Mercados Futuros – 25/03/08
25 de março de 2008
Previsões do USDA para produção e exportação de carne bovina
27 de março de 2008

Um pouquinho de protecionismo não faz mal a ninguém

Analisando o atual cenário de embargo da UE à carne brasileira, encontramos um paradoxo interessante. Diversos canais de comunicação divulgam informações sobre o embargo, e os órgãos e instituições se posicionam a respeito sendo que o mundo e a própria sociedade brasileira tomam suas conclusões. Gostaria de propor uma discussão sobre as repercussões positivas e negativas ao nosso mercado da exportação do nosso boi vivo, pois inegavelmente estamos permitindo que outros países agreguem valor em nosso boi.

Analisando o atual cenário de embargo da UE à carne brasileira, encontramos um paradoxo interessante. Diversos canais de comunicação divulgam informações sobre o embargo, e os órgãos e instituições se posicionam a respeito sendo que o mundo e a própria sociedade brasileira tomam suas conclusões.

Como assíduo freqüentador deste site, verifiquei por diversas fontes que o embargo ocorreu em relação a nossa carne in natura. Diante disto, e não querendo me posicionar em relação à causa efeito do embargo (protecionismo; sanitário; Sisbov) gostaria de ressaltar algo que não foi analisado, que é o fato que a nossa carne “industrializada” estar política e sanitariamente apta a ser comercializada neste mercado.

Imaginando-se na “pele” do pecuarista da UE podemos estimar o que deve estar ocorrendo com seu mercado. Parece-me que inicialmente ele via o “Brazilian Beef” na gôndola dos canais de comercialização (supermercados, boutique), e agora está se deparando com nossa carne nos currais de frigoríficos, ou melhor, em containeres refrigerados, e pela lógica da oferta x procura, aumentou a oferta de carne em seu mercado, e lá como aqui todos sabemos os efeitos deste processo.

Deixando de lado este fato, gostaria de propor uma discussão sobre as repercussões positivas e negativas ao nosso mercado da exportação do nosso boi vivo, pois inegavelmente estamos permitindo que outros países agreguem valor em nosso boi.

Em uma análise pontual esta forma de comercialização está trazendo divisas à nossa cadeia, mas em longo prazo pode se tornar negativa, pois não estaremos fomentando a cadeia como um todo.

De que forma pode analisar isto, só imaginando que:

Quantas mãos não seguraram a faca para talhar as diversas peças de nossos bois.
Imaginem quantas mãos não acondicionaram as peças em suas embalagens.
Imaginem quantas mãos não produziram as embalagens.
Imaginem quantas mãos não transportaram as peças nas embalagens ao canal de venda.
Imaginem quantas mãos não organizaram as peças nas embalagens na prateleira do canal de venda mercado interno, ou nos containeres para exportação. Neste aspecto vale ressaltar a capacidade volumétrica de exportação da carcaça em relação a carne industrializada.
Imaginem quantas mãos não foram melhor remuneradas por comercializarem apenas a carcaça.

Podemos assim estimar quantas mãos ficaram desempregadas ou subutilizadas, chegando até as mãos dos funcionários da empresa de palito de dente e das facas.

Então um pouquinho de protecionismo não faz mal a ninguém, pois acredito que assim fomentaremos ainda mais a cadeia pecuária, podendo assim chegar mais rápido ao dia onde a cadeia negociará suas decisões e estratégias como uma indústria automobilística, e sobre olhar social, a diminuição da inflamação dos grandes centros urbanos no país, haja vista que estas “mãos desocupadas e subutilizadas” geralmente não residem nos mesmos.

Como já ressaltado, aguardo mais discussões.

0 Comments

  1. Janete Zerwes disse:

    Caro Josmar,

    Só mesmo alguém como você, que detém o conhecimento técnico e ao mesmo tempo está diretamente em contato com a realidade do produtor, é capaz de “enxergar” com clareza os diferentes aspectos que influem o desenvolvimento econômico, como é o caso do valor agregado às matérias primas que produzimos.

    Sou Coordenadora em Tecnologia e Pecuária da Comissão de Produtoras Rurais da Federação da Agricultura de Mato Grosso, com a função específica de apoiar o desenvolvimento tecnológico para Agricultura e Pecuária em favorecimento do setor produtivo.

    Não sou técnica, sou produtora, mas procuro incansavelmente a atualização do conhecimento, a facilitação da adaptação de novas tecnologias às nossas condições sócio/econômicas e ambientais.

    Nas buscas de soluções principalmente para a Pecuária, me deparo com a visão fragmentada adotada pelos Órgãos responsáveis pela ordenação, comercialização e defesa dos interesses do setor junto aos mercados internacionais, como está evidente agora nessa nova “crise” que enfrentamos com a UE.

    Crises como essas comprometem o desenvolvimento econômico do País e ao mesmo tempo descapitalizam o produtor.

    Temos um exemplo claro disso aqui em Mato Grosso:

    No período que vai de 2003 á 2006, exportávamos 85% da carne industrializada, hoje, exportamos 15%.

    Esse fenômeno de inversão se iniciou durante o embargo das exportações para a UE em decorrência do foco de aftosa observado em MS em 2004. O aumento do estoque interno de carne e a conseqüente redução de escala frigorífica para o pecuarista, favoreceram a formação dos cartéis por parte dos frigoríficos (que passaram a pagar o que queriam pela @ do boi vivo), isso obrigou o governo de MT incentivar via redução de ICMS à saída de gado em pé para minimizar os prejuízos. Essa crise, teve altos custos para o pecuarista, exportamos para outros estados e países vizinhos, no caso a Bolívia, grande parte de nossos estoques de reposição a preços abaixo do custo de produção, precisávamos cobrir os prejuízos com a venda de bois destinados ao abate.

    Diante das “crises” subseqüentes que vem ocorrendo, fica claro que o Brasil carece de políticas públicas que priorizem a organização estrutural do Estado, para que dê suporte ao crescimento econômico mantido pela iniciativa privada, sem interrupções no processo de desenvolvimento.

    Precisamos lembrar que o desenvolvimento econômico/social/ambiental se conduz em uma escala ascendente e contínua do extrativismo para agricultura, da agricultura para a indústria, da indústria para a criação técnica/científico-industrial.

    É necessário entender que o setor produtivo primário situa-se na base da escala do desenvolvimento econômico , e, cada vez que sofre prejuízos, esses prejuízos não ficam restritos ao agricultor ou ao pecuarista que se descapitalizam, mas as conseqüências afetam o desenvolvimento social e se refletem sobre as condições ambientais, atingindo a sociedade como um todo.

  2. Josmar Almeida Junior disse:

    Prezada Janete Zerwes

    Obrigado pelos fatos levantados.

    É um prazer imenso saber que no estado de Mato Grosso, possuímos lideranças efetivas, como demosntrado em suas argumentações.

    Obrigado.

    Abraços.

  3. Daniel Barbosa Strang disse:

    Meu amigo Josmar,

    o problema da nossa pecuária é, com toda certeza, a falta de profissionalismo da imensa maioria dos nossos produtores rurais. Que se fizessem como a minoria que lança mão da prestação de serviços de profissionais de excelência como você, o Brasil realmente seria imbátivel em produção de qualidade em alta escala. Nossa liderança no comércio internacional de carnes, acredito, se deve às nossas extensões territoriais, nosso clima e pastagens, sem falar do nosso Nelore.

    Avaliando pela ótica dos pecuaristas (e suas tomadas de decisões) concluo que: ainda não percebemos que cada um de nós, da cadeia produtiva da carne, somos uma carta de um castelo de cartas. O pecuarista atua no singular (induvidualismo), ele não pensa que é plural.

    Sabemos que ações governamentais pouco influi no mercado, com raras excessões como no caso da aftosa (que infuiu negativamente no mercado). É, portanto, nossas ações (dos produtores) que influenciam nas variações de preços. Pois com o abate excessivo de fêmeas nos últimos anos resultou nos atuais patamares dos preços dos bezerros.

    Devemos refletir quais as consequências econômicas no futuro dessas ações individuais do presente.

    Um grande abraço. E vamos em frente!!!