mais uma semana em alta. O indicador a prazo foi cotado a R$ 76,09/@, nesta quarta-feira, com uma variação positiva de 0,16%.

Nesta quarta-feira, a União Européia (UE) aprovou uma lista de estabelecimentos brasileiros aptos a exportar, com 106 fazendas, e liberou a exportação de carne bovina in natura. A lista consta de 87 fazendas e Minas Gerais, 11 no Rio Grande do Sul, 4 em Mato Grosso, 2 em Goiás e 2 no Espírito Santo. Além do número ser pequeno e o volume produzido não conseguir atender a demanda da UE, sem possibilitar que o Brasil volte a vender as mesmas quantidades anteriores ao embargo, as propriedades estão espalhadas por vários estados da nação. O que deve dificultar as programações de abate, pois segundo as regras da UE, os frigoríficos exportadores não podem abater animais rastreados juntamente com animais não rastreados.

O número é pequeno, mas já é um começo. Nesse momento o número de fazendas que tem permissão para exportar para a UE não é o principal assunto que deve ser discutido. O que deve ser negociado é como serão inseridas novas propriedades nessa lista e como essas fazendas serão auditadas. Os técnicos europeus ainda estão no Brasil e darão continuidade às vistorias nas fazendas aptas à exportar, segundo o Ministério serão visitadas aproximadamente 30 estabelecimentos para verificar se as exigências estão sendo cumpridas.

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, classificou a decisão da Comissão Européia como um “embargo branco”. Para ele, essa liberação não significa avanços e sim uma estratégia da União Européia (UE) para transferir ao Brasil a responsabilidade dos próximos acontecimentos, informou a CNA.

O secretário-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, diz que agora o setor precisará fazer “as contas para ver se vale a pena exportar”.

O leitor do BeefPoint, Pablo Valdez, comenta que reflexos da liberação já chegaram ao Uruguai. Segundo ele, com a notícia de que o Brasil teria voltado a exportar para o mercado europeu, frigoríficos uruguaios e exportadores tentam provocar recuos nos preços, afirmando que as exportações do país para a UE vão ser comprometidas pelo retorno da concorrência brasileira.

O mercado do boi fecha mais uma semana em alta. O indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista teve valorização de 0,15% na semana, sendo cotado a R$ 75,34/@. O indicador a prazo foi cotado a R$ 76,09/@, nesta quarta-feira, com uma variação positiva de 0,16% (R$ 0,12).

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio


A moeda americana apresentou variação de -3,67%, valendo R$ 1,671. Com o dólar em queda e o preço do boi gordo se valorizando, a alta da arroba em dólares acumulou valorização de 3,96%, com o indicador sendo cotado em US$ 45,09/@.

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista e em US$


No mercado físico, a oferta pequena de boi gordo tem sustentado os preços da arroba. As escalas seguem curtas em torno de 4 dias. Em São Paulo, compradores comentam que apesar dos preços altos da arroba está difícil conseguir animais para abate, a maioria das indústrias do estado está se abastecendo com animais dos estados vizinhos.

No Mato Grosso do Sul, os frigoríficos tentaram pressionar reduzindo as ofertas de compra, mas os pecuaristas recuaram. Sem conseguir animais para completar as escalas, as indústrias cederam e reajustaram os preços, mesmo assim a oferta ainda é reduzida e os preços devem continuar firmes.

O mercado segue firme, em todo o Brasil o que vemos é muita procura por animais de reposição e pouca oferta, o que tem feito os preços de todas as categorias de gado magro se valorizarem a cada dia. O Indicador Esalq/BM&F bezerro MS à vista não registra recuos desde início de janeiro de 2007. De acordo com o levantamento realizado pelo Cepea, desde 02 de janeiro de 2007 o bezerro acumulou valorização de 39,99%, com o indicador sendo cotado a R$ 506,77/cabeça, nesta quarta-feira. A relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerro) se encontra em 1:2,45, indicando que apesar dos preços altos, no momento, a reposição ainda é atraente.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&F bezerro MS à vista x relação de troca (boi gordo de16,5@ por bezerro)


No mercado futuro a semana também foi de alta. Com o indicador firme, escalas curtas e pouca oferta no mercado físico, todos os vencimentos acumularam altas. Os contratos com vencimento em fevereiro/08 tiveram valorização de R$ 0,95, fechando a R$ 75,32/@. Março/08 fechou, nesta quarta-feira, a R$ 73,81/@, alta de R$ 2,66. Para contratos que vencem em outubro/08 a valorização foi de R$ 2,49.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&F e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 20/02/08 e 27/02/08


A carne no atacado apresentou recuo em relação a semana passada. Os frigoríficos reclamam que os preços estão muito baixos em comparação com o preço pago pela arroba, mas esperaram um ajuste para a próxima semana e valorização da carne em conseqüência do início do mês e pagamento dos salários.

Na semana, o traseiro (R$ 5,30) apresentou recuo de 1,85%, o dianteiro (R$ 3,60) 5,26% e a ponta de agulha (R$ 3,00) permaneceu com preços inalterados. Assim o equivalente físico recuou 2,82%, sendo calculado em R$ 65,07/@. O spread (diferença) entre boi gordo e equivalente físico está em R$ 10,27/@, valor acima da média dos últimos 12 meses que é de R$ 6,24/@. Porém, a carne bovina no atacado está com valor bastante alto em relação ao mesmo período do ano passado, o equivalente físico está 25,85% superior ao valor do dia 27 de fevereiro de 2007.

Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina


Gráfico 4. Indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista x equivalente físico

0 Comments

  1. josé antonio helena castilho disse:

    Todos os pecaristas devem agora firmar para segurar os preços em alta como estão, logicamente que essa volta da compra de carne pelos europeus por enquanto não esta nos trazendo nenhuma vantagem (alta), mas já é um começo, para pelo menos segurar o mercado.

    Quanto ao spread os frigorificos também devem segurar a venda de carne no mercado interno que tudo se ajustará.

  2. Estêvão Domingos de Oliveira disse:

    Vendi bezerros nelore de 12 a 15 meses a R$ 550, a vista hoje. As irmãs desses bezerros consegui R$ 350,00 a vista.

    Mercado melhorando ainda mais… Vamo que vamo rumo a R$ 100,00 a arroba…

  3. Carlos José Pedrosa disse:

    Senhores,

    A profunda análise do zootecnista André Camargo retrata as decisões e os reflexos na pecuária brasileira.

    Porém, isso que ocorreu foi apenas mais um capítulo da novela desse embargo. Várias missões técnicas da União Européia estisveram aqui e deixaram uma lista de exigências. Porém, as pseudo-autoridades, na sua incompetência, pensaram que aquilo não resultaria em nada e negligenciaram. Quem pagou o pato foi a pecuária brasileira.

    É esse o resultado quando pessoas estranhas, nada profissionais, são escaladas para mexer na área dos outros, que não conhecem. Espera-se que desta vez aprendam a lição e façam o dever de casa. Ou peçam para sair e cedam o lugar a quem tem competência.

  4. Jose Borba Moglia disse:

    Puro absurdo, uma barbaridade.

    É um absurdo a passividade do Srs. ministros do Brasil, o do MAPA, do Comércio Exterior, da Casa Civil, estão simplesmente cabresteando para os Europeus como touros e vacas em pista de julgamento, fazem uma escaramuça, mas continuam cabresteando.

    Quando vamos ter uma equipe de governo que lute de verdade pelas empresas brasileiras?

    Só pra lembrar a Argentina no ano de 2006 e 2007, proibiu as exportações para a europa, por vários motivos e entre eles a sanidade, e hoje estão exportando como nunca para os europeus.

    Só para informação, no Uruguai a rastreabilidade é iniciada quando carregam os animais na fazenda (eles, veterinarios oficiais uruguaios, brincam o gado que esta na escala do frigorifico).

    Paraguai então nem se fala, simplesmente só para europeu ver.

    Claro que temos que garantir que a nossa carne é saudavel que não traz consigo nenhum tipo de doenças, residuos de pesticidas, hormonios e etc, mas convenha-mos pelo tipo de exploração da pecuaria de corte, pela cultura de nosso povo e outros fatores a rastreabilidade brasileira tem que ser com caracteristicas proprias e exiquiveis.

    A maioria das fazendas aptas estão em MG, outro absurdo, todos sabemos que MG é conhecida principalmente pelo rebanho leiteiro e pelos genética de ponta dos zebuinos. Ou só as fazendas de alta genética, aquelas que as vacas valem mais de 1 milhão é que são as autorizadas a exportar.

    Enquanto nossos representantes não fizeram nada vamos continuar cabresteando igual bois nas pistas de Uberaba, será que não é hora de dizer simplesmente, “NÃO TEMOS INTERESSE DE EXPORTAR PARA A EUROPA”. E partirmos para abrir novos mercados como o Chines, a Africa, os Judeus, o Oriente médio e etc.

    Os Europeus que se cuidem, pois se cada chinezinho resolver comer um bife por semana, o Brasil vai ter muito trabalho para alimentá-los e não vai sobrar para a Europa.

    Já me alonguei demais, mas estou a disposição para a discução.

  5. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Meu comentário é sobre o título da matéria. Dizer que a União Européia volta a comprar carne brasileira pode passar uma idéia equivocada, porque na verdade com essas 106 fazendas, a maior parte delas em Minas Gerais (87propriedades) que, se não me falha a memória tem três ou quatro matadouros-frigoríficos habilitados para a UE, podem até estar habilitadas, mas retomar exportações é uma outra coisa.

    É preciso que haja volume para carregar os containeres e não se deve esquecer que de cada boi de 500 kg o rendimento em cortes para a Europa será de 33 (3 cortes: filé, contrafilé e alcatra) a 78 kg (7 cortes: esses 3 mais 4 do coxão).

    Quantos bois terão que ser abatidos para uma venda de carne para a UE? Uma porção, não é? E aí acabam os bois de Minas, das 11 fazendas do RS, das 4 do MT e 2 de Goiás, ah! sim, como pude esquecer que tem 2 fazendas aprovadas no Espírito Santo, não é mesmo?Desculpem-me a ironia, mas ela não é minha, é da missão técnica européia.

    Portanto, o máximo que se pode dizer é que a aprovação das fazendas representa uma retomada das negociações. Isso é importante ou é um excesso de zelo da minha parte? Basta ler o comentário anterior ao meu para ver como as pessoas pegam ao pé da letra as informações do Beefpoint, mesmo que na matéria tenha um raciocínio lógico como esse do Dr. A. Camardelli: “agora o setor precisará fazer as contas para ver se vale a pena exportar”. Se fizerem as contas não exportarão.

    Terem aprovado essas fazendas é melhor do que nada, mas continua sendo uma ofensa o que fizeram e continuam fazendo ao Brasil. Chego a pensar que o Itamaraty está certo querendo cobrar explicações com muita firmeza, pelas vias diplomáticas internacionais, ou vamos todos usar bolinhas vermelhas no nariz.

    Penso que o sr. ministro ainda não compreendeu o que de fato está acontecendo.

    Abraços a todos

  6. Geraldo Benedito de Souza Almeida disse:

    Parabéns pela matéria.

    Acho que agora estamos na hora de organizar de uma vez por todas esse negócio de exportação, com políticas corretas e bom senso tanto do lado de pecuaristas e frigoríficos, e acima de tudo do governo, que deve se prontificar para ajudar e não atrapalhar os pecuaristas brasileiros, somente dessa forma o Brasil ocupará o lugar onde realmente deveria estar a muito tempo.

    Abraços

  7. Tadeu Mageste da Silva disse:

    É preciso que sejamos profissionais. O mercado não aceita amadorismo.

  8. Antonio Pereira Lima disse:

    Este retorno às compras, já estava previsto no comentário que fiz na matéria do Giro do Boi do dia 15/02/08: “Jan/08:Vendas a UE aumentam, recorde nas exportações.”

    Estão voltando a comprar porque terminou o estoque feito em janeiro, que foi vendido pelo triplo do preço. Abram os olhos, estão chegando com sede de compra, e o melhor, com “cascáio”no bolso.

  9. Antonio Cesar Brasil disse:

    Agora o governo federal esta abrindo os olhos, está vendo que somente os estados conseguem fazer o rastreamento.

    A estrutura de estados como Minas Gerais tem mais condições de fazer uma rastreabilidade bem organizada e eficiente.

  10. Pedro Frota Ribeiro disse:

    Se depender da Coordenação do SISBOV, vamos acabar vendendo nossos bois prá o carrinho de espetinho da esquina.

    Profissionalismo Ministério da Agricultura!

  11. Homilton Narcizo da silva disse:

    Veja aonde chegamos, UE lavas as mãos, libera a exportação para l106 propriedades brasileiras, que nem de longe vão dar conta de suprir as nescessidades dos europeus, ficam de bem com o Brasil, e nós ficamos como gatos ensacados, sem saber o que fazer e que rumos tomar, porque segundo as exigencias da UE, frigorifico não poderá abater gado rastreado e o não rastreado, pergunta-se e agora sr. ministro como ficam os demais produtores que cumpriram quase todas as exigências da UE, porque são poucos e quase nenhum acho que conseguiu 100% das exigencias.

  12. Jean-Yves Carfantan disse:

    “Não temos interesse de exportar para a Europa”, disse um comentarista.

    Será mesmo?

    De duas coisas uma: ou todas as previsões que dizem respeito ao futuro do consumo em diversas regiões do mundo e ao futuro do comércio são falsas, e ai sim, pode ser que seja interessante substiruir o mercado europeu por outros destinos. Ou todas essas previsões devem ser levadas em consideração e ai dificilmente o Brasil poderá esquecer um mercado de 500 milhões de consumidores com alto poder aquisitivo.

    Discursos emocionais não resolvem nada. Precisamos mesmo é considerar os fatos.