Atacado – 26/12/08
26 de dezembro de 2008
Efeitos do manejo de desmama sobre o desempenho e o retorno econômico de bovinos confinados
30 de dezembro de 2008

Uma nova pecuária-esclarecimentos

Venho esclarecer alguns aspectos dos comentários recebidos sobre meu artigo "Uma Nova Pecuária". Em nenhum momento eu disse que não havia tecnologia para recuperação de pastagens degradadas. Conheço-as e as pratiquei ao longo de minha vida profissional. Devemos considerar que nos últimos 30 anos a pecuária de corte se expandiu em MT+PA no ritmo de 730.000 ha/ano de novas pastagens, na maior parte em terras férteis, com exuberante vegetação das gramíneas nos primeiros anos, decorrente de muito húmus e muito resíduo vegetal, reforçados por valiosa adubação de cinzas. Quem já viu de perto sabe do que se trata. Oxalá pudéssemos recuperar pastagens a custos similares aos da formação de pastos novos em terra fértil. Infelizmente, não é o que acontece. Vão fazer falta.

Prezados amigos, venho esclarecer alguns aspectos dos comentários recebidos sobre meu artigo “Uma Nova Pecuária”.

Em nenhum momento eu disse que não havia tecnologia para recuperação de pastagens degradadas. Conheço-as e as pratiquei ao longo de minha vida profissional, tendo a oportunidade de promover inéditos experimentos de adubação em terras arenosas de campo nativo de Brotas/SP, com duração de 5 anos, demonstrando a viabilidade de produzir 400 kg de PV/ha/ano com 100 kg/N/ha, nas condições locais.

Minha tese de que nossa pecuária de corte acha-se em contração apóia-se em 4 fatores básicos:

1º – Os extensos pastos formados em terra fértil de mata alta estão em declínio acompanhando a natural perda da fertilidade inicial do solo. Menos fertilidade, menos capacidade de suporte, menor número de vacas e menor número de bezerros a se transformarem em bois para abate.

2º – A velocidade do declínio é muito maior do que o ritmo previsível de recuperação, lembrando que até recentemente esse declínio era compensado por novas áreas de pastagens entrando em uso. Além desse declínio, tem havido e deve continuar a substituição de pastos de baixo suporte por culturas, como já vem acontecendo.

3º – Os custos de recuperação das pastagens são muito mais altos do que formar uma pastagem nova em terra fértil, em termos de capacidade de suporte por ha. Minhas avaliações dizem que somente os pastos de inverno formados nas áreas de cultura, entre colheita e novo semeio, apresentam custos comparáveis aos das pastagens novas. Todavia esse novo sistema é de lenta evolução.

4º – As novas restrições sobre desmatamento estão a indicar que teremos menos pastos novos a entrar no sistema produtivo.

A análise dessa conjuntura deve considerar que nos últimos 30 anos a pecuária de corte se expandiu em MT+PA no ritmo de 730.000 ha/ano de novas pastagens, na maior parte em terras férteis, com exuberante vegetação das gramíneas nos primeiros anos, decorrente de muito húmus e muito resíduo vegetal, reforçados por valiosa adubação de cinzas. Quem já viu de perto sabe do que se trata.

Oxalá pudéssemos recuperar pastagens a custos similares aos da formação de pastos novos em terra fértil. Infelizmente, não é o que acontece. Vão fazer falta.

0 Comments

  1. Estêvão Domingos de Oliveira disse:

    Fantástico.

    Brilhante artigo.

  2. Antônio Américo Castanheira disse:

    Não havia lido avaliação tão clara e suscinta para questão tão polêmica.

    Parabéns ao doutor Fernando pela visao aguda e precisa do nosso cenario. Quem trabalha com pecuaria de corte, especialmente na Amazonia, e portanto ve de perto como foi muito bem dito, sabe do que se trata. O campo brasileiro deve muito ao trabalho do doutor Fernando ao longo de decadas.

  3. Jose Pires de Lima Junior disse:

    Parabéns, Dr. Fernando Penteado Cardoso, pelas sábias palavras.

  4. José Alberto de Ávila Pires disse:

    Dr. Fernando Penteado,

    Aqui em Minas Gerais estamos trabalhando para que a ILP (Integração Lavoura-Pecuária) possa garantir uma recuperação das nossas pastagens degradadas de cerrado, e que a lavoura cubra os custos desta recuperação de pastagens.

    Este nosso esforço está concentrado nos pecuaristas que fazem a cria, produzindo leite e bezerro(a) para recria/engorda e abate, a sua grande maioria de pequenos criadores.

    Do total das 22,5 milhoes de cabeças de bovinos em Minas Gerais, 7,5 milhões são vacas e 2,5 milhôes novilhas com 24-30 meses. Ou seja, cerca de 10 milhões de femêas bovinas adultas, em idade de reprodução, distribuidas em 330 mil propriedades, uma média de 30 femeas adultas por propriedade, com um suporte médio de 1 femea adulta/ha.

    Com o uso da ILP acreditamos poder chegar a 2 femeas adultas/ha, ou seja, somente em Minas Gerais ter cerca de 20 milhoes de femêas em idade de reprodução, produzindo 16 milhôes de bezerros(as ) para recria, engorda e abate. Atualmente, com 7,5 milhoes de vacas produzimos 4,5 milhoes de crias/ano.

    Precisamos continuar insistindo na divulgação da ILP, mesmo concordando com o senhor: “todavia esse novo sistema é de lenta evolução”. Mas este é o caminho, e não podemos desistir.

    Entretanto, falta apoio para uma evolução maior da ILP, especialmente no que se refere às linhas de crédito do BNDES, específicas para ILP. Quase nada tem sido aplicado. Uma vergonha. E ninguem cobra por isto.

    Veja a diferença com relação aos recursos do PRONAF, em que o próprio Presidente Lula exige a aplicação integral dos recursos disponibilizados.

    Como uma liderança nacional, o senhor poderia levantar esta bandeira: tornar de fato a ILP uma proposta de se ocupar definitivamente os quase 50 milhoes de pastagens degradadas do cerrado brasileiro, com a proposta de ILP ( Integração Lavoura-Pecuaria). Aqui em Minas Gerais, pode contar conosco.

    Atenciosamente,

    José Alberto de Ávila Pires (Técnico da EMATER/MG, e Coordenador do Comitê Estadual de Integração Lavoura-Pecuária e Silvicultura)

  5. Hildebrando de Campos Bicudo disse:

    Dr Fernando,

    Nas décadas de 70 e 80, participei deste processo de aberturas de fazendas em terras de mata fertil que o senhor comenta, assisti e acompanhei o apogeu e o declinio e por ter participado concordo plenamente com suas observações.

    Um abraço

  6. Miguel Barbar disse:

    Eu queria agradecer ao sr. Fernando por fazer voz ao que tantos pecuaristas de todos os tamanhos tem observado e sentido e não sei se por medo de serem considerados incapazes ou superados não tem dado amparo a estas ponderações.

    É bem possível que uma ou mais cartas sejam aqui colocadas citando casos particulares ou pontuais, que a meu ver perdem um pouco o significado exemplificador dada a dimensão territorial do país, suas diversidades de climas, solo, vegetação e manejo. Além do que sempre que uma tecnologia passa a incorporar um determinado manejo ela invariavelmente tem seu preço majorado o que dificulta a entrada de novos participantes (veja o adubo cada vez se consome mais e ele sempre sobe, ora pelo dolar, ora pelo frete, ora pela incerteza econômica, etc).

    Portanto concordo plenamente com o Sr. Fernado .

  7. celso de almeida gaudencio disse:

    Prezado Fernando tua análise está correta, não existe pasto degradado o que existe é solo com limitação química sob pastagem com baixa produção forrageira.

    Se alguma coisa está degradando é o solo, a chamada “pastagem degradada” ainda está protegendo de alguma maneira o solo. Pastagem sob solo sem limitação química o bom manejo resolve, mas se há limitação química somente a baixa lotação e a baixa produção de carne desacelera a degradação do solo.

    Os métodos de recuperação ou perenização das pastagens consistem no controle de plantas invasoras, adubação e sistema protelado. Já renovação de pastagem depende da recomposição química do solo em qualquer situação (solo novo ou não) e do bom manejo do pasto.

  8. Paulo Cesar Bassan Goncalves disse:

    Finalmente uma visão mais abrangente da pecuária de corte brasileira, que vai além do mercado. O perfil produtivo vai mudar sem a menor dúvida.

    Excelente visão Professor Fernando.

  9. Paulo Fleury da Silva e Souza Neto disse:

    Entendo e concordo com o respeitável autor do artigo.

    Um dos principais motivos da degradação das pastagens é a falta ou mesmo a ausência de manejo adequado. A maioria dos produtores (sem generalizar), confia este ítem (manejo das pastagens), ao seu peão, gerente ou capataz, que quase sempre são desprovidos de conhecimentos e principalmente, bom senso e boa vontade.

    Fazendeiros que têm negócios nas cidades (empresas), e que empregam pesssoas habilitadas tecnicamente, para desempenhá-los, e quando o assunto é a sua fazenda, vê-se o inverso. Chega na fazenda, pergunta ao funcionário como estão as coisas, anda de carro rapidamente na fazenda e confia o destino de seu patrimônio (terras e rebanho) a uma peça importante do processo, mas que muito provavelmete não está capacitado com os requisitos necessários a uma tarefa essencial na condução dos destinos da propriedade rural. Toma as decisões a partir de relatos dos funcionários. Diagnóstico equivocado, decisões idem, resultados idem. Esse retrato é muito comum aqui no Estado de Goiás.

  10. paulo rodrigues de lima disse:

    Minha propriedade é em Coxim/MS. O que eu posso acrescentar aos comentários, refere-se ao regime de chuvas da região, que prejudica muita a vegetação durante os meses de junho a novembro (seca), diminuindo muito a capacidade da unidade animal/ha.

    Comparando inversamente, com o inverno dos paises de muito frio. Nos paises frios aprenderam que tem que fazer reserva de comida para o inverno, e nós geralmente não o fazemos para a seca, gerando o boi sanfona.

    Tenho usado a cana e proteinados, o que aconselho para esta fase tanto para manter o gado em bom estado de nutrição, quanto para conservar as passtagens.

  11. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Prezados amigos Estevão de Oliveira, Antonio Castanheira, José Lima Jr., José Pires, Campos bicudo, Miguel Barbar, Celso Gaudêncio, George Ramos, Paulo Gonçalves, Paulo de Lima e Paulo Souza Neto:

    Agradeço a vocês todos a amáveis palavras com que me distinguiram pelo meu artigo “Uma Nova Pecuária com ILP” e respectivo “Esclarecimento”, publicados no BeefPoint.

    Volto a lembrar que meus comentários se limitam a uma análise da eventual falta de bezerros, e consequentemente de bois para abate, devido à provável escassez de forragem pela falta de entrada de novas pastagens formadas em mata alta, como aconteceu nos últimos 30 anos.

    Também analisei que somente a forragem produzida entre duas culturas de verão poderia proporcionar custos reduzidos. A proibição de se aproveitar terras altas, bem drenadas e de boa topografia na Amazônia representa um desperdício de recursos naturais preciosos que poucos países dispõem, sejam áreas onde tem calor, luz e chuva para serem plantados.

    Alguns tópicos das suas cartas podem ser debatidos. Nas condições do NO do Paraná projeto da Fundação Agrisus demonstrou a possibilidade de produzir 2.000 litros/ha de leite somente a pasto entre duas culturas de soja.

    A perda da fertilidade inicial da floresta representa, sem dúvida, uma limitação química que somente os fertilizantes podem compensar, quando a equação “1kg N=2,2kg PV” for favorável.

    Manejo de pasto começa ajustando a lotação à capacidade de sustento: não há milagres. A grande dificuldade é reduzir o rebanho quando a fertilidade decai e a família depende do número de bezerros desmamados.

    O problema da menor produção de forragem durante a seca se atenua com sobra de pasto no outono. A B.decumbens é imbatível para essa reserva.

    Mencionaram a culpa do proprietário ausente. A meu ver o que importa antes de mais nada é uma boa orientação para capitalizar o fantástico binômio Nelore/Braquiária em nosso clima.

    Muito obrigado por se interessarem.

    Cordial abraço.

    Fernando Cardoso