Por Rafael Camargo do Amaral1, Gustavo Rezende Siqueira2, Flávio Dutra de Resende2 e Ricardo Dias Signoretti 2
Diversos fatores afetam o desempenho dos animais mantidos em regime de confinamento, sendo o manejo da alimentação no cocho um agravante que poderá influenciar nas taxas de ganho de peso diário e na eficiência alimentar dos animais.
A terminologia “manejo de cocho” refere-se à técnica de manejo alimentar utilizada em confinamentos com o intuito de se reduzir variações no consumo, mediante o planejamento e controle sistemático do fornecimento da dieta aos animais. De maneira geral, observa-se nos confinamentos comerciais que o fornecimento ininterrupto da dieta é realizado com o objetivo de se maximizar o consumo. Também é de conhecimento geral, que as taxas de ganho de peso diário apresentam elevadas correlações com a ingestão de MS, embora, animais que recebem ração à vontade ou em excesso geralmente desenvolvem comportamento “vicioso”, sendo caracterizado por elevados e baixos consumos.
Dessa forma, pode-se concluir que o manejo alimentar correto não é aquele que oferta o máximo e sim àquele que oferta o necessário para o ótimo desempenho animal. A oferta contínua e abundante de alimento pode até fazer com que animais consumam mais inicialmente, mas eles possivelmente perderão o apetite e não irão consumir bem nos dois ou três dias seguintes.
De forma a minimizar os problemas decorrentes de falhas de manejo da alimentação, torna-se necessário o monitoramento constante dos animais no confinamento. Nesse sentido, se os cochos estão completamente vazios e os animais apresentam-se tranqüilos e descansando, significa que a quantidade de ração fornecida está provavelmente dimensionada ao sistema.
No entanto, se no período que antecede o fornecimento, os cochos encontram-se vazios a ponto de serem visíveis às marcas de saliva, e os animais aparentam estar estressados e famintos, a quantidade de ração provavelmente precisa ser aumentada.
O “ideal” para quando o vagão forrageiro ou caminhão tratador chegar, é que 25% dos animais do curral estejam no cocho alinhados e esperando o trato, que 50% estejam em pé e já se encaminhando para o cocho e que 25% estejam se levantando (Horton, 1990).
Cana-de-açúcar fresca e silagem
O manejo da alimentação em sistemas de produção que fazem uso da cana-de-açúcar como fonte de alimento volumoso, deve ser coerente com as características e limitações desse tipo de alimento. Observa-se que a cana-de-açúcar sofre rápido aquecimento no cocho, principalmente quando associada à presença de carboidratos altamente fermentescíveis, como milho moído, farelo de soja, polpa cítrica, embora, a mesma seja rica em sacarose, fornecendo hidratos de carbono em teores suficientemente elevados para manutenção do processo oxidativo pelos microrganismos aeróbios. Dentre os microrganismos aeróbios, as leveduras, os fungos filamentosos e as enterobactérias são os principais responsáveis pelo início do processo de deterioração.
Diante dessa condição, recomenda-se o fracionamento da ração total em 3 a 5 vezes ao longo do dia e, de preferência em intervalos semelhantes. É importante lembrar, no entanto, que os animais apresentam pico de consumo da dieta logo no amanhecer do dia (6:00 h), logo após o almoço (13:00 h) e ao entardecer (17:00 h), sendo tal condição de fundamental importância para o planejamento do fornecimento da dieta, uma vez que a quantidade disponibilizada para os animais logo após o almoço, não será a mesma que aquela fornecida ao entardecer, uma vez que os animais terão um intervalo entre o final da tarde e início da manhã de 13 horas.
O processo de obtenção da silagem de cana-de-açúcar implica na fermentação por leveduras epífitas, que convertem a sacarose a CO2, etanol e água. Essa conversão acarreta redução drástica no valor nutritivo e elevadas perdas durante a estocagem do material e fornecimento aos animais.
Apesar de potencialmente aproveitável como substrato energético para os ruminantes, através da conversão a acetato no rúmen, grande parte do etanol produzido nas silagens é perdido por volatilização, durante a estocagem nos silos, retirada e fornecimento da silagem no cocho.
A silagem de cana-de-açúcar pode ser uma estratégia recomendada para alimentação de ruminantes, porém a utilização de aditivos químicos ou bacterianos é de suma importância para o valor alimentício deste alimento. Recomenda-se, também, para este tipo de volumoso, o mesmo manejo adotado para a cana-de-açúcar fresca.
Silagem de milho e sorgo
O milho e o sorgo são as culturas mais utilizadas no processo de produção de silagens, e grandes áreas são cultivadas em diferentes partes do mundo. No entanto, essas silagens apresentam baixa estabilidade aeróbia quando da abertura dos silos, sendo relevante o perfeito manejo no desabastecimento do silo.
A estabilidade aeróbia das silagens é determinada pelas alterações microbiológicas, químicas e físicas que ocorrem após a abertura. A instabilidade será mais intensa quanto melhor for a qualidade da silagem, em função dos maiores teores de carboidratos solúveis e de ácido lático residuais.
Os principais substratos utilizados pelos microrganismos envolvidos no pós-abertura são o ácido lático, o etanol e os açúcares solúveis, resultando em elevação do pH, redução na digestibilidade e no conteúdo de energia. Um comparativo no aquecimento de diferentes tipos de forrageiras ensiladas após a abertura dos silos pode ser exemplificado pelo trabalho de Lucio (2004), onde verificou que silagens mais nobres (milho e sorgo) foram mais instáveis quando expostas ao ar em relação à silagem de capim (Figura 1).
De acordo com Pitt et al. (1991) a temperatura, a concentração de carboidratos solúveis, a população de fungos e a concentração de ácidos orgânicos em interação com o pH são os parâmetros que mais afetam a estabilidade das silagens. O aumento do pH após a exposição da silagem ao ar, queda no teor de carboidratos solúveis e baixa concentração de ácido lático são importantes indicadores da deterioração da massa ensilada.
Em temperaturas inferiores a 10 ºC e superior a 40 ºC, a silagem poderá apresentar maior estabilidade pela inibição no crescimento de fungos. Todavia, as temperaturas intermediárias favorecem uma alta taxa de crescimento dos fungos.
Silagens, que na abertura do silo, apresentam contagem de 106 UFC (Unidade formadora de colônia) de leveduras/grama de silagem, podem atingir em dois a três dias 109 UFC/grama, sendo consideradas de baixa estabilidade (Pitt et al., 1991).
No cocho as silagens de milho e sorgo apresentam comportamento semelhante, sendo agravado ainda o quadro, em decorrência da presença de outras substâncias fermentescíveis, advindas dos alimentos concentrados utilizados. Como forma de solucionar essa questão, recomenda-se o fracionamento da dieta 3 a 6 vezes ao dia. Com isso, haverá a formação de uma pequena “lâmina” dos alimentos no cocho, sendo insuficiente, por questões cronológicas, para que ocorram atuação e degradação dos nutrientes pelos microrganismos aeróbios.
Silagem de capim
Diversas propriedades rurais têm produzido silagens de capim de elevada qualidade devido aos cuidados tomados durante todo o processo de ensilagem (corte, colheita, picagem, compactação, vedação e uso de aditivos), porém, com alta freqüência, têm ocorrido erros no manejo da retirada do material dos silos, provocando grandes perdas de matéria seca durante o fornecimento da silagem aos animais.
Além disso, outro fator que merece destaque refere-se à elevada taxa de desidratação desses materiais no cocho, que associada ao elevado tamanho de partícula (fibra longa) e presença de concentrações significativas de ácido acético na silagem, acabam por limitar o consumo da dieta total e, consequentemente o desempenho animal.
Vale ressaltar ainda, que o elevado tamanho de partícula, juntamente com a formação de “placas de silagem” são fatores limitantes para efetiva mistura com os alimentos concentrados, condição essa que favorece a seleção por parte do animal, além de muitas vezes repercutir em quadros de acidose metabólica e laminite, pelo consumo excessivo desses alimentos.
Com vista a contornar essa problemática, recomenda-se que o manejo da retirada da silagem do silo seja realizado de forma lenta e com equipamentos que promovam a ruptura das placas de silagem. Uma opção que algumas propriedades têm adotado é o sistema de “concha de garfos” (Figura 2), que permite a retirada e revolvimento do material antes de ser colocado no vagão ou caminhão triturador.
Quanto ao fornecimento da dieta, recomenda-se o fracionamento de 4 a 8 vezes ao longo do dia, com objetivo de minimizar os problemas supracitados e de forma a potencializar o consumo e, consequentemente o desempenho dos animais.
Literatura consultada
HORTON, J.M, 1990. Bunk management, feed delivery and water trough management. In: Cattle Feeding: A Guide to Management, Albin and Thompson, Ed., Trafton Printing, Inc, Amarillo, TX.
LUCIO, A. Estabilidade aeróbia de silagens de capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu), milho (Zea mays L.) e sorgo (Sorgum bicolor L.). Trabalho de Graduação. FCAV/UNESP, 2004, 36p.
PITT, R.E.; MUCK, R.E.; PICKERING, N.B. A model of aerobic fungal growth in silage. 2. Aerobic estability. Grass and Forage Science, v.46, p.301-312, 1991.
RESENDE, F.D.; SIGNORETTI, R.D.; COAN, R.M.; SIQUEIRA, G.R. Terminação de bovinos de corte com ênfase na utilização de volumosos conservados. In: Volumosos na Produção de Ruminantes. Jaboticabal, 2005. Anais… Jaboticabal,SP: FUNEP, 2005. p.83-106.