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Uso de biodigestores pode gerar economia de R$ 1,5 bilhão para pequenos pecuaristas

A disseminação do uso de biodigestores no setor agropecuário pode gerar uma economia de R$ 1,45 bilhão por ano aos produtores rurais brasileiros. A estimativa, feita pela unidade de Agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), leva em consideração a instalação dos equipamentos e a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos em metade das pequenas e médias propriedades do país, cerca de 504 mil imóveis, onde há criação de 10 a 100 cabeças de gado.

A economia para o bolso dos pequenos e médios pecuaristas viria da substituição do uso do gás liquefeito de petróleo (GLP) pelo biogás gerado na própria fazenda. Os produtores ainda podem ter ganhos com o digestato, um subproduto valioso gerado no processo de biodigestão que pode ser utilizado como matéria-prima para biofertilizantes.

Além disso, a estatal calculou que a tecnologia ajudaria a evitar a emissão de 595 mil toneladas de CO2 equivalente por ano na atmosfera. O custo estimado para a instalação dos biodigestores é de R$ 10 mil por propriedade. A Embrapa tem uma técnica experimental para construção dos equipamentos e procura parceiros para codesenvolver a tecnologia.

Para chegar aos dados, a estatal realizou um estudo na propriedade de Benedito Bento Gonçalves da Cruz, onde ele cria 60 cabeças de vacas leiteiras. Após três meses, a produção de biogás foi estabilizada, a família do produtor adotou o biogás na cozinha e deixou de utilizar o GLP.

Os pesquisadores estimaram que seriam necessários 30 quilos de dejetos dos animais por dia para produzir dois metros cúbicos de biogás. Essa produção diária resultaria no acumulado de 60 metros cúbicos por mês. Nas contas da Embrapa, esse volume equivale aos 26 quilos de GLP presentes em dois botijões.

Nesse cenário, cada uma das 504 mil propriedades economizaria R$ 2,88 mil por ano com a substituição de dois botijões de GLP por biogás.

A rotina do produtor não mudou muito durante a experiência. Ele apenas adaptou o modo de lavar o curral, trabalho que já realizava todos os dias. Agora, os dejetos dos animais são coletados sem o uso de sabão ou outros produtos químicos, para preservar as bactérias que vão fazer a digestão do material e gerar o biogás.

“Só vi vantagens, além de economizar no botijão de gás, ainda produzo o adubo [digestato] para jogar nas plantas”, relata o pecuarista. O produto pode ser utilizado, por exemplo, na agricultura orgânica. A estatal ressalta, porém, que ele não é recomendado para uso direto em hortaliças.

A Embrapa Agroenergia ainda vai instalar mais dois biodigestores experimentais na propriedade até outubro de 2024. “Até lá, pretendemos ter o protótipo validado. Assim, estamos abertos a parcerias com a iniciativa privada interessada em codesenvolver o biodigestor”, diz a pesquisadora Itania Pinheiro Soares, que coordena o projeto.

Para instalar o biodigestor, a Embrapa faz adaptações em peças convencionais, como caixas d´água e algumas conexões. A pesquisadora ressalta que elas poderiam ser substituídas por estruturas já fabricadas para essa finalidade, o que facilitaria o trabalho e reduziria problemas operacionais.

Os pesquisadores utilizaram a RenovaCalc, ferramenta desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente que calcula a intensidade de carbono equivalente emitida por biocombustíveis. A emissão do biogás é um pouco menor que a do GLP. São 83,11 gramas de CO2 equivalente para cada megajoule contra 86,7 gramas pelo combustível fóssil. O impacto mais relevante, portanto, viria de uma adoção em massa da tecnologia.

Rosana Guiducci, uma das autoras da pesquisa, destaca a necessidade de políticas públicas para incentivar a adoção dos biodigestores por pequenos produtores do país. “Além do subsídio à aquisição do equipamento, seria fundamental que essas políticas envolvessem a assistência técnica intensiva no início da produção do biogás”, aponta.

Fonte: Globo Rural.

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