Lendo o decreto do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e os esclarecimentos sobre como o processo de consulta à sociedade foi feito, sou induzido a chegar à seguinte conclusão: o agronegócio não interessa à sociedade e ao governo brasileiros, pelo menos sob a perspectiva de garantia de direitos humanos. Diria, portanto, que conceitualmente o PNDH-3 enterra o agronegócio e atesta seu óbito no Decreto 7.037, datado de 21 de dezembro de 2009.
Lendo o decreto do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e os esclarecimentos sobre como o processo de consulta à sociedade foi feito, sou induzido a chegar à seguinte conclusão: o agronegócio não interessa à sociedade e ao governo brasileiros, pelo menos sob a perspectiva de garantia de direitos humanos. Diria, portanto, que conceitualmente o PNDH-3 enterra o agronegócio e atesta seu óbito no Decreto 7.037, datado de 21 de dezembro de 2009.
Os argumentos para o funeral do agronegócio, extraídos do atestado de óbito: o agronegócio contribui para, potencialmente, violar o direito de pequenos e médios agricultores e populações tradicionais; seus componentes, as monoculturas da cana-de-açúcar, do eucalipto, da soja e a grande pecuária (não sabia que havia a pequena pecuária), fazem mal ao meio ambiente e à cultura dos povos e comunidades tradicionais. Ainda estou meio fora de prumo com o julgamento do agronegócio que é apresentado no PNDH-3.
Por mais que tente colocar-me no lugar das pessoas que participaram da elaboração do PNDH, tenho dificuldades em enxergar esse “agronegócio do mal” refletido no programa. Posso entender que exista uma corrente neste governo que acredite em outro modelo de produção agropecuária e florestal. Vá lá. Mas daí a afirmar que o agronegócio vai contra os interesses do Brasil em direitos humanos me parece algo fora de propósito e baseado numa hipótese heróica – ou seja, impossível de ser provada -, a de que a produção agropecuária não baseada no agronegócio (seja lá o que isso for) respeita os direitos humanos e o meio ambiente. Difícil de acreditar.
As manifestações passionais sobre o agronegócio que aparecem no PNDH não são fato isolado. A contestação do modelo que o Brasil seguiu na produção de alimentos, fibras, biocombustíveis e matérias-primas industriais de base agrícola e florestal tem se repetido em outros fóruns e ocasiões. O PNDH, a meu ver, foi o canal encontrado para tentar (espero que sem êxito) criar instituições que viabilizem a implantação de um novo modelo. Se, de fato, a sociedade brasileira fosse capaz de se imaginar com um modelo de produção agropecuária e florestal do tipo do da Índia, que é o que os contra-agronegócio, no fundo, defendem, ela barraria qualquer tentativa de enterrar o agronegócio como o conhecemos hoje.
O interessante é que o agronegócio nem sempre foi visto como vilão. É uma espécie de moda: daqui a algumas estações, muda a tendência de novo. Se o funeral do agronegócio foi em 2009, seu surgimento ocorreu em 1990, tudo registrado no livro Complexo Agroindustrial: o Agribusiness Brasileiro. Foi uma morte precoce, não? À época, os autores do livro nem poderiam imaginar que definir as cadeias produtivas de base agrícola e florestal como agronegócio produziria seu próprio calvário 20 anos depois. Deve haver alguma explicação no inconsciente coletivo dos “esclarecidos brasileiros”. Colocada a designação agronegócio, já se ganha a pecha de algo ruim, que a sociedade brasileira não merece.
A despeito da nossa memória curta, o agronegócio brasileiro já teve seus dias de glória. Há dez anos era ovacionado mundo afora. Ninguém conseguia entender como um agronegócio tão jovem pôde ter crescido tão rápido. Foi nessa época que um sem-número de estrangeiros passou a conhecer o Brasil mais de perto. Mas não era apenas fora do Brasil que havia essa admiração. Aqui dentro, também. Dizia-se que o agronegócio era responsável por gerar divisas para o balanço de pagamentos brasileiro. Reconhecia-se que o setor havia trazido desenvolvimento para o interior do País, financiando as atividades econômicas que permitiram o nascimento de diversas cidades. E se via o agronegócio como uma solução para parte dos problemas dos agricultores familiares, porque, por meio das cadeias agroindustriais organizadas, estes tinham acesso ao mercado.
Ao longo dos anos 2000 as coisas foram mudando. Ganharam força no governo as linhas de pensamento que acham que um modelo de produção agropecuária baseado em milhões de pequenos produtores seria ambiental e socialmente melhor. Eu não acredito nisso. Os resultados do Censo Agropecuário de 2006 ilustram bem a situação. Até para poder reafirmar as classificações de tipos de produtores definidas no passado, o censo de 2006 trouxe dados de agricultores familiares e assentados em separado. Na grande maioria dos produtos, o censo indica que a produtividade (quantidade de produto por unidade de área) dos agricultores assentados é menor que a da média dos agricultores familiares e comerciais. Isso indica que uma agricultura estruturada em pequenos agricultores pode até ser boa para segurar o homem no campo, mas não será boa para o consumidor urbano.
Os casos da China e da Índia, que têm um modelo de agricultura parecido com o ideal do grupo antiagronegócio, são ilustrativos. A pobreza no campo é muito maior que no Brasil, os problemas ambientais são muito mais profundos, porque os produtores utilizam tecnologias rudimentares de produção. O consumidor urbano tem problemas de segurança alimentar porque o setor agrícola produz menos do que o país consome. O governo é obrigado a gastar enormes quantidades de dinheiro subsidiando o produtor e o consumidor, perpetuando uma agricultura de baixa produtividade, e não consegue fazer políticas de renda no campo porque o contingente de pessoas vivendo na pobreza no meio rural é muito grande.
Cobrar as responsabilidades sociais e ambientais do agronegócio faz sentido. Carrear grande parte dos subsídios agrícolas para fortalecer os agricultores familiares, também. Criar instituições baseadas na hipótese de que o modelo de agronegócio é ruim para a sociedade brasileira é um erro. Já devíamos saber disso aqui, no Brasil.
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Nassar escreve muito bem, mais um show de virtuosismo com conteúdo.
Como dizia o filósofo Tom Jobim, o brasileiro odeia o brasileiro. Em nossa sociedade, o suceeso alheio é ofensa pessoal. Nelson Rodrigues foi na mesma linha: “o brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem”.
Caro André,
Parabéns pela clareza da análise, entretanto, o que precisa ser dito é que o”meio ambiente” é a nova arma utilizada por ideologias contrárias à propriedade privada e ao capital. Os líderes dessas ideologias estão usando-a para sabotar o “status quo” atual.
As armas tradicionais, dessas ideologias, perderam o efeito com a queda e o desmentido de seus ícones.
Novamente os pequenos e os menos favorecidos passam a ser “massa de manobra” e inocentes úteis no processo.
Já assisti este mesmo jogo, com os mesmos jogadores e outras, como eles mesmos dizem, “massas”
André, me permita alertá-lo, a máxima “em terra de cego quem tem um olho é rei” está errada, já fiz a devida correção há mais de 30 anos quando ainda era “filósofo aprendiz”.
A máxima correta é:
– “Em terra de cego, quem tem um olho é infeliz”.
Boa sorte na sua peregrinação por esta terra de cegos dirigida por pessoas mal intencionadas.
È preocupante a forma como este governo vem tratando o agronegócio e também
as investidas veladas contra a imprensa.Um provérbio caipira diz que gamba só
cheira gambá.Esta proximidade do nosso do nosso populista presidente com seus colegas autoritários da Venezuela e Bolivia,nos dá calafrios.Impressionante é que sua popularidade advém de uma economia de grande sucesso, descolado de seu governo que apredendeu conviver e sobreviver com todas as mazelas executivas.
Que os céus nos protejam!!!
Sr. André M. Nassar, parabéns pela clareza como dissertou sobre o assunto que nos tem trazido incertezas em nossos negócios.
Seria muito bom que pessoas no governo com força de decisão fossem sensibilizados e vissem com clareza o grande prejuizo que estes tecnocratas travestidos podem trazer de prejudicial para toda comunidade brasileira.
Um grande abraço, José Tadeu.
Está chegando a hora das eleicões,todos nós temos que trabalhar para eleger um parlamento com a real vocacão do Brasil,eleger um presidente da República que seja alinhado com a livre iniciativa e no mais fortalecer os pilares da democracia,que nesses tempos atuais estão sendo pisotiados,por estes indivídus com ideologias velhas e retrógadas,que parece ressonar na América Latina.
Como bem disse a senadora Kátia Abreu:”ideologias que foram enterradas sem nenhum pesar em outras partes do mundo”.
No brasil de hoje …. o fazendeiro não é produtor rural, mas b a n d i d o !!!!
No fim tudo se equilibra…Deixa o preco dos alimentos comecarem a aumentar para a populacao ou produtos comecarem a faltar na prateleira e vamos ver se o agronegocio profissional e tecnologicamente evoluido nao volta rapidinho a pauta do dia.
Parabens Sr. André.Felizes sao os paises da Africa que não tem o monstro do
Agronegocio.O povo tem os direito humanos respeitados, e nem precisa de
leis e decretos para regulamentar essa produção odiosa que existe no Brasil.
Eu acho que estou ficando louco,ou vivemos uma looucura coletiva.Haja estoque
de gardenal.
Parabéns ao autor do texto:
– Para esse grupo de pessoas, sim esse anti-agronegócio do Brasil, eu faço uso das palavras do Grande Roriz (Ex-Governador do DF) ele é criador de Nelore e Gir PO e indagaram ele o que teria a dizer as pessoas que o criticavam porque pagava altos preços em determinados animais, o mesmo disse eu não tenho culpa se essas pessoas não sabem o que realmente é um animal diferenciado.
– No caso do Agronegócio brasileiro é a mesma coisa, ele simplesmente é responsável por aproximadamente 30% do nosso produto interno bruto, ainda o nosso modelo de exploração é o que mais preserva, afinal aonde se encontra as maiores riquezas naturais?
abração a todos…
A faço apenas uma pequena ressalva: Se você quer levantar algum tipo de causa contra algo procureo conhecer bem antes, ou seja, venha ao MT, melhor ao nortão do MT e veras coisas que somente o agronegócio é capaz de o fazer, produzir em lugares praticamente inóspitos ao ser humano.
Muito bom o comentário de todos, mas devemos nos unir mais em torno dessas causas, devemos fortalecer nossos sindicatos e associações, e cobrar de nossos representantes uma maior e melhor postura diante de tais assuntos, e todos juntos ai sim pressionar as pessoas de direito, senão ficamos isoladamente discutindo e não chegaremos a lugar algum. Teremos eleições este ano, mas não devemos esquecer de que existem mais de 10 milhões de famílias que estão recebendo a esmola dos bolsas, e isto dará quantos votos ao governo?
É lamentável que a esquerda retrógrada ainda pense que ter sucesso, ter lucro e gerar divisas ao país sejam um pecado tão grave que precisem ser punidos todos aqueles que os praticam. E como já se disse aqui, é muito fácil iludir com retórica a massa de manobras. Pobre povo brasileiro, que futuro nos espera.
No Brasil de tantas disparidades, não dá´para discortar e nem concordar integralmente com tudo. O artigo acima citado é muito bom, mais tambem erra em não analizar a generosidade de varios governos com pseudo agricultores e pecuaristas, não se deve dar o pao, mais ensinar a pescar, serve para pequenos e grandes. Não se pode negar que existe muito maluco ocupando função de destaque nos governo e capaz de promover e desenvolver projetos anti economicos, só politicamente correto em sua cabeça animal.
Boa tarde.
concordo plenamente com os comentários dos leitores quanto ao brilhantismo do texto. parabens ao autor.
contudo, faço uma critica a nós produtores que, mesmo sabendo das maselas que estes governantes propiciam ao país, esperaremos de braços cruzados eles tomarem o poder novamente. fazer textos e comentários em blogs e sites aligados ao ruralismo não resolve nada. se traduz em mero chororo!!
att. fábio.