Por Olavo Alves1
O episódio da tentativa de boicote à carne brasileira, que aconteceu há pouco mais de dois anos e foi liderado pelo Canadá trouxe alguns transtornos e muitos benefícios para a pecuária brasileira. Subtraindo-se toda a pressão que transbordou sobre os ombros dos produtores rurais, o fato histórico teve um aspecto altamente didático. Palavras como “boi verde” e “carne saudável” passaram a integrar o vocabulário dos brasileiros, e muitos aprenderam os seus significados. Outros descobriram ainda que o País, além de produzir uma das carnes mais saudáveis do mundo, possui também pecuaristas totalmente comprometidos e esforçados em atender a demanda do mercado interno e externo.
No cenário internacional, o que se impôs ao mundo com o surgimento da doença conhecida como “vaca louca” foi, entre outras, a exigência do certificado de origem dos animais. Recentemente, em nosso País, a Secretaria de Defesa Animal – órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – estipulou um prazo para que os exportadores de carnes, que atendem ao Mercado Europeu, se adaptem a esta realidade e passem a cumprir as normas estabelecidas pelo Sistema de Identificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). A SDA fixou até o dia 30 deste mês, que os animais a serem abatidos e que tenham sua carne destinada à União Européia podem receber a marcação praticamente momentos antes de embarcar para o frigorífico, sendo exigido o mínimo de apenas um dia de cadastro no Sisbov. A partir de 1o de outubro, os animais encaminhados ao abate vão necessitar de certificação com 15 dias de antecedência.
No Brasil, calcula-se a existência de um rebanho de 800 mil animais já devidamente certificados. Cerca de quatro das seis empresas credenciadas pelo Governo Federal afirmam que já estão realizando a certificação de animais para abate. Mas, ainda não se sabe claramente a quantidade de bovinos nesta situação. Especula-se, porém, que o número seja insuficiente para atender a demanda de exportação exigida pela União Européia – que responde por 50% da aquisição do produto brasileiro e, em 2001, gerou divisas de US$ 1 bilhão.
Com a falta de dados seguros, cresce no País o sentimento de que a cadeia produtiva precisa de mais tempo para adaptar-se às exigências internacionais. Falo de todos os setores da pecuária nacional, porque a questão da certificação animal não é apenas um problema dos criadores, como alguns diretores de frigoríficos afirmaram publicamente. A exportação de carne brasileira é uma questão vital para a economia nacional, e a rastreabilidade é um processo importante para a pecuária do país.
Os produtores rurais já demonstraram inúmeras vezes a sua colaboração e provaram que fizeram sua parte estes anos todos, investindo em qualidade, alimentando os rebanhos de forma natural e uma série de medidas para ganhar mais produtividade. E aqui vale a pena ressaltar também o trabalho dos técnicos e pesquisadores do setor agropecuário que têm colaborado para o sucesso das medidas adotadas.
Neste momento, em que uma nova realidade comercial se impõe no cenário mundial para corrigir falhas no programa de sanidade animal, não é justo que o ônus destas mudanças recaia apenas sobre os produtores rurais.
A população brasileira já percebeu que a agroindústria também pode ajudar e muito no desenvolvimento do país, no seu fortalecimento econômico, na geração de empregos e na busca do superávit comercial. E o caminho para alcançar estes objetivos passa pela união de esforços. Ninguém pode se eximir do processo. O Brasil tem tudo para se tornar o maior exportador mundial de carne. E este é um desafio de todos.
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1Olavo Alves é jornalista responsável pelo Departamento de Comunicação da Associação Brasileira dos Criadores de Limousin