Uso de anticorpos na nutrição de bovinos de corte

Antibióticos e ionóforos são constantemente utilizados como aditivos em dietas de bovinos confinados, com o intuito de modificar a população microbiana ruminal, visando melhorar a eficiência na fermentação ruminal. Porém, há crescente tendência de substituição desses antibióticos por produtos naturais devido à proibição desses aditivos em alguns mercados e, a suspeita de desenvolvimento de microorganismos resistentes à antibióticos de uso humano.

Antibióticos e ionóforos são constantemente utilizados como aditivos em dietas de bovinos confinados, com o intuito de modificar a população microbiana ruminal, visando melhorar a eficiência na fermentação ruminal. Porém, há crescente tendência de substituição desses antibióticos por produtos naturais devido à proibição desses aditivos em alguns mercados e, a suspeita de desenvolvimento de microorganismos resistentes à antibióticos de uso humano.

A utilização de extratos vegetais ou administração de microorganismos via dieta têm mostrado resultados inconsistentes. Diante desses fatos, recentes pesquisas têm desprendido mais atenção à imunização dos animais contra determinados microorganismos. Esse processo pode ser realizado de forma ativa, através do fornecimento de anticorpos produzidos em outros animais, como galinhas por exemplo, ou de forma indireta, através da vacinação dos animais contra determinados microorganismos, sendo produzido anticorpos no organismo do animal.

Shu et al. (1999) promoveram a vacinação de bovinos contra Streptococcus bovis e Lactobacillus, resultando na queda da quantidade desses microorganismos e da concentração de lactato no líquido rumnal. A utilização de anticorpos produzidos em aves é possível, devido ao fato das imunoglobulinas produzidas dessa forma serem resistentes à temperatura, digestão ácida e proteólise.

Di Lorenzo et al. (2006), avaliaram o uso de anticorpos contra Streptococcus bovis e Fusarium necrophorum para diminuição desses microorganismos na flora ruminal e a queda do pH ruminal devido a essas mudanças. O Streptococcus bovis e Fusarium necrophorum são principais responsáveis pela queda do pH ruminal e abcessos hepáticos, respectivamente. Os animais avaliados receberam dietas com altas proporções de concentrado, as quais levam a forte queda do pH ruminal e possíveis quadros de acidose (Tabela 1).

Tabela 1. Composição da dieta dos animais testados


A dieta foi fornecida uma vez ao dia às 09:00, com os anticorpos (tratamento) ou água destilada (controle) sendo pulverizados sobre 120 g de casca de soja, que depois eram misturados à dieta total.

A utilização de anticorpos anti Streptococcus bovis, foi eficiente na redução do número de bactérias desse tipo (Tabela 2), apresentado resposta cúbica em relação ao aumento das dosagens, sendo observado queda no número de bactérias com 1x e 3x a dose aplicada, não havendo resposta para a aplicação de 2x. Esses resultados são difíceis de serem explicados, sendo que com 1x e 3x a dosagem houve redução de 80 e 75%, respectivamente (Tabela 3). Uma hipótese seria a aglutinação dos anticorpos, fazendo com que esses perdessem a capacidade de ligação à célula alvo. A dosagem inicial (1x) de 2,5ml/cabeça/dia do preparado de anticorpos de Streptococcus bovis, durante 29 dias promoveu uma redução de 67% no total dessas bactérias no líquido ruminal.

Tabela 2. Efeitos de diferentes dosagens do anticorpo anti Streptococcus bovis em relação ao número de organismos dessa população e sobre o pH ruminal.


Tabela 3. Efeitos de diferentes dosagens do anticorpo anti Streptococcus bovis em relação ao número de organismos dessa população.


A utilização de anticorpos contra Streptococcus bovis não apresentou efeito sobre a população de Fusarium necrophorum, comprovando a especificidade do preparado de anticorpos. Quando foi utilizado o preparado com anticorpos específicos contra o Fusarium necrophorum, foi observada queda no número de organismos dessa bactéria, no entanto, sem alteração nos valores de pH (tabela 4).

Tabela 4. Efeitos de diferentes dosagens de anticorpos anti Fusarium necrophorum sobre o número de organismos dessa população e pH ruminal.


A utilização de preparados de anticorpos na nutrição de bovinos com intuito de melhorar a eficiência da fermentação ruminal apresenta boa especificidade e controle em relação aos diferentes microorganismos, bem como controle do pH ruminal podendo substituir aditivos utilizados na prevenção de acidoses metabólicas.

Referências bibliográficas

DI LORENZO, N.; DIEZ-GONZALEZ, F.; DICOSTANZO, A. Effects of feeding polyclonal antibody preparations on ruminal bacterial populations and ruminal pH of steers fed high grain diets. J. anim. Sci., v. 84, p. 2178-2185, 2006.

SHU, Q.H.S.; GILL, D.W.; HENNESSY, R.A.; LENG, S.H.B.; ROWE, J.B. Immunization against lactic acidosis in cattle. Res. Vet. Sci., v. 67, p. 65-71, 1999.

0 Comments

  1. Abel Ribeiro dos Santos Filho disse:

    Parabéns Dr. André pela matéria, pois hoje a tendência de dietas de alto concentrado exige um grande conhecimento e métodos que evite a acidose ruminal e através dessa matéria se tem um boa noção do que pode ser usado contra a queda o ph ruminal.

  2. Gildo Cruz disse:

    O senhor foi muito feliz em abordar esse tema, já que é uma constante os prejuízos causados por acidoses em confinamentos brasileiros. Mas quanto ao custo desse produto? e a disponibilidade do mesmo?

    Resposta do autor:

    Prezado Gildo,

    Ainda não existem produtos comercias com anticorpos a serem utilizados na nutrição de ruminantes no Brasil. É uma área em desenvolvimento, com resultados de pesquisas novíssimos.

    Forte abraço.

    André Alves de Souza

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