O Serviço Agrícola Externo (FAS- Foreign Agriculture Service), do USDA, realizou projeções para o comércio mundial de carnes, através de um estudo que considera fatores como produção, consumo, importação e exportação dos principais agentes neste mercado.
No último estudo, publicado em novembro de 2005, o USDA já considerava restrições ao comércio relativas à EEB e à febre aftosa. A suspensão de seis meses das exportações de carne bovina anunciada pelo governo argentino foi a última mudança importante, que deve ter impacto significativo no comércio mundial de carne bovina, e que foi levado em consideração nas novas estimativas.
Na publicação de novembro, a projeção estimava um crescimento de 3% nas exportações mundiais. A nova projeção estima que irá haver uma redução de 2%, principalmente porque a queda prevista nas exportações da Argentina não será compensada pelo crescimento dos EUA e Nova Zelândia.
Gráfico 1: Projeções para o mercado internacional de carne bovina
Produção
De acordo com os dados do relatório, a produção total dos principais países fornecedores será de 53,59 milhões de toneladas equivalente-carcaça, crescimento de 3% em relação a 2005. Isso é explicado pela expectativa de crescimento econômico, que deve encorajar investimentos no setor e o aumento da demanda em 2006.
O maior produtor mundial de carne bovina, segundo as estimativas, continua sendo os EUA. Espera-se que em 2006 o país produza 11,89 milhões de toneladas equivalente-carcaça, um crescimento de 5% em relação a 2005, “devido ao crescimento do rebanho e aumento do peso médio de abate”, de acordo com o relatório.
A projeção atual é de que a produção no Brasil seja de 8,81 milhões de toneladas em equivalente-carcaça, um crescimento de 2,54%. A UE deve produzir 7,82 milhões de toneladas em equivalente-carcaça, crescimento menor que 1%.
O país que deverá ter o maior incremento na produção de carne bovina é a China. O crescimento esperado em relação a 2005 é de 6,1%, chegando a 7,58 milhões de toneladas em equivalente-carcaça. A Nova Zelândia, cuja produção deve chegar a 735 mil toneladas em equivalente-carcaça, terá crescimento de 4%.
Os países que devem experimentar uma redução na produção de carne bovina serão a Argentina, cuja produção deverá diminuir 3% devido às restrições às exportações (3,1 milhões de toneladas em equivalente-carcaça), a Rússia, cuja produção deve ser reduzida para 1,47 milhão de toneladas em equivalente-carcaça (queda de 4%), quando outros investimentos na agricultura são mais lucrativos, e o Canadá, com produção esperada de 1,45 milhão, queda de 1,69%.
Gráfico 2: Produção de carne bovina dos principais países
Consumo
O consumo mundial de carne bovina deve experimentar um crescimento de 2,9% em 2006, chegando a 51,74 milhões de toneladas equivalente-carcaça. Com crescimento esperado de 3,1%, os EUA devem continuar a ser o país com o maior consumo mundial, previsto em 13,06 milhões de toneladas para 2006.
As previsões para o consumo de carne bovina no Brasil, indicam um crescimento de 3,9%, chegando a 7,04 milhões de toneladas. O consumo per capita estimado será de 37,4 kg/pessoa, crescimento de 2,7% em relação a 2005.
Para a China, é previsto um crescimento de 6,1%, chegando a 7,48 milhões de toneladas. O consumo per capita está estimado em apenas 5,7 kg/pessoa para 2006. No entanto, a população elevada na China a torna um país importante no consumo mundial de carnes. A UE deverá manter o consumo praticamente estável, em 8 milhões de toneladas. O consumo per capita deve se manter em 17,9 kg/pessoa.
Na Argentina, espera-se um crescimento de 6,5% no consumo em relação a 2005, chegando 2,6 milhões de toneladas. Nesse país, o consumo per capita projetado é de 65,2 kg/pessoa em 2006.
Gráfico 3: Consumo de carne bovina dos principais países
Exportações
O total estimado para os principais fornecedores mundiais é de 6,89 milhões de toneladas, queda de 2% em relação aos dados referentes a 2005.
Apesar da queda de 4% esperada nas exportações, o Brasil continua liderando a lista, com previsão de 1,8 milhão de toneladas. Segundo dados da Secex/MDIC, no primeiro bimestre as exportações de carne bovina cresceram 10,12% em volume, o que pode ser explicado pelo bom desempenho das vendas para a Rússia. Em carne bovina in natura, a Rússia comprou 47.180 toneladas (líquidas) no primeiro bimestre. No entanto, é importante observar que os embarques para a Rússia foram proibidos desde o fim de fevereiro.
A Austrália, com queda esperada de 1%, deverá exportar 1,4 milhão e a Índia (inclui búfalos) 675 mil toneladas.
Em novembro, a previsão sobre as exportações da Argentina em 2006 eram positivas, devido ao crescimento nas exportações para o Chile e Rússia, com as restrições às exportações brasileiras. Com a suspensão das exportações anunciadas pelo governo, a nova projeção (que era de 720 mil toneladas) caiu para 500 mil toneladas em 2006. A queda em relação a 2005 é de 34%. A análise considera a manutenção das exportações dentro da cota Hilton para a UE e em acordos já firmados. Além disso, considera que as exportações serão retomadas após os 6 meses de suspensão.
O maior crescimento foi previsto para a Índia (9%), que deverá exportar 675 mil toneladas. Um crescimento na produção da Nova Zelândia irá permitir ao país exportar para países da Ásia fechados aos EUA e Canadá. A previsão é que as exportações deste país cheguem a 625 mil toneladas, crescimento de 6%.
Gráfico 4: Exportações de carne bovina dos principais países
Importações
O total de importações dos principais compradores mundiais deverá se manter praticamente estável em 5 milhões de toneladas em 2006.
O maior importador mundial, segundo as estimativas, deverá continuar sendo os EUA (1,583 milhão de toneladas em 2006), apesar da queda esperada de 3%. O segundo da lista deverá ser o Japão, com 737 mil toneladas, crescimento esperado de 5,3%. A Rússia importará 710 mil toneladas, crescimento de 4,4%.
A UE terá uma queda esperada de 4%, chegando a 600 mil toneladas. Projeções da FAO, entretanto, indicam que em 2006, as importações do bloco devem crescer 2% em 2006.
Gráfico 5: Importações de carne bovina dos principais países
Brasil
Segundo o relatório, “os exportadores brasileiros continuarão focando as vendas para pequenos mercados que ainda se mantêm abertos ao produto brasileiro, e continuarão transferindo as exportações para estados sem restrições devido à febre aftosa, enquanto alguns países, como Rússia e UE adotaram o critério de regionalização para os embargos do produto brasileiro. Entretanto, será improvável haver uma expansão nas áreas livres de aftosa, permitindo um crescimento nas exportações”.
Otavio Negrelli, Equipe BeefPoint